Com início em capela no Bateas, comunidade luterana de Brusque completa 160 anos
Pastores alemães e cônsul Carlos Renaux deixam legado para comunidade luterana
Pastores alemães e cônsul Carlos Renaux deixam legado para comunidade luterana
A presença da comunidade luterana em Brusque completa 160 anos nesta segunda-feira, 17. A história da comunidade na cidade se entrelaça também com a história do município. Foi no bairro Bateas que, no século XIX, os imigrantes alemães ergueram a primeira capela luterana em Brusque.
O atendimento à comunidade era realizado, inicialmente, pelos próprios imigrantes. No entanto, eles queriam a presença de um pastor para conduzir a atividade de fé da comunidade na região. Inicialmente, quem se dedicava à comunidade era o pastor Oswaldo Hesse, que vinha de Blumenau para Brusque.
Os estatutos da comunidade (ata de fundação) foram publicados em 17 de abril de 1863. “Quando a cidade de Brusque começa a surgir com os primeiros imigrantes, vieram também os alemães e luteranos. Parte desta primeira população é luterana. No Bateas, eles tinham uma pequena casa de oração”, afirma o pastor Edélcio Tetzner.
Dois anos depois, em 1865, o pastor Johann Anton Heinrich Sandreczki passou a morar em Brusque e a comunidade “ganhou novos impulsos”, conforme classifica pastor Edélcio. Os esforços de Sandresczki em prol da religião na cidade contribuíram com o crescimento e fortalecimento da presença luterana no município.
Pastor Edélcio relata que, após a chegada de Sandreczki na cidade, foram solicitadas terras ao governo e a primeira capela no Centro foi construída. Segundo o pastor, o templo religioso servia como uma escola, já que os adolescentes que faziam o ensino confirmatório (no católico, crisma) não sabiam ler.
“O espaço foi inaugurado em 1872 e serviu como igreja-escola por aproximadamente duas décadas. Além do cuidado com as edificações, havia um cuidado especial com a educação, o que nos remete a uma frase do reformador Martim Lutero: ‘Ao lado de cada igreja, uma escola’”, diz.
Martim Lutero, nome que originou o luteranismo, foi responsável pelo movimento para reformar a doutrina da Igreja Católica, que gerou a Reforma Protestante. Lutero era um monge e a religião tem base na teologia dele. A paróquia no Bateas carrega o nome do reformador.
Já no final do século XIX, em novembro de 1893, foi formada uma comissão para construção de uma nova igreja em Brusque, que seria construída no Centro. O templo levantado na época pertence à Paróquia Bom Pastor e fica ao lado do colégio Cônsul.
Em 1915, o cônsul Carlos Renaux, que deixou um legado por seus esforços em prol da comunidade luterana de Brusque, queria prestar uma homenagem à esposa Selma Wagner, falecida dois anos antes. A ideia de Renaux era fazer o templo em formato de cruz, o que não foi aceito inicialmente.
“O projeto foi acolhido com simpatia pela diretoria, mas foi arquivado. Entendo que o templo, ainda novo, despertou cautela nos membros do conselho [da igreja]. Porém, passadas algumas décadas, o pedido de Carlos Renaux foi atendido e o templo foi ampliado”, comenta.
A ampliação do templo proposta por Renaux foi conduzida pelo arquiteto alemão Simão Gramlich. Pastor Edélcio afirma que Renaux deixa um legado de “cuidado com a espiritualidade”, conforme classifica.
“O templo, para nós, é muito simbólico e representativo. Nos reunimos para celebrar o batismo, a bênção matrimonial e para nos despedir de pessoas que amamos. Vejo que, quando ele (Renaux) traz essa obra, ele testemunha o cuidado com a fé”.
Após algumas décadas da ampliação do templo, a igreja recebeu uma grande restauração. Toda a parte de cobertura do templo e instalação elétrica foram renovadas. O piso do mezanino foi substituído por concreto. A igreja, após a restauração, foi reinaugurada em 1979.
A Primeira Guerra Mundial fez com que os cultos fossem interrompidos em Brusque. As celebrações eram pregadas em língua alemã, o que foi proibido na época. A situação voltou a ocorrer na Segunda Guerra Mundial, com a nova proibição dos cultos em língua alemã na cidade.
Com a campanha de nacionalização do então presidente Getúlio Vargas durante o período do Estado Novo, os cultos começaram a ser celebrados em português aos poucos. “As pessoas entendiam apenas o alemão. O português não estava muito enraizado nas famílias”, conta pastor Edélcio.
Antes disso, porém, o pastor relata que houve certa sensibilidade por parte do governo quanto ao uso da língua alemã na época e, em alguns casos, ela foi permitida, desde que seguisse algumas condições, envolvendo também o uso da língua portuguesa.
“Encontrar pastores que falassem a língua portuguesa era difícil e, para o sepultamento de Carlos Renaux, ocorrido no ano de 1945, foi necessário buscar o pastor catarinense Lindolfo Weingärtner em Ibirama”, conta.
Em 1996, os pastores Anildo Wilbert e Roland Brüggemann atuavam na comunidade luterana em Brusque. Pastor Anildo foi para Jaraguá do Sul e pastor Roland foi para a Alemanha. Roland voltou à cidade em 2006 e, novamente, partiu para a Alemanha anos depois, onde vive atualmente. A diretoria da comunidade em 1996, então, decidiu que chamaria três novos pastores para atuar na comunidade.
Na época, a paróquia era uma só e cada pastor ficaria responsável por uma região da cidade. O pastor Mauro Behling passou a atender a região do Paquetá, Águas Claras, Dom Joaquim e Claraíba; o pastor Milton Tribess, o Bateas, Santa Terezinha e em Guabiruba; e, por fim, o pastor Claudio Siegfried Schefer, o Centro.
Com o passar dos anos, em 2004, a paróquia foi dividida em três, com administrações independentes. Assim, nasceram as paróquias Bom Pastor, no Centro; Martim Lutero, no Bateas; e Unidos em Cristo, no Paquetá.
Com isso, foi criada a Celsbrus-UP (Comunidade Evangélica de Confissão Luterana de Brusque – União Paroquial). Trata-se de uma diretoria responsável pelas três paróquias, incluindo os patrimônios.
A presença do grupo de jovens também é uma história cultivada pela comunidade luterana de Brusque. Nos dias atuais, a comunidade possui dois grupos. Um dos grupos reúne jovens com menos de 20 anos, e o outro, com mais de 20 anos.
“A juventude é uma janela que se abre na realidade confusa em que tantos jovens percebem um vazio existencial e buscam respostas. A juventude quer ser um espaço em que é possível amadurecer e crescer em segurança, onde trabalhamos a fé, valores e cuidados com a natureza”, diz pastor Edélcio.
Nos encontros são realizados momentos de estudo da bíblia, louvor, oração, dinâmicas e esportes. O pastor relata que também são realizados retiros. Um deles, inclusive, aconteceu em Gramado, no Rio Grande do Sul.
“Quando eles (jovens) deixam de participar [do grupo], às vezes atropelados pela correria e pela exigência de uma faculdade, eles ficam com saudades do tempo em que participavam”, finaliza.
Confira, abaixo, a imagem interativa que compara uma foto antiga e uma foto atual da igreja da Paróquia Bom Pastor: