Com exportação em alta, fábricas de Brusque enfrentam dificuldades na compra de algodão
Matéria-prima é fundamental para o setor têxtil da região
Em meio à pandemia o algodão teve um aumento de demanda e consequentemente no preço, também influenciado pela alta do dólar, e com isso as empresas de Brusque têm enfrentado dificuldades na compra da matéria-prima, que é importante para o setor têxtil da região.
O coordenador do Núcleo de Fabricantes de Toalhas (NFTex) da Associação Empresarial de Brusque (Acibr), Taciano Petermann, comenta que 2020 tem sido um dos mais desafiadores por conta do enfrentamento à pandemia. No primeiro semestre pedidos foram cancelados, houve devolução de mercadorias, prorrogações dos recebíveis, além da insegurança e do medo entre as equipes.
“Passado o pior momento, entre março e abril, retomamos o trabalho utilizando todo empenho de nossos times que corajosamente se mantiveram focados, retomamos parcialmente as vendas e dentro do que se considera normal hoje em dia, voltamos a ter pedidos”, conta.
Com a volta da produção, novos desafios começaram a surgir e o primeiro deles foi a elevação dos preços das matérias-primas como o algodão e dos fios.
“O que podemos observar é que muitas fiações fecharam nos últimos anos, isso fragilizou a cadeia têxtil e nos deixa de fato com menos opções de compra. O natural do mercado é que havendo menos oferta os preços subam. Isso está acontecendo no momento”.
A presidente da Acibr, Rita Cassia Conti, relata que os produtores de algodão estão exportando mais a matéria-prima, o que limita a quantidade de compra das empresas.
Petermann explica que o fator câmbio influencia muito nisso. “O algodão é uma comodity cujo preço é estabelecido em dólar. Lá atrás o produtor vendeu o algodão a 60 centavos de libra-peso de dólar. Quando o dólar estava R$ 4, ele recebia R$ 2,4, hoje está recebendo R$ 3,3, com o dólar R$ 5,5. Então o produtor vai exportar tudo o que puder”.
Do volume de algodão comprado na região, 66% vem do Mato Grosso. Os demais estados são Bahia, Goiás, Minas Gerais e Mato Grosso do Sul.
Da safra atual, de três milhões de toneladas, 2,4 milhões já foram vendidas e serão exportadas. “Sobra 600 para um mercado interno que consome 560. O problema é que numa conta tão justa o produtor vai escolher o melhor momento para vender”, diz Petermann.
Rita comenta que o cenário começou a ficar pior há cerca de um mês e meio, mas neste mês explodiu. A situação consequentemente afeta a produção. “Tem que reajustar o preço ou em alguns casos trocar o fio”. Rita conta que substituiu o algodão para poliéster e viscose.
Petermann comenta que a produção da empresa está programada para entregas no fim de ano. “Fizemos o custo considerando um valor de algodão e fio que não existe mais, então o pior dos cenários pode acontecer: vender os produtos e não conseguirmos repor os estoques de matérias-primas. Nesse caso, vamos ter que renegociar os pedidos e tentar sensibilizar os produtores”.
O setor está realizando compras pontuais e evitando assumir grandes compromissos com os clientes.
No momento não é possível saber até quando a situação seguirá, podendo normalizar ou piorar. “Com a chegada de maiores volumes da nova safra de algodão esperamos que a situação volte a ter mais equilíbrio entre oferta e demanda”, finaliza Petermann.