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Como funciona o Golpe da Lasanha?

Golpe de Mestre-Cuca

Nessa semana Brusque se tornou pioneira em mais um assunto nunca antes visto aqui por essas bandas de Schnéeburg. Já ouvimos falar do golpe da pirâmide, do golpe do bilhete premiado, do golpe do Uno Zero KM da Ana Maria Braga, do golpe da Casa do Baú do Sílvio Santos, mas nunca na história desse município havíamos ouvido falar no Golpe da Lasanha.

Somos pioneiros em mais uma coisa, além do Vovô do Futebol Catarinense, do Berço da Fiação, agora somos a cidade do Golpe da Lasanha, uma nova modalidade de crime em que se não der pra vender o produto do roubo, pelo menos o cara enche o pandulho com a mercadoria. É o verdadeiro golpe de mestre-cuca! Nem o Garfield tinha pensado numa coisa dessas que aconteceu aqui!

Coleção de Marinex

Como funcionava o esquema? O cara ligava para uma pessoa que fazia salgados, dizia ser um grande empresário da cidade, encomendava vários pratos (lasanhas, pastelões, pastéis, etc), falava que um dos seus funcionários passaria para pegar a encomenda e que depois era para a pessoa passar na empresa para cobrar. Ao que tudo indica, ele mesmo passava para pegar as encomendas e depois a pessoa se dirigia até a empresa para cobrar e ficava sabendo do golpe. Até as travessas ficavam com o cara!

Café ou loja

Qual é a lógica desse crime? Uma das hipóteses é que o inventor do golpe estaria tentando fazer um estoque de 100 lasanhas, 55 pastelões, 28 pão quentes e 12.000 pastéis de carne congelados, para iniciar suas atividades num ramo que cresce a cada dia, o ramo de Café Colonial. Essa hipótese foi devidamente descartada porque ao ser autuado, o mesmo só possuía as travessas em seu poder e o produto comestível do delito já não se encontrava nos pratos, mas sim no Rio Itajaí-Mirim, em adiantado estado de decomposição.

O que nos leva a crer em uma segunda hipótese. Já que o mesmo tinha em seu poder inúmeras travessas, a ideia final do negócio seria a abertura de uma loja de produtos domésticos especializada no ramo de marinex para lasanhas e afins. Ficaria rico rapidamente de forma ilícita, pois teria um lucro de 100% em todas as suas vendas, podendo assim quebrar o nosso forte comércio local de louças, o que representaria um abalo significante na nossa economia.

Boa fé

O que me dá pena nessa história é das pessoas que foram lesadas nessa ação. Imagina a senhora que recebeu a encomenda, que era para ser de um grande empresário da cidade. Ela pensou: “Meu Deus, vou cozinhar pro fulano de tal! Vou caprichar, né! Aí ele espalha pros amigos dele e vou ampliar meu negócio!”. Ao invés de colocar uma lata de creme de leite, colocou duas. Ao invés de colocar carne moída de segunda na lasanha, colocou de primeira. 

lasanha dela que já era a melhor da cidade, virou a melhor do Brasil. Até comprou travessas novas porque as que ela tinha estavam com seu nome escrito embaixo com esmalte, não ficava bem para ela levar para um empresário um prato daqueles. Coitada, passou o final de semana inteiro assando lasanha e fritando pastel para que tudo saísse o mais 100% possível.

Mais boa fé

Quando a pessoa foi até a sua casa pegar a encomenda ela ainda falou: “Olha moço, está tudo aqui como combinado! Espero que o fulano de tal goste do meu tempero, fiz com muito carinho! Diz pra ele que o meu marido mandou um abraço pra ele, eles estudaram juntos no Feliciano Pires!”. E o galego do golpe: “Pode deixar, minha senhora, o recado será dado.

A senhora só não esquece de passar amanhã de manhã bem cedo na portaria da empresa para pegar o seu dinheiro e os pratos, ok? Já vou pedir pra menina do cafézinho deixar tudo bem limpinho!”. E a senhora: “Obrigado meu filho, vai com Deus!”. Infelizmente, aquela senhora nunca mais veria aquelas travessas.

Me “enganaro”!

No dia seguinte, a senhora vai até a portaria da empresa e fica sabendo que não haviam deixado nada para ela, nem o dinheiro das encomendas, nem os pratos. Encucada, ela começa a pensar: “Será que eu tô doida? Mas eles ligaram daqui pra encomendar os pratos!”. Conversa novamente com o porteiro da empresa, o porteiro conversa com o pessoal do escritório e nada de dinheiro, nada dos pratos. Nisso vem a moça do cafezinho e diz que não teve lasanha na empresa no dia anterior.

A senhora começa a encasquetar: “Assim é fácil “esses” pessoal ser rico! Pedem as coisas e depois não pagam a gente! Desse jeito eu também ando de carro importado!”. Até que tudo se esclarece e a pessoa vê que caiu em um golpe novo: o Golpe da Lasanha.

Sucker & Fucker

O fato é comunicado a Polícia Civil! Todos os delegados, agentes, comissários, datilocopistas, escrivãos, carimbistas, estenógrafos, enfim, todo o efetivo sai atrás do culpado por tamanho desaforo, visto que essa prática da encomenda de bolos e salgados segue uma cartilha de confiança que remonta aos tempos de Dom Pedro I e que poderia atrapalhar esse comércio que representa “gorda” fatia da informalidade no nosso município.

O acontecido vem à tona e a população fica estarrecida com o ocorrido. As quituteiras da cidade resolvem entrar em greve em solidariedade com as perdas das amigas. As pessoas nas repartições públicas, escritórios, consultórios e garagens de automóveis começam a ficar de mau humor pela falta dos salgados e doces de fim de tarde. A cidade ameaça entrar em colapso total!

Apreensão recorde

Mas passados alguns dias, a polícia chega ao culpado. Fotos das travessas com a carteira da Polícia Civil em cima delas circulam pelo mundo afora, é a maior apreensão de Marinex da história da humanidade, é Guiness Book garantido. A pobre senhora que foi lesada vai fazer o reconhecimento do rapaz e diz que ele está muito gordo para ser a pessoa que foi até a sua casa.

O delegado afirma que deve ser porque ele comeu todas as lasanhas que ela fez, mais os pastéis. Ela não se conforma, mas mesmo assim reconhece o dito cujo. É o triste fim do maior golpe no ramo alimentício informal que se tem notícia na região.

Ali Babá

Imagina só um filme contando essa história? O nome do filme seria “Ali Babá e as 40 Lasanhas”. No papel do cara que cometeu o golpe: André Marques do Vídeo Show. No papel da senhora dos salgados: Dona Benta do Sítio do Pica-Pau Amarelo. No papel do empresário que teve o seu nome indevidamente utilizado para cometer o delito: Tarcísio Meira. No papel do delegado: José Luis Datena. E no papel da moça do cafezinho: Juliana Paes. Com essa história e com essa galera aí, não tem erro, é Palma de Ouro em Cannes de certeza!

(texto publicado no Papo de Bar do Jornal Município Dia a Dia de 03/03/2012)

Fernando Lauritzen (lauritz@terra.com.br)