Ciretran de Brusque aplica prova adaptada para surdos pela primeira vez

Elivelton Morineli é surdo e contou com uma prova adaptada à linguagem de sinais

Ciretran de Brusque aplica prova adaptada para surdos pela primeira vez

Elivelton Morineli é surdo e contou com uma prova adaptada à linguagem de sinais

O jovem guabirubense Elivelton Morineli foi o primeiro a realizar uma prova adaptada para surdos na Circunscrição Regional de Trânsito (Ciretran) de Brusque. A prova foi realizada no fim do ano passado e foi considerada uma vitória pela Associação de Surdos de Brusque (Asbru).

A intérprete de Libras, Rosana Gomes Jacinto, acompanhou o jovem durante a prova e, afirma que desta forma, a pessoa se sente mais confiante para realizar o teste. “Eu fiquei junto com ele para auxiliá-lo caso ele não soubesse alguns sinais de Libras, mas no fim nem precisou”, conta.

Assim que terminou de fazer as aulas teóricas na autoescola, Morineli foi encaminhado para a prova na Ciretran. A autoescola informou da necessidade de um acompanhamento especial e, então, foi enviada a prova adaptada para ele.

A prova consiste em um vídeo gravado por uma intérprete de libras com as perguntas selecionadas pelo Detran. “Ele inseriu o número do seu processo no computador e teve acesso à prova. Ele assistia ao vídeo com as perguntas feitas em libras e também tinha a opção de perguntas formuladas em português, numa linguagem bem objetiva”, conta a intérprete.

Assim como os candidatos ouvintes, ele teve um tempo determinado para resolver as questões da prova. O resultado é divulgado na hora. “Gostei como foi a prova, apesar de a Libras usada no vídeo ser um pouco diferente da que eu conheço. Isso atrapalhou um pouco minha concentração porque fiquei pensando nos sinais e acabava perdendo o contexto”, destaca o jovem.

Com a experiência, ele incentiva que outros surdos busquem a carteira de habilitação, já que é possível fazer a prova adaptada. “Se muitos surdos forem fazer a carteira de habilitação, acho que todo o sistema pode ser aperfeiçoado”.

Antes de existir a possibilidade de fazer a prova adaptada, os surdos tinham muita dificuldade em conseguir tirar a carteira de habilitação. “Antes, a prova era feita junto com os outros candidatos e com a intérprete que fazia as perguntas para que o surdo assinalasse as respostas, mas muitas vezes, esse processo não era confiável, porque os intérpretes acabavam ajudando os surdos com expressão facial e os outros candidatos tinham muita desconfiança”.

Rosana destaca que com a prova adaptada, o processo é muito mais confiável. “Agora ficou mais simples para o candidato surdo. A prova é feita na linguagem que ele conhece”.

Outro ponto que a Asbru comemora é a questão da obrigatoriedade da intérprete na autoescola. “Em outubro saiu uma resolução do Contran estipulando que as autoescolas são obrigadas a disponibilizar intérprete”, destaca Rosana.

Elivelton foi o primeiro surdo da região a fazer a prova adaptada
Elivelton foi o primeiro surdo da região a fazer a prova adaptada

“Antes era muito difícil. O surdo que ia tirar carteira de motorista não tinha intérprete e tinha que pagar dois valores, o da carteira e da intérprete”, diz o presidente da Asbru, Rafael Mafra.

No caso de Elivelton, a intérprete foi disponibilizada pela autoescola. “Depois que minha mãe ficou sabendo que é proibido cobrar intérprete ela exigiu que disponibilizassem, mas infelizmente não consegui entender muito o que ela traduzia durante as aulas”.

Dificuldades no trânsito

Além dos problemas para tirar a habilitação, os surdos enfrentam também algumas dificuldades no trânsito. Mafra afirma que é difícil o surdo ser identificado por policiais e agentes de trânsito. Na carteira de habilitação, por exemplo, vem descrito apenas a letra “B” para os deficientes auditivos. “Um problema que enfrentamos é que somos obrigados a usar o aparelho auditivo enquanto dirigimos, mas isso não adianta para quem tem perca total de audição e muitas vezes somos multados por causa disso. Os agentes de trânsito e policiais militares não entendem a linguagem de sinais, e temos que ficar fazendo mímica para nos comunicar. Isso é constrangedor”, diz.

Para amenizar esses problemas, a Asbru está se mobilizando para tentar com que agentes de trânsito e policiais participem de capacitação para dar mais acessibilidade a essas pessoas. “Se um ou dois policiais se capacitarem e fizerem curso de Libras já nos ajudaria muito, daria mais acessibilidade para nós”.

Curso de Libras

O Sesi de Brusque está com inscrições abertas para o curso de Libras que será oferecido na instituição neste ano. O curso é aberto para surdos, familiares, profissionais do comércio, bancos, saúde, segurança, educação e também para os que buscam enriquecimento curricular.
Mais informações 3354-1862.¶

Colabore com o município
Envie sua sugestão de pauta, informação ou denúncia para Redação colabore-municipio
Artigo anterior
Próximo artigo