Cinco décadas de histórias: clientes se despedem do restaurante Fuzon no Centro de Brusque

Estabelecimento encerra oficialmente as atividades nesta sexta-feira

Cinco décadas de histórias: clientes se despedem do restaurante Fuzon no Centro de Brusque

Estabelecimento encerra oficialmente as atividades nesta sexta-feira

A sexta-feira, 16, foi de despedida para os tradicionais clientes de um dos mais antigos restaurantes de Brusque: o Fuzon Buffet e Lanches. O estabelecimento, localizado no Centro, encerra as atividades após mais de 50 anos da inauguração.

O último dia foi de tristeza e nostalgia para um grupo de clientes assíduos. Eles se reuniam praticamente todas as manhãs para o café. Entre eles, está o aposentado Valmor José Vechi, conhecido como Juca, de 64 anos, que frequenta o Fuzon desde a adolescência.

Ele recorda que começou a ir ao restaurante na época que o estabelecimento se mudou para onde ficava o Bar do Calinho, quando o novo prédio era construído. “São muitos anos. Do nosso grupo, já morreu a grande maioria. São os meus pais e outros senhores que teriam de 90 para 100 anos, que começaram a ter esse convívio toda a manhã para tomar café”, conta.

Juca detalha que ele e o irmão começaram a ir no Fuzon por influência do pai. Do grupo original, ele ressalta a presença de James Thomas Crews, de 92 anos, morador do Centro, que ainda vai todos os dias.

“Eles foram passando e a gente foi ficando, e também vieram outros. Praticamente, toda a manhã viemos aqui. Às vezes alguns falham, às vezes tem dois e às vezes tem dez. Somos o faturamento da Lari [Larissa Fuzon]”, conta, e todos do grupo começam a rir.

“A sensação é de tristeza, mas como tudo, a vida segue. Temos que procurar outro lugar para nos reunirmos, para continuar o bate papo. O pai da Lari [Nilo Fuzon] gostava disso aqui, porque ele gostava de conversar com a gente, era um amigo nosso”, comenta.

Johanna Deucher, com o pai Celso Deucher | Foto: Luiz Antonello/O Município

Entre eles, também está o historiador Celso Deucher, de 55 anos, que começou a frequentar o Fuzon em 1984. Ele, que também costumava ir quase todos os dias, aponta que marca presença no espaço por causa da filha Johanna Deucher, 10, que adorava o bolinho de carne, e os papos com a turma.

O historiador explica que o Fuzon também foi palco de grandes decisões no município. Durante as manhãs e tardes, figuras importantes de Brusque se reuniam para tomar café e fazer negócios na cidade. “Nessa mesa, sentados aqui, já se negociaram prédios inteiros, já decidiram que ruas seriam abertas na cidade, tem todo um histórico em cima disso”, conta.

“Eu acho que aos poucos a gente vai perdendo, sem fazer juízo de valor se isso é bom ou ruim para o futuro. Mas eu acho que é ruim, porque se perde um pouco da identidade da cidade. Por outro lado, talvez abram algo melhor por aqui e se modernize”, completa.

Uma segunda casa

Tiago, Mauricio e Lucas Vechi | Foto: Luiz Antonello/O Município

Celso comenta que o Fuzon foi um espaço que aconchegou os antigos moradores, pois os donos conheciam cada um dos integrantes do fiel grupo das manhãs.

“Eles sabiam que tipo de doce nós gostaríamos. Eu chego aqui e a Lari sabe como é o meu café. Em outros lugares me perguntam o que vou querer, aqui não, eles sabem o que eu quero, igual aos outros. É um lugar onde nos sentíamos em casa, porque quem é dono do comércio conhece cada um de nós. O cafezinho daqui tem gosto de história”, continua.

Para ele, a sensação é de tristeza, pois vê que o Fuzon é um dos últimos espaços de Brusque onde é possível encontrar figuras presentes da história do município. “O pai do Juca vinha, sentava, pedia uma Coca-Cola e contava a história de moradores antigos. Ele reconstituía a cidade na década de 30. Esses caras desapareceram, foram embora, e perguntei pra eles sobre quem vai contar as nossas histórias daqui 50 anos. Talvez não tenha”, reflete.

Nesta sexta, Mauricio Vechi, 58, e os dois filhos, Tiago, 31, e Lucas, 27, também se despediam do restaurante. Ele detalha que a família começou a frequentar o Fuzon por volta de 1988, quando se mudaram para o Centro.

“Os filhos vinham no nosso colo. Os dois, desde criança, eram os pupilos da Kula que dava chocolatinho e balinha para eles. Eles seriam os sucessores nossos da mesa, mas vamos ter que procurar outro lugar”, diz.

História em família

Luiz Antonello/O Município

O Bar e Café Fuzon foi aberto em 9 de março de 1972 pelo casal Nilo Fuzon e Lourdete Mafra, mais conhecida como Kula. Desde então, o restaurante marca presença no mesmo espaço na esquina entre a avenida Cônsul Carlos Renaux e a rua Alberto Torres.

Após a morte de um dos seus fundadores, Nilo Fuzon, em 2015, o negócio da família passou a ser administrado pela filha Larissa, 44, e seu marido Rodineli, 43. O filho Ricardo Fuzon trabalhou diretamente no estabelecimento até 2007 e nos últimos anos ajudava a irmã na parte administrativa.

Mas, antes mesmo da morte precoce do pai aos 66 anos, o restaurante já contava com a participação de todos os membros da família. Na quinta, 15, um encerramento com a participação dos funcionários e familiares foi feito no local.

Amor pelos clientes

Rodineli Martins, Larissa Fuzon, Dilma Anjos dos Santos e Evelin Mendes da Silva | Luiz Antonello/O Município

A sensação da despedida também foi sentida por quem estava atrás do balcão. Em um momento, Larissa entrega uma cartela da Trimania para um cliente, que havia deixado cair no chão quando esteve no Fuzon em outro momento.

“Aqui é assim, é família e é amor, um ajudando e cuidando do outro. Não importava se uma pessoa pedia para ir ao banheiro, um copo de água, era sempre com carinho e amor. Aprendi isso com a minha mãe e meu pai, o amor ao cliente”, relata, emocionada.

Entretanto, segundo ela, não há planos de reabertura no futuro. Larissa explica que o foco é cuidar da saúde, da filha e da família. “Foi um ano que, aos poucos, fomos conversando a cada mês sobre fechar. Foi algo que fomos aprendendo a perder, a saber lidar com esse luto. É perder de novo, mas ciclo foi concluído”, continua.

Além disso, Larissa homenageia as duas funcionárias do local, Evelin Mendes da Silva, 27 e Dilma Anjos Santos, 44. “Elas vestiram a camisa comigo e ficam com a gente até o final. É muito importante ter uma equipe e gostaria de registrar a importância delas pra gente, sem elas a gente não conseguiria”, diz.

“Somos uma família. Se despedir no último dia é muito triste”, comenta Evelin, que trabalhava há cinco anos no Fuzon. ”É complicado falar, a gente vai para casa só dormir. Nosso tempo era todo aqui. Vai fechar e nessa história prometi que não sairia antes de acontecer. Vai ser muito triste, mas vamos ver por aí, vou sempre fazer um cafezinho lá em casa para chamar o pessoal. O Fuzon fecha, mas a família continua”, finaliza Dilma, após seis anos de trabalho no estabelecimento.

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