Coletor menstrual ainda é pouco conhecido em Brusque

Recém regulamentado pela Anvisa, produto é alternativa aos absorventes internos e externos

Coletor menstrual ainda é pouco conhecido em Brusque

Recém regulamentado pela Anvisa, produto é alternativa aos absorventes internos e externos

Recém-regulamentado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), os coletores menstruais ainda são pouco conhecidos em Brusque. No mercado desde a década de 30, o produto consiste em uma espécie de copinho de silicone, ajustável ao corpo da mulher, que coleta o sangue da menstruação.

Feito de silicone antibacteriano e hipoalérgico (que oferece o mínimo de risco de provocar alergias), o coletor é uma alternativa aos absorventes externos e internos, principalmente por ser reutilizável. Em Brusque, os preços variam R$ 36 e R$ 80, porém, é difícil encontrá-lo nas farmácias. De seis estabelecimentos pesquisados pela reportagem, apenas dois possuíam o produto – a Sesi Farmácia e a Preço Popular -, sendo que havia apenas uma unidade em cada uma delas.

“Temos apenas um coletor menstrual, pois as mulheres não aderiram ao produto. Há muitas perguntas sobre o seu uso, receio em colocá-lo, achando que pode gerar desconforto. Acredito que é falta de conhecimento”, diz a farmacêutica da Sesi, Adriana Takeda.

Na Preço Popular, até hoje o coletor nunca foi vendido e não há procura, conforme a atendente Flávia Bernardini. “As mulheres não sabem que há essa opção, por isso não procuram”, avalia. Na Sesi, os coletores de silicone custam R$ 36,60 e na Preço Popular, R$ 37,90.

Além das farmácias, os coletores menstruais podem ser comprados pela internet. Também há revendas. Em Brusque, por exemplo, existe o produto da marca Inciclo, revendido por Ana Júlia Cunha, que depois de conhecer o coletor em Curitiba, trouxe para a cidade. “Eu gostei muito do produto por ter qualidades variadas e resolvi mostrar para outras mulheres seus benefícios, que trazem conforto, economia e bem-estar, além de não agredir o meio ambiente”, diz.

Há dois tamanhos de coletores da Inciclo, o A e o B. O produto custa R$ 80 e dependendo o fluxo da menstruação pode ser trocado de duas ou mais vezes por dia. De um ciclo para o outro, precisa ser esterilizado com água quente. “Poucas mulheres ouviram falar dos coletores, mas é de extrema relevância que saibam que tem um produto que diminui as chances de reações alérgicas em comparação com os absorventes comuns, além de ser fácil de usar. É preciso somente se adaptar”, afirma Ana Júlia. O coletor pode ser encontrado na loja de moda íntima Pele de Seda, no Centro de Brusque.

Tabu feminino
A ginecologista e obstetra Caroline Leal Galera diz que não há contra-indicações quanto ao uso do coletor, mas que não é aconselhável para mulheres que nunca tiveram relações sexuais, pois ao colocar ou retirar o coletor, o hímen pode se romper. Também não é aconselhável nos primeiros dias após a mulher dar à luz.

Ela explica que o produto é maleável, o que facilita na hora de colocar na vagina. “Diferente do absorvente interno, que é inserido ao fundo do canal vaginal, o coletor fica na entrada da vagina”.

Além disso, há marcas que oferecem até quatro tamanhos de coletor menstrual, mas a maioria vende apenas dois tamanhos: um para a mulher que já teve filhos e o outro para quem não tem. “Se for colocado corretamente, não corre risco de o sangue vazar, a menos que a mulher tenha um fluxo muito intenso”.

A ginecologista observa que os coletores são sustentáveis e que durante a vida, uma mulher usa, em média, mais de 10 mil absorventes, externo ou interno. O externo leva 100 anos para se degradar na natureza, enquanto o interno leva até um ano. “O coletor menstrual é ecologicamente correto, é considerado mais econômico, já que a mulher gasta cerca de R$ 100 ao ano com absorvente externo. Em dez anos, ela terá gasto R$ 1 mil”.

Caroline destaca ainda que o uso frequente do coletor está relacionado a uma questão cultural. Em Brusque não chega a 1% o número de pacientes atendidas por ela que usam o produto. “Um dos principais agentes para o desuso é o tabu. Não está acessível na banca da farmácia, então as mulheres desconhecem sua usabilidade. Também não se conversa sobre o assunto. Por isso é muito importante o médico falar com sua paciente e propagar mais a informação”, diz a ginecologista.



Regulamentação dos coletores menstruais

A regulamentação da venda de coletores menstruais pela Anvisa entrou em vigor em março. A Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) tipifica basicamente quanto ao material, rótulo, testes de segurança e prazo de validade.

Material
O coletor menstrual deverá ser atóxico e não poderá conter substância como fragrâncias e inibidor de odores.

Rótulo
A embalagem precisa trazer informações sobre a possibilidade de ocorrência da síndrome do choque tóxico, infecção rara ocasionada por bactérias como Staphylococcus aureus. A doença está associada ao uso prolongado de absorventes internos, o que comprova a importância de respeitar o período máximo de uso dos coletores menstruais. O modo de uso também precisa estar no rótulo.

Testes de segurança
Os fabricantes devem garantir a segurança dos coletores menstruais a partir de testes realizados em humanos, além de avaliações microbiológicas.

Prazo de validade
Todos os produtos já regularizados deverão ser cadastrados em até 24 meses. Os produtos novos já podem seguir as regras também a partir da publicação da Anvisa.


Uso do coletor menstrual
Informações da ginecologista Caroline Leal Galera

Como colocar?
Basta dobrar o coletor e inseri-lo na vagina, lembrando que não precisa empurrá-lo até o fundo, igual o absorvente interno. Ao colocar ele todo, o coletor vai abrir e fazer um barulhinho, o que significa que foi colocado corretamente.

Quanto tempo dura?
Higienizado de forma correta, de cinco a dez anos.

Como devo higienizar o coletor menstrual?
Com água fria e sabão neutro. A cada ciclo, o ideal é limpar com água fervente.

Devo esvaziar o coletor com qual intervalo de tempo?
Isso depende do fluxo menstrual de cada mulher. Se for intenso, a cada seis horas. Mas pode chegar até 12 horas direto, com fluxo normal.

Posso ter candidíase ou outras doenças por usar o coletor?
Os fungos gostam de calor e umidade, então se a mulher já tiver uma pré-disposição à doença, não fizer a higienização do coletor corretamente, for para a piscina e ficar horas com o biquíni úmido, pode correr o risco. Caso contrário, o uso do coletor não causa infecções.

O cheiro é forte?
Como o sangue não entra em contato com algodão ou oxigênio, o odor é bem menor comparado aos outros tipos de absorventes.

Atrapalha ao urinar?
Não.

Incomoda?
Nas primeiras vezes sim. Mas depois que a mulher consegue colocar do jeito correto é mais confortável do que os outros tipos de absorventes.

Posso praticar esportes?
Sim. Com o coletor a mulher pode malhar, nadar, correr. No caso de fluxo intenso, é aconselhável esporte com menor impacto.

Qual o tamanho e para que serve a haste do coletor?
O tamanho é entre 7 cm e 9 cm. A haste serve para retirá-lo da vagina. Ela deve ser cortada até a mulher achar o tamanho ideal, para não incomodar quando estiver dentro do corpo.

Posso dormir com ele?
Sim.

Melhor forma de higienização?
Durante o banho.

Interfere na lubrificação vaginal ou altera o pH da vagina?
Não. O coletor menstrual não absorve nada. Ele apenas coleta o sangue, diferente dos outros tipos de absorventes e por não alterar o pH vaginal não predispõe a infecções genitais.

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