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Como eu era antes de você

“Há vários motivos para não se amar uma pessoa e um só para amá-la”.

Carlos Drummond de Andrade

 

O best-seller homônimo da escritora britânica Jojo MoyesComo eu era antes de você”, publicado pela editora Intrínseca em janeiro de 2012, estourou em vendas, mais de 5 milhões de exemplares vendidos em todo o mundo e foi indicado para o Goodreads Choice Awards de Melhor Ficção.

A obra narra a história de Will, um jovem de 35 anos, rico e bem-sucedido até ser atingido por uma moto. O acidente o torna tetraplégico, depressivo e extremamente cínico.

 

– E sabe o quê¿ Ninguém quer ouvir esse tipo de coisa. Ninguém quer ouvir você falar que está com medo, ou com dor, ou apavorado com a possibilidade de morrer por causa de alguma infecção aleatória e estupida. Ninguém quer ouvir sobre como é saber que você nunca mais fará sexo, nunca mais comerá algo que você mesmo preparou, nunca vai segurar seu próprio filho nos braços. Ninguém quer saber que às vezes me sinto claustrofóbico estando nesta cadeira, que tenho vontade de gritar feito louco só de pensar em passar mais um dia assim…

 

É neste contexto que Louisa Clark, aos 26 anos, sem muitas ambições e qualificações e precisando de um emprego para ajudar no sustento da família é contratada para cuidar dele. A jovem passa a frequentar a casa dos Traynor e a conviver com o Will. Ela faz o possível para melhorar o estado de espírito dele:

 

“Não consegui ver sua boca, mas seus olhos se apertaram um pouco divertidos. Eu queria que continuassem assim. Queria que ele fosse feliz, que seu rosto perdesse aquele ar assustado e alerta. Comecei a tagarelar. Contei piadas. Cantarolei baixinho. Fiz de tudo para estender o momento antes que ele voltasse a ser sombrio.”

Em cena do filme: Lou e Will vão ao casamento e dançam em sua cadeira de rodas.

 

O que Will não sabe é que Lou está prestes a trazer cor a sua vida. E nenhum dos dois desconfia de que irá mudar para sempre a história um do outro.

 

Em junho deste ano a obra foi adaptada para o cinema e o longa promete repetir o sucesso literário. A produção do filme caprichou na escolha do elenco, trazendo Emilia Clarke, Daenerys Targaryen de Game of Thrones, como Louisa Clark e Sam Claflin, de Jogos vorazes, como Will Traynor. É um filme de drama romântico dirigido por Thea Sharrock e tem seu roteiro criado pela escritora Moyes. Cinco músicasdão destaque especial para a trilha sonora de “Como eu era antes de você”: The Sound, The 1975; Photograph, Ed Sheeran; Surprise Yourself, Jack Garratt; Happy With Me, Holychild e Max Jury, Numb.

A autora que nasceu em 1969, em Londres, passou a se dedicar integralmente a carreira de romancista em 2002, quando o seu primeiro livro “Sheltering Rain” foi publicado. Moyes é um dos poucos autores que ganharam o The Romantic Novelists’ Association’s Romantic Novel of the Year Award duas vezes; a primeira vez em 2004 com o livro Foreign Fruit e em 2011 com The last letter from your love.

Como certa vez nos diria Franz Kafka “Queremos livros que nos afetem como um desastre. Um livro deve ser como um machado diante de um mar congelado em nós”. E talvez a esse fato, se deva o sucesso que a autora vem tendo com suas obras.

 

“Como eu era antes de você”, nos diz muito mais sobre o amor, do que sobre a perda, embora ela esteja muito presente na narrativa. Mesmo que muitos leitores e expectadores estejam com o coração partido pelo fato do personagem Will não ter mudado de ideia sobre o apelo de Lou para continuar sua vida, a autora nos convida a transpor as críticas, as moralidades, e o que impera urgente como desejo em nós mesmos, em favor de outro, um sentimento de gentileza, compreensão, ternura. Amar, sem questionar ou exigir. Como uma faca que corta a carne, que machuca, mas reaviva a memória: que a vida é a cada segundo que passa, que não temos controle sobre ela e que independente das nossas batalhas diárias, o amor ainda é a força mais sutil do universo. E o amor, pode ser vivido de diversos modos. E toda maneira, será amor.

 

“loving can heal

loving can mend your soul

and it’s the only thing that I know

I swear it will get easier

remember that with every piece of you

and it’s the only thing we take with us when we die”

 

(trecho da música Photograph, Ed Sheeran)

 

Saio do cinema, com os olhos reluzentes, abarcados pelo choro. Não penso, nas cenas tristes. Penso no amor: na certeza, de que pouca coisa é necessária para transformar inteiramente uma vida: amor no coração e sorriso nos lábios.

 

 

Méroli Habitzreuter – escritora e ativista cultural