Pe. Adilson José Colombi

Professor e doutor em Filosofia - [email protected]

Ciência e fé

Pe. Adilson José Colombi

Professor e doutor em Filosofia - [email protected]

Ciência e fé

Pe. Adilson José Colombi

São duas palavras que encobrem duas realidades que acompanham a vida da pessoa individualmente e, também, a sociedade como um todo. Claro, que esse acompanhamento se deu de modo diferente, ao longo dos vários momentos históricos por que passou a vida da Humanidade. Quando escrevo “Ciência” e “Fé” não estou expressando o mesmo conteúdo nocional único ao longo de toda a História da Humanidade. A palavra “fé”, por exemplo, contém toda uma significação que vai de uma crença extremamente rudimentar até a um conteúdo teologicamente bem elaborado, com sua pluralidade de expressões e vivências dessa fé. Do mesmo modo, o termo “Ciência” vai de um precário arrazoado experiencial até a sofisticação atual de todo o conteúdo e aparato científicos que servem o ser humano atual.

Sempre houve atritos entre essas realidades. Verdade que com mais ou menos conflitividade, segundo os momentos históricos e também as diferentes Culturas. Assim aconteceu no Ocidente, na Era Moderna. Este período histórico da Modernidade, sempre é bom frisar, é o momento histórico que tem seu início no final da Idade Média (final do século XV), com o aparecimento do Renascimento ou Renascença e o Humanismo, com suas novas ideias a respeito do mundo, de Deus, do ser humano, da crença (fé), do modo de conhecer do ser humano…

Outro elemento fundamental é o descobrimento do Método Científico pelos pesquisadores Galileu Galilei (1564-1624) e Francis Bacon (1661-1626). Nascia, com eles, a Ciência Moderna, com uma metodologia completamente nova, com um potencial criativo e inventivo que é a base de toda a Ciência e Tecnologia posteriores.

Na Modernidade, no Ocidente, acentuou-se profundamente o conflito entre Ciência e Fé. Sobretudo com as consequências das novas ideias renascentistas- humanistas mais as ideias iluministas-racionalistas. Cientistas, intelectuais e cientistas sociais, imbuídos dessas ideias da Modernidade, travaram um combate sistemático a tudo que estivesse relacionado à Religião (à fé), principalmente a fé cristã. Preconizavam uma laicização e uma secularização de toda a Cultura. Os adeptos do Iluminismo, do Racionalismo e, um pouco mais tarde, do Positivismo, chegaram, em sua maioria, a vaticinar o fim gradativo de toda manifestação religiosa. A Ciência, pouco a pouco, com seu avanço indefinido (otimismo iluminista-positivista) iria resolver todos os problemas humanos, inclusive o da morte, dispensando qualquer auxílio de qualquer crença, além da Ciência.

A Ciência seria a grande libertadora da Humanidade de todas as amarras da Natureza e, sobretudo, das Crenças. O ser humano seria, então, um ser inteiramente livre e capaz de traçar, com segurança, seu destino definitivamente sobre a terra, sem qualquer auxílio de seres ditos superiores ou sobrenaturais. Os socialistas-materialistas, Engels e K. Marx chegaram a afirmar que era só questão de tempo para tudo isso ocorrer. A História seria a grande coveira da Religião. A História inexoravelmente seria construída pelo ser humano, por meio de uma Sociedade e uma Cultura, inteiramente, laicizadas e securalizadas. Portanto, sem absolutamente nada de referência à religião ou fé. Seguindo essa esteira histórica, Nietzsche, no final do século XIX, profetiza a “morte de Deus”. A própria Sociedade e a Cultura foram as autoras desse deicídio.

Dessa forma, segundo essa linha de pensamento e ação, a Ciência teria vencido definitivamente a Religião (fé). A Ciência teria realizado a sua missão de acabar de vez com toda crença em seres sobrenaturais. E assim, a profecia de K. Marx de a História ser a coveira da Religião teria se realizado. Grande vitória do materialismo e ateísmo. Sabemos, porém, hoje que não foi bem assim. Mas, esse discurso é para outra ocasião. Veremos.

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