Com poucos voluntários, programa Mais Alfabetização enfrenta dificuldades em Brusque
Coordenadora do projeto lamenta falta de interessados e critica falhas do governo federal
O programa Mais Alfabetização, do governo federal, tem sido aplicado em Brusque desde maio em diversas escolas da rede municipal de ensino, mas enfrenta algumas dificuldades como a falta de profissionais.
A iniciativa consiste na participação de voluntários formados ou em formação nas áreas pedagógicas dentro de sala de aula, acompanhando as atividades de crianças do 1º e do 2º ano do Ensino Fundamental e exercendo avaliações para diagnóstico e acompanhamento por parte do Ministério da Educação e Cultura (MEC).
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Algumas das pessoas que participaram do processo seletivo vêm atuando nas escolas. Porém, como o trabalho de cinco horas semanais não possui vínculo empregatício e é voluntário (apesar de contar com ajuda de custo de R$ 150 mensais por 5h semanais), há diversos casos de desistência na prática.
“Há realmente um rodízio. É uma pena e é uma falha do programa. Em algumas escolas, mais de três voluntários já estiveram presentes na mesma turma. Sem vínculo, não podemos pedir pela permanência dos voluntários por uma ajuda de custo. Algumas escolas, em bairros mais distantes, acabam ficando sem os assistentes de alfabetização”, lamenta a coordenadora do programa em Brusque, Deise Pereira. Na quinta-feira, 12, uma das assistentes que estava atendendo duas escolas teve que deixar a função por problemas pessoais.
Com a ausência de assistentes de alfabetização, o município também tem a autorização do MEC para fazer novas seleções por meio de avaliação de currículo e entrevista, sem a necessidade de novos editais. A lista de chamada original está zerada.
“Muitas vezes as pessoas não comparecem para desistirem da vaga. Geralmente é por telefone, e em algumas vezes fomos nós que tivemos que procurá-los. Pelo menos seis pessoas não chegaram a desistir, mas aguardam por uma vaga que seja próxima às suas casas ou em determinado turno”, explica Deise.
Outro problema está no sistema online para acompanhamento por parte do Governo Federal, que está constantemente em manutenção. Cursos online prometidos pelo MEC que estariam presentes no sistema ainda não estão disponíveis.
Apesar das dificuldades, diversas escolas estão conseguindo seguir e concluir suas atividades, com as provas de diagnóstico do programa, que servem de acompanhamento dos resultados obtidos. Para Deise, a parte que cabe à Secretaria de Educação está sendo cumprida. O programa tem duração de seis meses em 2018 e por mais 8 em 2019.
“Os diretores abraçaram a causa e estão apostando. Tivemos resultados bastante bons, o monitoramento está sendo realizado, o programa está em andamento, mas está engatinhando. Tanto por nós, enquanto Secretaria de Educação, quanto pelo Governo Federal, e principalmente pelo governo. É bastante experimental ainda, mas estou confiante de que é possível acertar.”
A coordenadora planeja, ao início do segundo semestre, avaliar a situação do programa junto às escolas participantes para verificar a situação de cada uma e chamar a quantidade necessária de novo.
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Números e propósitos
O processo de adesão ao Mais Alfabetização, encerrado no início de março, abrangeu mais de 49 mil escolas de 4.348 municípios, Em 2018, serão liberados R$ 253 milhões, sendo R$ 124 milhões (60% do valor) de forma imediata para escolas de estados e municípios.
Algumas escolas de Brusque ainda não receberam o auxílio porque, de acordo com o governo federal, o processo se encontra em análise no Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), autarquia vinculada ao MEC. Entre 2018 e 2019, serão investidos R$ 523 milhões no Mais Alfabetização.
O programa foi lançado com o intuito de reverter a estagnação na aprendizagem, revelada pela Avaliação Nacional da Alfabetização (ANA), em 2016. Os resultados do levantamento mostraram que 54,73% dos estudantes acima dos oito anos, faixa etária de 90% dos avaliados, permanecem em níveis insuficientes de leitura – aferidos como 1 e 2.
Na avaliação realizada em 2014, esse percentual era de 56,1%. Outros 45,2% dos estudantes avaliados obtiveram níveis satisfatórios em leitura, com desempenho nos níveis 3 (adequado) e 4 (desejável). Em 2014, esse percentual era de 43,8.
A terceira edição da ANA foi aplicada pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), órgão vinculado ao MEC, entre 14 e 25 de novembro de 2016. Foram avaliadas 48.860 escolas, 106.575 turmas e 2.206.625 estudantes.