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Com mais de mil lojas, rua Azambuja projetou Brusque nacionalmente como capital da pronta-entrega

Após anos no auge, comércio local migrou para outros pontos da cidade

Depois de anos no auge, a rua Azambuja, que já foi considerada o maior centro comercial a céu aberto do Sul do Brasil, chega ao fim. Pouco a pouco, lojas fecham, o movimento de compradores diminui e os tempos áureos da rua que deu a Brusque o título de capital da pronta-entrega ficam apenas na lembrança. Isso ocorreu em meados de 1995. Mas a história que liga Azambuja ao setor têxtil começa alguns anos antes.

Os primeiros comércios na rua Azambuja surgem por volta de 1986. Depois da grande enchente de 1984, o governo libera o Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) para auxiliar as vítimas das cheias. Muitas pessoas decidem usar o dinheiro para empreender.

É aí que surgem as primeiras confecções, improvisadas dentro das casas e que pouco tempo depois já fazem muito sucesso. Em 1989, a rua começa sua ascensão. Naquele ano, 100 lojas já existem e começam a atrair compradores da região Sul do país.

Foto: Bárbara Sales

Muitas pessoas viram ali uma oportunidade de mudar de vida e ter o próprio negócio. Lojas e mais lojas começam a surgir e os clientes não param de chegar. No auge, a rua Azambuja teve mais de mil estabelecimentos.

Ônibus de excursão chegam a todo momento. Chegou-se a registrar mais de 80 lotados de compradores estacionados ao mesmo tempo. Uma verdadeira loucura.

O empresário Sílvio César Gonçalves lembra bem dessa época. Ele abre sua primeira loja na rua Azambuja, a Liberty Camisaria, em janeiro de 1992, quando o comércio no local estava a todo vapor.

O sucesso foi tanto que, em pouco tempo, uma loja apenas já não é suficiente. Silvio conta que em determinado momento, teve três lojas na mesma rua para conseguir dar conta da demanda de clientes.

Naquela época, teve uma semana que eu cheguei a ir para São Paulo três vezes. Eu chegava, colocava a mercadoria e logo acabava. Então eu tinha que voltar, nem ia para casa

“Nos primeiros anos eu buscava as mercadorias em São Paulo, só depois que comecei a produzir. Naquela época, teve uma semana que eu cheguei a ir para São Paulo três vezes. Eu chegava, colocava a mercadoria e logo acabava. Então eu tinha que voltar, nem ia para casa. Tinha épocas, que eu abria as lojas às 3h para dar conta de atender a todos”.

O empresário, que também é diretor da Associação das Micro e Pequenas Empresas de Brusque (Ampebr), diz que muitas vezes chegava a vender até as camisas incompletas a pedido dos clientes. “Às vezes estava na fase final de produção, faltava casear, colocar botão, mas os compradores não queriam esperar, pediam desconto e levavam assim mesmo”.

No início dos anos 1990, as lojas não paravam de surgir, assim como os clientes. Com o comércio da rua Azambuja, Brusque ficou conhecida nacionalmente.

Não demorou muito, porém, para os problemas surgirem. A rua Azambuja já não conseguia comportar tantas lojas e tanto movimento todos os dias. Faltava estrutura, e isso começou a incomodar os compradores.

“Os ônibus de excursão chegavam a todo momento e não tinha lugar decente para se alimentar, banheiro. As pessoas pensavam apenas em montar confecção, não se pensou na estrutura da rua”.

Na época, o Plano Diretor da cidade não era cumprido. Muitas das construções foram erguidas em cima da vala, o que, naturalmente, começou a gerar transtornos.

“Na ânsia de construir e vender as salas para os lojistas, não se observava as regras. Qualquer chuva de verão alagava tudo, e isso atrapalhava. A mercadoria estragava, a estrutura era precária”, conta.

Com grande movimento e pouca estrutura, os acidentes no local começaram a ser mais frequentes. Também havia problemas com furtos e roubos.

Na ânsia de construir e vender as salas para os lojistas, não se observava as regras. Qualquer chuva de verão alagava tudo, e isso atrapalhava

O empresário lembra ainda que muitos aventureiros começaram a aparecer, trazendo má fama para o comércio local. “As pessoas vinham, abriam a confecção e no outro dia já estavam ostentando carros de luxo. Não se tinha um planejamento e isso também começou a prejudicar muito”.

A abertura comercial iniciada no governo do então presidente Fernando Collor de Mello e, posteriormente, a implantação do Plano Real, também contribuiu para a queda da rua Azambuja.

No início de 1995, aconteceu o fechamento em massa dos comércios localizados naquela região da cidade. “Foram momentos de turbulência logo depois do Plano Real. A quebradeira foi grande. Poucos conseguiram passar por isso”, diz Sílvio.

Aos poucos, os compradores foram se afastando e descobrindo novos locais dentro de Brusque. Era o fim de uma era.

Ainda durante o auge da rua Azambuja, algumas lojas de pronta-entrega começaram a surgir também na rodovia Antônio Heil. O grande marco aconteceu em 1991, com a inauguração da Feira Industrial Permanente, a FIP, que contava com aproximadamente 100 lojas. 

O empresário Newton Patrício Crespi, o Cisso, conta que a FIP foi uma ideia de seu pai, Osmar Crespi. Naquela época, Brusque realizava as Feiras Industriais na Fideb, que tinham como objetivo divulgar a cidade. Osmar, então, teve a ideia de criar um espaço onde as confecções poderiam expor seus produtos o ano inteiro.

Diferente da rua Azambuja, a FIP oferecia uma estrutura melhor para os compradores, o que contribuiu muito para o crescimento do novo núcleo da pronta-entrega em Brusque.

Foto: Brusque Memória/Divulgação

“Nesta região onde foi construída a FIP não havia nada, mas aos poucos começou a se desenvolver como um novo polo organizado que atendia às necessidades dos clientes, que queriam mais conforto”, destaca Cisso.

No início dos anos 1990, o segmento da pronta-entrega ficou dividido entre as lojas da rua Azambuja e as da rodovia. Alguns empresários tinham lojas nos dois pontos, mas não havia união entre os núcleos, o que também contribuiu para a queda rápida da rua Azambuja, pois as ações não eram pensadas em conjunto e, sim, rivalizadas.

Com a decadência de Azambuja, muitas lojas que conseguiram sobreviver aos problemas estruturais e ao Plano Real, migraram para a rodovia e outros pontos da cidade. A loja de Sílvio é um dos exemplos disso. Ele continuou com o ponto da rua Azambuja, mas também abriu filiais na FIP e na Bruem, onde hoje é o Centro Administrativo da Havan.

“Houve essa migração, então não vejo que teve gente desempregada por causa do fim da rua Azambuja, porque a mão de obra foi absorvida pelas empresas em outras regiões da cidade, como ali na região da FIP e também próximo a Havan”.

Em 1997, a Associação das Indústrias e Comércio da Rua Azambuja (Aica), que defendia os interesses das empresas daquela região, vinculou-se a Fampesc e se transformou na Associação das Micro e Pequenas Empresas de Brusque (Ampebr).

Passada a conjuntura de crise, a Ampebr conseguiu implementar iniciativas para capacitar a mão de obra e profissionalizar ainda mais a gestão das empresas. Agora, com a concentração de apenas um núcleo de pronta-entrega na cidade, a associação conseguiu a união dos empresários e fortalecer as ações conjuntas.

Uma das ações criadas em 1997 e que permanece até hoje é a Pronegócio, a rodada de negócios que traz compradores para Brusque, facilitando o contato entre as marcas e os compradores. Atualmente, são realizadas quatro edições por ano.

Foto: Bárbara Sales

A cada edição, os números alcançados batem recorde. A Liberty Camisaria é uma das poucas remanescentes da época de ouro da rua Azambuja. Sílvio decidiu continuar com a loja no local e, graças à Pronegócio, mantém sua empresa viva, mesmo após o declínio do comércio em Azambuja.

“Participo desde a primeira edição da Pronegócio. A rodada de negócios nos ajudou muito a manter o ponto e continuar com a empresa. Cerca de 70% da nossa produção é vendida na Pronegócio. Essa iniciativa ajudou muitas pequenas empresas a sobreviverem, mesmo depois de toda a dificuldade que enfrentamos nos anos 1990”.

Da rua Azambuja cheia de comércios e como o coração da pronta-entrega em Brusque restam apenas as lembranças e o desejo de que esta fase da história da cidade e da região não seja esquecida.

“Espero para o futuro que as autoridades olhem mais para a rua Azambuja. O que temos hoje em Brusque iniciou aqui. É um bairro que ainda carece de infraestrutura, mesmo tendo dado todo o impulso pra cidade, projetando a nível nacional”.


Você está lendo: • Ascensão e queda da rua Azambuja


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