Comida podre
A operação da polícia federal que revelou o esquema de fraude na “fiscalização” do Ministério da Agricultura foi a sensação da semana passada. Empresas gigantes, com nome consolidado no mercado e intensa campanha publicitária na mídia, mantinham esquema de propina para que carne imprópria para o consumo fosse liberada e chegasse às nossas mesas. Todo […]
A operação da polícia federal que revelou o esquema de fraude na “fiscalização” do Ministério da Agricultura foi a sensação da semana passada. Empresas gigantes, com nome consolidado no mercado e intensa campanha publicitária na mídia, mantinham esquema de propina para que carne imprópria para o consumo fosse liberada e chegasse às nossas mesas.
Todo mundo fica indignado ao saber que pode estar ingerindo papelão, ácido ascórbico (não em forma de vitamina C), ou pura e simplesmente carniça em rótulos de alimentos garantidos pelas autoridades sanitárias.
Mas não é exatamente de comida que quero falar. Utilizo-me desse fato porque é ilustrativo do que já vem acontecendo em muitas outras áreas da nossa vida. O que funcionários corruptos do Ministério da Agricultura vinham fazendo com a “vigilância” da carne, a quase totalidade do Ministério da Educação vem fazendo, e de modo muito mais incisivo, com a qualidade do alimento intelectual fornecido pela escola brasileira. Há muitas décadas que não se sabe mais o que é verdadeira proteína educativa. Trocamos uma formação intelectual de primeiro mundo (latim, gramática, matemática, literatura de ponta) por um modelo de ensino que nos coloca entre os últimos do mundo em qualidade. Já estamos praticamente perdendo o contato com o que era aquela Educação, pois a imensa maioria dos professores que estão na ativa frequentaram essa escola enfraquecida e “aguada” dos últimos quarenta anos. Abandonamos o método silábico de alfabetização, que já nos deixava craques em leitura no 2º ano do ensino fundamental por um processo moroso e confuso. É uma raridade alguém (incluo aí também os professores), que saiba realmente utilizar a crase. E não sabem por que não entendem o que é um objeto indireto, já que essa parte da gramática vem sendo sistematicamente negligenciada. Deveríamos ter melhores leitores e escritores sem essas exigências burocráticas, mas onde estão eles? Não dá para formar musculatura sem proteína de qualidade. Tudo tem sido facilitado e aligeirado na Educação, como as comidas industrializadas e os fast foods, mas nutriente, que é bom, está difícil de encontrar.
E o que dizer da música e da cultura em geral? Que montoeira de papelão e carniça se tornou a indústria musical e os seus “sucessos”! Por onde andam os grandes compositores e seu talento inigualável? O que foi feito das músicas que costumavam esbanjar inteligência, sensibilidade e talento? Não parece que tudo virou uma grande celebração da vulgaridade? Trocamos os valores do Evangelho pela sexologia da Marta Suplicy, a autoridade de pais e professores pela preguiça e pelo desleixo, entre tantas outras trocas equivocadas. Então, em termos de péssima alimentação, já estamos mais que acostumados.
Mas, assim como a qualidade inigualável daquela comidinha caseira de antigamente, a qualidade de tudo o que deixamos apodrecer na Educação, na cultura e na moral pode ser recuperada com um saudável retorno ao passado, pelo menos para que procuremos descobrir a partir de que ponto começamos a errar tanto.