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Cogumelo Atômico, 40 anos depois

Num final de tarde, tão distante no tempo que já não lembro do dia nem do mês mas, certamente, foi no ano de 1974, estava atravessando a Praça Barão de Schneéburg e me deparei com um grupo de jovens. Vestiam camisetas, calças jeans, alguns barbudos, cabelos compridos à moda hippie. Parecia uma cena em miniatura […]

Num final de tarde, tão distante no tempo que já não lembro do dia nem do mês mas, certamente, foi no ano de 1974, estava atravessando a Praça Barão de Schneéburg e me deparei com um grupo de jovens. Vestiam camisetas, calças jeans, alguns barbudos, cabelos compridos à moda hippie. Parecia uma cena em miniatura de Woodstock, o festival da contracultura que a juventude rebelde do final dos anos 1960, realizou em terras da Califórnia.

Sentados junto ao pedestal da estátua do Cônsul, acompanhados pelos acordes de um violão, entoavam a bela canção Prá não Dizer que não Falei de Flores, de Geraldo Vandré. Com a letra falando da inutilidade da guerra e dos soldados sem consciência política, a bela melodia havia se transformado num canto geral, em prol da liberdade, da igualdade de todos, “braços dados ou não” e acabou censurada pelo governo militar. De um momento para outro, ninguém mais cantava, ninguém mais caminhava, seguindo a bela canção.

Então, fui conversar com a Turma da Praça do Barão. Diziam não ter qualquer engajamento político ou ideológico. Evidentemente, isso não os impedia de contestar o governo militar, de simpatizar com Fidel e de admirar Che Guevara, ídolo da juventude daquela época. Para eles, a liberdade de pensar, escrever, pintar e de cantar era um direito que não podia ser proibido.

Nesse primeiro encontro, conheci o Luis Teixeira, o Almir Feller e o Aluísio Buss, que editavam o jornal e pareciam liderar a Turma. Ali estavam, também, os pintores do grupo Jorge Grimm, com suas pinturas psicodélicas, surrealistas e a Márcia Cardeal. Samuel Cardeal era o músico da Turma, sempre acompanhado de seu violão. Lembro, ainda, da Inês Mafra, a escritora e contista.

Depois desse primeiro encontro, tornei-me amigo e um pouco mecenas dessa Turma, que marcou a vida cultural de Brusque, nos anos de 1970. Sempre que pude, estive presente e prestei alguma ajuda financeira para a realização dos seus eventos culturais, principalmente, as Coletivas de Arte de Rua e as edições do jornal Cogumelo Atômico, “embrião de um sonho vindo do som espacial”, realização mais importante da Turma da Praça.

No último sábado, a Turma da Praça reuniu amigos e artistas para comemorar os bons tempos do Cogumelo Atômico. O importante evento aconteceu no Espaço de Arte da Livraria Graf e na Escola de Natação Gaivota, com exposição de artes plásticas, dos jornais e, ainda, muita música. Depois de 40 anos, foi emocionante ver aqueles jovens de ontem, hoje chegando à idade sexagenária, felizes ao relembrar o trabalho que realizaram em prol da cultura brusquense, numa época de censura, medo e repressão.