Como é promovida a Incanto Trentino, modelo estudado por Brusque para a Fenarreco de 2020
Após prejuízo de mais de R$ 355 mil, prefeitura estuda alternativas para transformar a festa
A Prefeitura de Brusque estuda transformar próxima edição da Festa Nacional do Marreco (Fenarreco) em um modelo semelhante à festa Incanto Trentino, de Nova Trento. O evento, que era realizado pela gestão municipal até 2017, passou a ser organizado por uma associação sem fins lucrativos, a Neotur.
O diretor de Turismo de Brusque, Sidnei Dematé, em seu discurso na sessão da Câmara de Vereadores nesta terça-feira, 26, informou que “esse é um modelo que dá certo”. A prefeitura estuda alternativas desde que a 34ª edição da Fenarreco foi encerrada, totalizando um prejuízo de R$ 355.381,00
“A prefeitura firma convênio com a associação e aí a entidade consegue valores melhores de mercado, não precisa fazer licitação, pode brigar por valores. A partir da hora que é terceirizada, não tem mais prejuízo”, argumentou Dematé.
A reportagem de O Município entrou em contato com a Neotur – responsável pela organização – para entender como funciona a festa. Conforme o secretário da associação, André Aladeu Orsi, a Neotur elabora um projeto no início do ano especificando todos os gastos que terão com a organização da festa e as atrações do evento.
Esse projeto é encaminhado para aprovação na Câmara de Vereadores e na prefeitura. Depois de aprovado, a associação abre uma conta corrente para que o município faça o depósito do valor da festa. “Todo projeto contempla o valor e o que será utilizado com aquele dinheiro. Depois nós precisamos prestar conta de 100% de todos os gastos”.
Paralelo a isso, a Neotur tem outra conta bancária que é utilizada para captar a receita da festa com a venda de espaço, venda publicitária, entre outros. Esse dinheiro também é utilizado para custear a festa. “Nunca é usado apenas o que foi pedido no projeto à prefeitura”, afirma.
Orsi explica que caso o evento termine com saldo positivo, esse valor é revertido em forma de benefícios turísticos para cidade.
Custos das festas
Na edição de 2019, a associação recebeu R$ 180 mil da prefeitura para fazer a 27ª Incanto Trentino, conforme o projeto aprovado pelo Legislativo e Executivo. A festa teve um total de R$ 244.003,07 de despesa e a receita contabilizou R$ 337.651,72. Com isso, o evento fechou com saldo positivo, que totalizou R$ 93.648,65.
Em contrapartida, o balanço da Fenarreco deste ano mostrou que o saldo negativo fechou em R$ 355.381,00. De acordo com os números apresentados pelo diretor de Turismo, as despesas da festa totalizaram R$ 1.203.023,66, já as receitas ficaram em R$ 847.642,00.
Em Nova Trento, o maior custo é com a estrutura do local, já que o município não tem um pavilhão próprio para realizar a festa. Com isso, a associação precisa alugar um local e estruturá-lo para realizar o evento.
O secretário explica que a construção do pavilhão de eventos de Nova Trento está na segunda fase e ainda levará alguns anos para ficar pronto. “Gastamos R$ 95 mil só nisso. Se tivéssemos a estrutura pronta, o valor cairia para R$ 40mil ou R$ 50 mil”, explica.
Já Brusque não tem esse problema, pois tem o pavilhão Maria Celina Vidotto Imhof. Mas em reportagem anterior, Dematé afirmou que um dos fatores que contribuiu para o prejuízo foi o fato de o valor do ingresso neste ano ter reduzido de R$ 25 para R$ 20.
Ele também destacou a redução de aproximadamente R$ 100 mil nas cotas da Cervejaria Germânia. Segundo ele, no ano passado foi feito um edital diferente e três cervejarias disputaram, incluindo a Germânia, que apresentou proposta para dois lotes.
No entanto, o último lote foi deserto, e como a prefeitura não tinha mais tempo hábil para uma nova licitação, foram fechados somente os dois lotes com a Germânia, no valor de R$ 251.100.
Lucros para cidade
Segundo o secretário da Neotur, o saldo no caixa da festa este ano foi positivo. Ele exemplifica que parte do valor será utilizado para instalação de dois tótens com a frase “Eu amo Nova Trento”, para que os turistas e moradores possam fazer fotos e divulgar a cidade nas redes sociais.
Por ser uma associação sem fins lucrativos, todo o dinheiro recebido com o evento é utilizado no município. “A Associação paga com esse recurso e não exonera o caixa da prefeitura para fazer essas ações. O dinheiro que retorna da festa é usando para o município novamente”.
Orsi explica que antes da iniciativa privada organizar a festa, a Prefeitura de Nova Trento era a responsável pelo evento e na época não era cobrada entrada. “Era outro tipo de festa, era menor. Nós aumentamos o tamanho dela. Se não me engano em 2017, última edição que a prefeitura fez, eles tiveram um gasto de R$ 188 mil”, recorda.
Na avaliação do secretário, apesar desta edição receber R$ 8 mil a menos do que foi gasto em 2017, “a festa foi três vezes maior e a gente ainda retornou R$ 93 mil em forma de investimento para o município”, destaca.
Cobrança da entrada
A edição deste ano da Incanto Trentino, que ocorreu no início de agosto, teve quatro dias de festa. A organização optou por deixar a quinta-feira, primeiro dia do evento, sem cobrança de entrada. Já na sexta-feira, sábado e domingo foi cobrado o ingresso durante todo o dia. Neste ano, o ingresso para um dia custava R$ 15 e o passaporte para os três dias de festa, R$ 30.
Segundo Orsi, mesmo cobrando entrada na maior parte dos dias da festa, o público aumentou. Ele considera que a festa promovida pela associação é diferente e acabou chamando atenção do público.
No entanto, a Neotur estuda fazer a cobrança em horários alternados na próxima edição da festa. “Em horários mais vazios, para as pessoas irem para festa, entrar e consumir lá dentro, essa é a intenção”, explica.
Na Fenarreco a organização é diferente. Durante os 11 dias de festa foi cobrado ingresso apenas na quarta, quinta, sextas-feiras e sábados, com exceção da quinta-feira de abertura da festa. Além disso, a cobrança iniciava após as 16h30. Nos demais dias do evento não era cobrada entrada do público.
Ao longo dos quatro dias da Incanto Trentino, a organização acredita que passaram entre 10 mil a 15 mil pessoas. No entanto, o número cresceu se comparado ao período em que a festa era organizada pela prefeitura, quando era registrado entre 6 mil a 8 mil pessoas.
Orsi ainda avalia que caso a Fenarreco passe a ser organizada pela iniciativa privada será necessária “uma associação com garra e coragem para fazer a festa funcionar”.
“Não vejo que daria certo se passasse para uma iniciativa privada que visa apenas o lucro. Se passar para uma associação sem fins lucrativos seria show de bola, acho que é a melhor coisa. É bom para a prefeitura e para quem pega porque ganha notoriedade. A nossa associação dobrou o número de associados depois que assumimos a Incanto Trentino”, pontua.