Clube de Caça e Tiro Araújo Brusque comemora 150 anos; confira momentos marcantes

Palco de importantes eventos esportivos e sociais do município, clube se consolida como o mais antigo do país em atividade

Clube de Caça e Tiro Araújo Brusque comemora 150 anos; confira momentos marcantes

Palco de importantes eventos esportivos e sociais do município, clube se consolida como o mais antigo do país em atividade

A fachada do Clube de Caça e Tiro Araújo Brusque esconde um século e meio de história. Hoje, o clube que foi o centro social do município e que ainda é uma das entidades mais representativas completa 150 anos de fundação. Foram inúmeras situações ao longo desse tempo. A sede chegou a ser ocupada pelo Exército, foi fechada, seus objetos danificados, mas a resiliência dos associados a fez ressurgir para servir, por exemplo, como abrigo durante as cheias do Itajaí-Mirim.

O presidente licenciado do Caça e Tiro, Ewaldo Ristow Filho, está no clube há cerca de 50 anos. Ele estava na festa do centenário, quando o seu pai era o presidente. Hoje, ele diz que a entidade é a sua segunda casa. O presidente conta que o Araújo Brusque era o centro da vida social de Brusque.

Foi no Caça e Tiro que aconteceram casamentos, formaturas e outras comemorações de vários brusquenses. Quando surgiu, era um clube restrito a poucos apreciadores do tiro esportivo que habitavam a Colônia de Itajahy; hoje, é aberto e frequentado por moradores da comunidade em geral. Confira a seguir alguns dos momentos mais marcantes da jornada de 150 anos do clube que se confunde com a própria história do município.


1866

No dia 14 de julho, sete moradores da Colônia fundaram o Schützen-Verein Brusque. A primeira ata de uma reunião conta que o primeiro encontro aconteceu na casa de Wilhelm Wandrey. Após a aprovação dos estatutos que basearam a Sociedade de Atiradores, Carl Merschner foi eleito presidente.

Merschner era agrimensor nomeado pela Colônia. Coube a ele adquirir o lote número 85 na rua das Carreiras – atual rua Hercílio Luz – já em 1867. A área foi comprada diretamente da Província de Santa Catarina. Durante o primeiro ano, a Sociedade de Atiradores existiu, porém sem sede. Os membros se reuniam na casa dos colonos para praticar o tiro esportivo.


Caça e Tiro nos seus primeiros anos de história | Foto: Acervo Histórico/Clube Caça e Tiro Araújo Brusque
Caça e Tiro nos seusprimeiros anos de história | Foto: Acervo Histórico/Clube Caça e Tiro Araújo Brusque

1867

Naquele ano, nasceu a Schützenfest, ou Festa dos Atiradores, evento famoso que perdurou por décadas. A festa acontecia no fim de semana da Páscoa e na segunda-feira seguinte, que naquela época era feriado municipal.

“A festa no Caça e Tiro começava sábado de manhã com uma marcha que ia ao clube, com o pessoal e bandas. Tudo era mais afastado, se usava carroça. O pessoal vinha para missa e depois ia para a festa. Tinha a disputa dos reis atiradores [do Alvo e do Cervo], e no domingo, eles recebiam a medalha, mas eles eram responsáveis também por pagar a despesa”, conta Ristow Filho.

“O pessoal do interior vinha à missa e ficava na festa, mas eles traziam galinhas para vender, era um tipo de um feirão. No fim, o pessoal vinha tropegando por causa da bebida”, diz Ristow Filho. A festa de Páscoa prossegue até os dias atuais, mas em outro formato, e no fim de semana seguinte à Páscoa.


1876

O décimo ano de fundação do Caça e Tiro foi comemorado com a entrega da primeira sede. Houve uma festividade que teve, claro, uma competição de tiro ao alvo. No mesmo ano, a entidade resolveu que o seu terreno era grande demais e que não seria ocupado completamente. Por isso, uma comissão de cinco sócios foi formada para vender parte da área em lotes. Os pedaços de terra foram vendidos rapidamente. Hoje, nessa região fica a rua Manoel Tavares.


1914

Evidenciando as suas raízes germânicas, o Caça e Tiro recebeu um grupo de oficiais e marinheiros alemães em 5 de maio de 1914. Eles estavam no navio de guerra alemão SMS Kaiser, ancorado no porto de Itajaí. A visita aconteceu pouco antes do início da Primeira Guerra Mundial, em agosto do mesmo ano.


1916

Surge o Tiro de Guerra número 317 em Brusque. Desde o começo, o Caça e Tiro teve forte caráter patriótico, e em 1916 o clube se ofereceu para hospedar o Tiro de Guerra. O Exército Brasileiro, então, perguntou quanto custaria instalar ali os atiradores. A resposta foi que não implicaria em maiores gastos.


Osmar Tensini, José Dubiela e Beno Muller, entre outros atiradores, exibem presas | Foto: Acervo Histórico/Clube Caça e Tiro Araújo Brusque
Osmar Tensini, José Dubiela e Beno Muller, entre outros atiradores, exibem presas | Foto: Acervo Histórico/Clube Caça e Tiro Araújo Brusque

1933

O clube passa pela sua primeira grande dificuldade financeira. A entidade precisava saldar uma hipoteca imobiliária. A crise financeira só foi solucionada em 1939, com a venda de ações aos associados, que fizeram das tripas coração para ajudar a entidade.


1934

Nesse ano, instala-se a Empresa Cinematográfica Arthur Hansen, o Cine Teatro Ufa. O cinema foi inaugurado no grande salão em março de 1934. Lá, eram projetados filmes, de preferência alemães. A empresa operou no Caça e Tiro por cerca de um ano.


1935
O presidente do Caça e Tiro diz que naquela época a vida social de Brusque acontecia dentro da sede social do clube. Não à toa que a entidade emprestou o seu espaço para que a prefeitura realizasse um baile de comemoração pelos 75 anos de fundação da cidade, em 1935.


1942

Em 1942, foi escrito um dos capítulos mais nefastos da história do Clube de Caça e Tiro Araújo Brusque. Até 1948, ou seja, por seis anos, a entidade foi obrigada a manter as suas portas fechadas por causa de uma intervenção militar.

Em 1938, o governo Getúlio Vargas colocou em prática a Campanha de Nacionalização. Em princípio, a lei obrigou o ensino de português nas escolas, e a partir de 1939 também proibiu que fossem falados idiomas estrangeiros em território brasileiro. O Exército era o responsável por fiscalizar as zonas de colonização estrangeira – e Brusque era uma delas.

“Durante a Segunda Guerra Mundial, o Exército tomou conta do clube e, inclusive, andavam de jipe lá dentro. Com a Segunda Guerra, muitos falavam alemão e era proibido. Na época, o nome era Schutzën-Verein Brusque, então, por obrigação de uma lei do Getúlio Vargas, foi mudado o nome para Clube de Caça e Tiro Araújo Brusque”, afirma o presidente Ristow Filho.

Durante a ocupação, o Caça e Tiro Araújo Brusque serviu de garagem para veículos apreendidos pela Delegacia Especial de Polícia e como depósito de combustíveis. Também neste período perdeu-se muitos quadros e recordações da história do clube. Como tudo era escrito em alemão, o Exército deu cabo de todo o material.

“A ata escrita em alemão, em 14 de julho de 1866, está guardada porque tivemos um cidadão chamado Bernardo Kirschner que conseguiu pegar o documento, colocar dentro de uma lata e enterrar no seu quintal”, afirma Ristow Filho.


1966

As comemorações do centenário do Caça e Tiro duraram um mês. Começaram com a apresentação da Associação Coral de Florianópolis, no dia 2, e seguiu com missa e uma série de apresentações. O ponto alto foi o dia 14 de julho, data exata dos 100 anos. Houve um desfile cívico pelo centro da cidade.

Desfile do centenário do Caça e Tiro Araújo Brusque, no Centro | Foto: Acervo Histórico/Clube Caça e Tiro Araújo Brusque
Desfile do centenário do Caça e Tiro Araújo Brusque, no Centro | Foto: Acervo Histórico/Clube Caça e Tiro Araújo Brusque

Além disso, Ewaldo Ristow Filho relembra que paraquedistas vieram a Brusque. Eles desembarcaram em Navegantes e fizeram o trajeto até Brusque numa Kombi providenciada pelo Caça e Tiro. “Eles saltaram [do avião] perto da Havan e da Fenarreco, onde ficava a fazenda da família Hoffmann. Não tinha nem rodovia, era uma picada. E um dos paraquedistas ficou preso numa árvore”, conta.

Crianças desfilam no centenário do clube na avenida Cônsul Carlos Renaux | Foto: Acervo Histórico/Clube Caça e Tiro Araújo Brusque
Crianças desfilam no centenário do clube na avenida Cônsul Carlos Renaux | Foto: Acervo Histórico/Clube Caça e Tiro Araújo Brusque

1990

Não bastasse as dificuldades em se manter sustentável ao longo das décadas, o Caça e Tiro teve de superar mais um obstáculo quando Fernando Collor de Melo assumiu a presidência da nação. Segundo Ristow Filho, a entidade tinha as suas economias depositadas na poupança. O dinheiro acabou retido por 24 meses com o congelamento das poupanças ordenado pelo novo presidente. Isso ocasionou o atraso em algumas obras.


2016

O Caça e Tiro chega aos 150 anos com aproximadamente 800 associados. Hoje, o perfil do quadro social do clube é diferente de quando principiou a sua história. Nos séculos XIX e XX, o local era um ponto de encontro entre os brusquenses, avalia o presidente. Com o avanço da tecnologia e a facilidade do acesso ao litoral, o clube perdeu muito de seu apelo.

Atualmente, o quadro é composto, sobretudo, por atiradores e esportistas. A piscina é o principal atrativo do Caça e Tiro. Inaugurada no final da década de 1990, ela foi a responsável por impulsionar o número de associados do clube e levá-lo a ser autossustentável. Também foram realizadas várias ampliações da sede e um restaurante foi inaugurado. As melhorias foram muitas e há planos para mais, segundo Ristow Filho.

Com informações do livro Clube de Caça e Tiro Araújo Brusque = Schützen- Verein Brusque: memórias, organizado por Ayres Gevaerd

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