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Ciro critica governo Jonas Paegle: “Projeto eleito não está sendo posto em prática”

Ex-prefeito acusa prefeitura de priorizar "arranjos políticos" e sugere administração "mais enérgica"

Ciro Roza (PSB), padrinho político de Jonas Paegle (PSB) e Ari Vequi (PMDB), adota um tom crítico em relação ao governo de Brusque. Prefeito por três vezes, ele diz que falta ação mais enérgica e critica “arranjos políticos” para conseguir a maioria na Câmara de Vereadores.

Ciro recebeu O Município em sua residência, no São Luiz, para uma entrevista exclusiva, na qual comentou sobre o seu relacionamento com Paegle e avaliou os primeiros oito meses de governo.

O ex-prefeito chegou a fazer parte do primeiro escalão oficialmente, até 10 de fevereiro, como chefe de gabinete. Ele pediu exoneração logo após uma decisão da Justiça Federal de Brusque, que determinou o afastamento dele da administração.

“Aliados foram preteridos por causa de arranjos políticos”

Ciro não fala abertamente que está rachado com o atual governo, mas adota um tom crítico. “Na verdade, durante toda a campanha, nós, o prefeito, o vice e eu avalizando, tínhamos um projeto para a cidade, que o eleitor apostou ao tomar conhecimento e respaldou com o voto”, afirma.

O ex-prefeito diz que em momento algum existiu um compromisso de Paegle ou de Vequi em aceitá-lo no governo após eleitos. “Eles não tinham compromisso comigo, eu que tinha com eles. Para serem candidatos, eles me botaram em primeiro lugar. Eles aceitariam [concorrer] se eu, com minha experiência política, estivesse junto”.

O ex-chefe de gabinete poderia voltar ao governo legalmente, mas não o faz. Ciro deu o apoio político para a eleição da chapa PSB e PMDB e saiu da administração logo no início, segundo informações de bastidores, por embates com pessoas próximas ao prefeito.

Segundo ele, logo na composição do governo surgiram situações constrangedoras. “Aí vem a tal da ciumeira, porque uma coisa é ser prefeito, outra é ajudar”, diz.

“Brusque está quase fechando um ano de administração, e tinha pressa de obras e de medidas para serem tomadas. Aqueles que idealizaram a campanha e que estavam junto para dar uma grande demonstração de administração voltada ao interesse da sociedade foram preteridos por causa desses arranjos políticos”, completa.

Ciro conta que quando entrou no governo tinha o papel de também dar sustentação política ao governo, mas a falta de ação, segundo ele, prejudicou. “Fui para tratar das questões políticas também. Medidas que eram para ser tomadas de pronto, não foram. Então, eu acho como está não está bom, mas há tempo para repensar, para ajustar. É isso que precisa”.

 

“Prefeitura é loteada por apoio de vereadores”

Segundo ele, o erro do atual governo começou na hora de compor o primeiro escalão. “A eleição terminou e fizeram uma composição, depois veio uma preocupação muito grande no sentido de ter a maioria política, o que para mim foi um grande erro, fazendo o que o PT fez. Começaram a lotear os cargos da prefeitura com pessoas que vinham para o governo, mas nem sabiam o que iam fazer”, declara.

Recentemente, o governo começou a negociar a entrada do PP na base governista. Para Ciro, é uma mostra do caminho que a administração tomou. “Agora tem essa conversa com o PP, não sei quantos cargos. O que vão fazer essas pessoas? Nada”.

Ciro foi prefeito de Brusque entre 1989 e 1992 e entre 2001 e 2008. Para ele, ter uma base governista não é algo fundamental. “Já fui prefeito entre 1989 e 1992 e não tinha a maioria na Câmara, mas eu tinha que dar uma resposta para o eleitor, para a cidade. A gente conseguiu pôr em prática e a cidade mudou bastante”.

“Essa preocupação é que sinto com o governo hoje, fazendo esses arranjos e preterindo aqueles que estavam juntos e avalizaram a eleição em cima de um projeto, que não está sendo posto em prática. A preocupação hoje é um arranjo para ter a maioria na Câmara e pensar nas eleições do ano que vem. Quem perde com isso é o município. Há tempo para uma reflexão”, diz.

Ciro afirma que é preciso priorizar as ações no dia a dia e minimizar a questão partidária. “Eles têm de acabar de dar prioridade para a questão da maioria na Câmara. É o que fez o PT a nível nacional, com o mensalão. Me lembro do Paulo Eccel na última eleição contra ele, faltando uns dias ele levou o PDT, sem fazer nada, deu 12 ou 14 cargos”.

O ex-chefe de gabinete levanta dúvidas dos reais motivos para as alianças partidárias e dá recado indireto ao governo. “Pessoas que estavam junto com as outras candidaturas, que votaram contra, que pediram voto contra, hoje estão mandando na prefeitura. Esses partidos que vão para a prefeitura estão olhando para as próximas eleições”.

“Prefeito e vice devem tomar as decisões”

Ciro diz que a administração municipal está atônita e não tomou ações importantes que ele julga serem necessárias. O ex-chefe de gabinete afirma que obras importantes e medidas que precisavam ser tomadas no começo do ano foram postergadas.

Ele também critica a criação do Comitê Gestor, anunciado recentemente pelo governo. “O que eles precisam é pôr em prática o programa. Brusque tem pressa por uma série de obras. Agora criaram um Comitê Gestor, já viu isso? Quem manda é o prefeito e o vice, o eleitor votou neles”, afirma.

“Você construiu, por meio das secretarias, um centro administrativo voltado ao interesse de cada área. Esse seria o conselho. Agora, de repente, você tem gente no conselho que estava do outro lado, que nunca foram pedir o voto ao eleitor, não se comprometeram com nada. Quem se comprometeu fomos nós, especialmente o prefeito e o vice”.

Para Ciro, um exemplo de ação que deve ser tomada pelo governo é o fechamento da Unidade de Pronto Atendimento (UPA) 24 horas. Ele defende que, se não for possível mudar a finalidade, a prefeitura pague o que é devido ao governo federal.

“Ou remanejamos, ou devolvemos o dinheiro. Fazemos uma creche, qualquer coisa. O que não pode é gastar R$ 500 mil por mês para aquilo lá e tirar dinheiro do hospital””.

O ex-prefeito adotou um tom crítico durante toda a entrevista. O ex-aliado político de Paegle e Vequi diz que falta ação mais contundente da prefeitura para solucionar os problemas da cidade.

“Não é que esteja descontente com a administração, mas ela podia render muito mais. Ainda mais neste momento, que vamos ter eleições no ano que vem, era o grande momento de articulações e parceria com os governos estadual e federal”, diz Ciro.

“O erro é normal, só não erra quem não faz nada. Mas a mentira é ruim, faltar com a verdade é ruim. Levar algo para a sociedade e fazer outra coisa”, completa o ex-prefeito.

“Codeb daria mais agilidade às obras na cidade”

O governo anunciou recentemente que deu início ao processo para encerrar a Companhia de Desenvolvimento e Urbanização de Brusque (Codeb). Ele critica a decisão de fechar a empresa de economia mista, criada em seu governo.

“Está tudo errado. A Codeb é uma empresa de economia mista, 99% é da prefeitura. A Codeb não visa lucro”, diz. Para ele, a principal vantagem é que a administração municipal não precisa licitar obras para Codeb, o que significa ganho de tempo.

“Se tu pegar uma obra e licitar, como lá em Dom Joaquim [ponte do Rio Branco, que ligará os bairros], já começou ali o meu problema com eles. Aquela obra custa R$ 3,5 milhões, mas vai custar R$ 6,8 milhões. Porque a empresa que está fazendo tem que ter lucro e pagar impostos, coisa que a Codeb não tem”.

O ex-prefeito diz que a construção da ponte estaiada Irineu Bornhausen, da Arena Brusque e do pavilhão Maria Celina Vidotto Imhof só foram possíveis, quando ele era prefeito, devido à Codeb. Nesse modelo, a prefeitura contrata a empresa, que licita os serviços necessários.

Segundo Ciro, a Codeb seria fundamental no caso da ponte Arthur Schlösser, que foi interditada porque um dos pilares ruiu. “A ponte Arthur Schlösser foi a Codeb que levantou. Hoje está lá com um pilar [quebrado]. Se eu tivesse com a Codeb, em dez dias estava com trânsito e não gasto 100 ‘conto’ para arrumar aquilo”.

Para o ex-prefeito, a Codeb tem papel importante nas pavimentações. Ele cita a rua Anna Heil, cuja pavimentação foi entregue recentemente, que deveria ter sido feita anteriormente.

Ciro diz que deixou a companhia com dinheiro em caixa e apenas um Refis (programa de refinanciamento de dívidas) para pagar com o governo federal, quando saiu da prefeitura em 2008. Hoje, a Codeb acumula R$ 26 milhões em dívidas.