Com 60 anos de profissão, radialista Mário Pessoa relembra trajetória
Locutor da Rádio Araguaia começou como locutor aos 16 anos
Em maio deste ano, o radialista Mário Pessoa, da Rádio Araguaia, completou 60 anos de profissão. Iniciou como locutor na rádio Diário da Manhã, em Lages, após ser selecionado, entre 238 candidatos, em um teste para locutores.
Aos 16 anos, Mário era servente de pedreiro e, trabalhando numa obra na rodovia, foi convidado pelo dono da construtora – que também era o dono da rádio – para participar do teste. “Ele disse que eu tinha uma boa voz. Me levou até lá e eu fiz o teste. De todos os participantes, foram dois selecionados, e eu fui um deles.”
Ele começou a trabalhar no dia 23 de maio de 1958. Além de locutor, também foi radioator, participando das novelas, transmitidas ao vivo pela emissora. “Hoje em dia é muito fácil, a internet nos dá tudo pronto e 90% está gravado. O rádio exigia muito do profissional, que fazia tudo ao vivo. Errou, tá errado”. Mário lembra que até os intervalos e comerciais eram feitos ao vivo, nada era gravado. Aliás, gravação em disco só se fazia em São Paulo e, quando eram gravados os comerciais, era feito em disco de alumínio, para que durassem mais.
Hoje, sua rotina começa cedo: às 4h ele acorda para poder estar às 5h na rádio, onde participa do Jornal da Manhã. “Fico no estúdio o tempo todo, comentando as notícias, e também faço blocos isolados, como os serviços de utilidade pública e as loterias”, conta. “Também atendo ligações, nossa rádio interage muito com os ouvintes.”
Todos esses anos no jornalismo renderam a Mário uma porção de histórias que, se fosse contar, “encheriam uma enciclopédia”. Entre tantas idas e vindas, morou em Lages, Blumenau, São João Batista e também em Videira, no Meio-oeste do estado, antes de estabelecer-se definitivamente em Brusque. Teve amizades próximas com jornalistas, donos de rádios e políticos – inclusive, entrou também para a vida política, atuando por meio mandato como vereador em São João Batista.
Mário iniciou a carreira em Lages, onde permaneceu até maio de 1963, quando mudou-se para Blumenau. Nos primeiros dias de trabalho na Rádio Difusora Blumenau, que abrangia também os municípios de Brusque, Gaspar, Indaial e Itajaí, foi chamado pela Rádio Araguaia para ocupar a vaga de um funcionário que havia sido chamado para servir ao Exército no Rio de Janeiro.
Na Araguaia, que foi a sexta rádio a entrar no ar no estado de Santa Catarina, ele ficou até transferir-se para São João Batista. Lá, ele recorda que o noticiário chegava com três dias de atraso. “As notícias eram redigidas em Blumenau, no dia seguinte, os papeis iam de ônibus até São João, para, no terceiro dia, serem transmitidas.” Para que esses atrasos acabassem, comprou um gravador e passou a fazer rádio-escuta, ouvindo as notícias das rádios Gaúcha e Guaíba, e redigindo ali mesmo o noticiário. “Meu forte é a informação. Acho que a notícia tem que ser dada, gosto da informação pura, da agilidade.”
Foi também lá que começou a atuar como repórter de campo, cobrindo jogos de futebol. Por 46 anos, Mário transmitiu esporte. Sem linha telefônica, precisava utilizar as linhas dos Correios e da usina de açúcar de São João Batista para realizar as transmissões. “Tudo enjambrado.”
Em 1975, retornou a Brusque e, nesta época, percebeu a força que o rádio tem. “O Paysandú estava com o time desativado. Iniciei um boato de que o clube Carlos Renaux ia montar uma equipe profissional e, em 30 dias, tanto o Paysandú quanto o Carlos Renaux tinham times que disputaram o estadual. Nós forçamos a barra, mas aconteceu.”
Alguns anos mais tarde, em 1982, iniciaram as transmissões da Rádio Cidade, da qual ele é um dos fundadores. “Na época, não dava pra criticar nem falar de ninguém na Araguaia. Com a Rádio Cidade, fortalecemos o radiojornalismo de Brusque, era bem abrangente”, conta.
Mesmo aposentado e enfrentando problemas de saúde, ele não deixou de trabalhar. Três vezes por semana, Mário faz hemodiálise devido ao problema nos rins. Ele conta também que, por erro médico, acabou tendo metade de um dos pés amputado. “Quem estava por perto na época dizia que eu ia morrer. Mas eu não, eu não achava.” Ele ficou internado por mais de 60 dias, perdeu 30 quilos, mas recuperou-se. Otimista, diz que sempre tenta ter um olhar positivo para a vida.
Casado e pai de dois filhos, Mário tem também cinco netos. É envolvido com clubes de idosos e adora frequentar os bailes da terceira idade. “Gosto de música, de alegria.” Lembra que, quando esteve internado, “todos os 23 grupos de idosos de Brusque oravam por mim diariamente. Teve até uma vez que uma senhora disse ‘coitado, esse vai morrer’. Não morri. Quando melhorei, encontrei ela e disse ‘com a senhora eu não danço mais!'”, brinca.
Mário voltou definitivamente a Brusque durante o mandato do ex-prefeito Ciro Roza. O político era, à época, proprietário da Rádio Araguaia, e o radialista veio de São João Batista para trabalhar na rádio e na prefeitura. “Eu cuidava também da vida artística do Ciro, ele cantava muito bem, se apresentava todos os finais de semana.” Quando se aposentou, optou por dedicar-se somente ao trabalho no rádio.
“É uma vida muito desgastante”, suspira, “mas não me arrependo de nada”. Depois de seis décadas de rádio, Mário guarda com carinho as amizades que fez pelo caminho. “E o respeito que as pessoas tem por mim, não há dinheiro que pague”, diz, sorrindo.