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Com cinco décadas de dedicação à medicina, Antônio Moser não pensa em deixar os consultórios

Médico deixou família em Ascurra para transformar seu sonho de criança em realidade

Com cinco décadas de dedicação à medicina, Antônio Moser não pensa em deixar os consultórios

Médico deixou família em Ascurra para transformar seu sonho de criança em realidade

Antônio Valdemar Moser, 78 anos, inicia seu dia normalmente às 6h. Mesmo há mais de cinco décadas atuando como médico e já aposentado, ele não pensa em deixar de exercer sua profissão. Nas segundas, terças e quartas-feiras, trabalha em cirurgias, a maioria no Hospital Azambuja. Nos outros dias, atende no Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias de Fiação e Tecelagem (Sintrafite). Após almoçar em sua casa, no Centro de Brusque, ele se desloca até seu consultório, que fica há alguns metros de onde ele mora, e atende consultas até cerca de 18h30.

Ele é o terceiro médico de Brusque há mais tempo com o registro ativo no Conselho Regional de Medicina de Santa Catarina (CRM-SC). Natural de Ascurra, no Alto Vale, ele é de uma família de 11 irmãos e se formou em 1970, no Paraná. No ano seguinte, se mudou para a cidade que adotou como casa e onde vive com a esposa Lídia até hoje.

Sonho de criança

A decisão de estudar Medicina veio quando Antônio ainda era criança, tinha entre 7 e 8 anos. Naquela época, ele teve osteomielite na perna direita, uma infecção óssea geralmente causada por bactérias, micobactérias ou fungos. Ele lembra que o médico queria amputar sua perna “a todo custo”, mas foi impedido pelo seu pai.

Por três anos, ele precisou andar de muletas e ainda passou por cirurgias. Durante esse tratamento complicado, o jovem Antônio decidiu que queria ser médico. Na época, era chamado de louco, mas não desistiu do seu sonho. “Eu era de Ascurra, só tinha faculdade em Curitiba ou Florianópolis. Meu pai não tinha condições, era um colono. Éramos em 11 filhos e eu era o mais velho. Mas eu persisti”.

Antônio estudou no segundo grau científico em Blumenau e conseguiu um emprego na estrada de ferro, o que possibilitou que ele se mudasse para Curitiba, onde ele estudaria Medicina.

No primeiro ano que morou na capital paranaense, ele não conseguiu passar para Medicina na Universidade Federal do Paraná, mas, no segundo, entrou. Em 5 de dezembro de 1970, ele saiu com seu diploma.

“A rede ferroviária me deu todo o apoio durante a faculdade e aí que eu consegui me formar. Só pedi demissão em 1º de dezembro e me formei quatro dias depois”, conta.

Trajetória na profissão

Após deixar a faculdade, ele não voltou mais para morar na pequena Ascurra. Depois de deixar Curitiba, ele trabalhou em Indaial, onde estava perto da família e conseguia dar uma assistência para sua família.

Pouco tempo depois, porém, ele teve a oportunidade de se mudar para Brusque, quando uma vaga abriu no Sintrafite. “Algo aconteceu e os médicos decidiram se desligar do sindicato, que era muito poderoso na época. Aí, vinha um médico de Indaial, o Nilo de Freitas, para atender. Até que ele decidiu que não dava mais porque tinha muito serviço. Ele me indicou e acabei vindo para cá. Depois de uma semana, eles já decidiram que eu deveria ficar”.

Em 1972, ele assumiu como o primeiro médico a atender no Hospital e Maternidade Dom Joaquim. Com muita demanda, ele teve que optar por parar de trabalhar no Sintrafite, para onde voltou anos depois. Em um mês, ele chegou a realizar 62 partos e cesáreas. Depois, o doutor Serafim Venzon se juntou à equipe, e os dois trabalharam juntos por cerca de duas décadas.

“Naquela época, o hospital Dom Joaquim era considerado um hospital rural, e atendia Brusque, Guabiruba, Botuverá e Vidal Ramos. Atendia os agricultores. Foi um tempo bem bom, atendemos essas pessoas mais simples, que mais precisavam. Contribuí também para a evolução do centro cirúrgico do hospital e também, naquela época, fizemos a laqueadura de forma gratuita de muitas mulheres que não tinham condições financeiras”.

Antônio ainda foi médico perito do SUS e chefe do Serviço de Medicina Social, onde se aposentou. A aposentadoria, porém, não foi o fim de sua carreira na saúde.

A trajetória de Antônio na medicina influenciou seus filhos a seguirem o mesmo caminho. Bianca Moser é dentista, enquanto Antônio Valdemar Moser Júnior se formou médico, mas acabou falecendo aos 31 anos em um acidente de carro.

“Era para ele ficar em São Paulo, onde estudou, mas quis voltar para perto da família. Coisas da vida”, lembra.

“Meu filho se formou em Medicina com 22 anos e ele tinha medo de cadáver. E ele que faria Odontologia por causa disso, minha filha já era formada. Ele dizia, “se eu fizer Medicina e desistir por causa disso, meu pai me mata”. Mas ele superou o medo. Era muito inteligente e sempre foi o primeiro lugar do curso”.

Participação na política

Além de uma carreira muito bem-sucedida na medicina, Antônio também teve sua importância para a política municipal. Em 1977, foi eleito vice-prefeito na chapa encabeçada por Alexandre Merico.

Ao fim do mandato, o grupo política a qual ele pertencia pretendia que ele disputasse a eleição como prefeito, mas ele preferiu não assumir esse compromisso depois de ter um gostinho por 45 dias anos antes.

“Fui prefeito por 45 dias quando o prefeito viajou, na época durante a ditadura. E decidi que não queria mais aquilo. Foi uma experiência traumática. Ser político não é fácil. Na época, morava atrás do Feliciano Pires e tinha até uma maca em casa para atender. O que tinha de gente consultando era impressionante”.

“Eu não sabia nada”, ri. “Aí foi o (José Celso) Bonatelli, que era meu cunhado. Ele era vereador e eu o apoiei”.

Na legislatura entre 1989 e 1992, Antônio se elegeu vereador e ocupou a cadeira na Câmara de Brusque uma única vez. “Mas também só uma vez. Fui me dedicar ao que sempre gostei”. Anos depois, a casa legislativa o homenageou como cidadão honorário da cidade, uma honraria que o deixa muito orgulhoso.

Antônio Moser foi vereador de Brusque na legislatura de 1989 a 1992 | Foto: Grupo Curto Fotos Antigas de Brusque

Motivação

Nas últimas cinco décadas, Antônio acompanhou muitas mudanças e uma evolução tecnológica na medicina. Ele destaca que, para seguir atualizado, é necessário uma adaptação constante.

“Não pode parar de estudar. Em 1970, quando eu me formei, para saber se um feto estava de cabeça para baixo era necessário fazer um raio-X. Hoje, com a evolução do ultrassom, da ressonância, a medicina teve uma evolução fabulosa. Com três meses de gestação, já dá para saber se o bebê tem um problema cardíaco. Estamos caminhando muito bem”.

“No Dom Joaquim, tinha que fazer tudo, cheguei a fazer até anestesia. Quando cheguei em Brusque, tinham apenas nove médicos na cidade. Era difícil. Hoje, são mais de 200”, destaca.

“Tenho disposição, saúde e vontade de fazer”, diz Antônio | Foto: Bruno da Silva/O Município

Atualizado e com disposição para continuar atuando, Antônio não cogita deixar os consultórios. “Não quero ficar em casa, na ociosidade. Não sei fazer outra coisa. Tenho disposição, saúde e vontade de fazer. Também tem muita gente que precisa. Me vejo na obrigação de continuar”.

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