Como a Pronegócio manteve as pequenas empresas da região ativas durante a pandemia da Covid-19
Tradicional evento da Ampebr precisou se reinventar para ajudar a manter a roda da economia girando
Anualmente, a Associação das Micro e Pequenas Empresas de Brusque e Região (Ampebr) realiza quatro edições do evento, com a apresentação das coleções de Inverno, Primavera/Verão, Alto Verão e Outono/Inverno. Com a edição que finaliza nesta quinta-feira, 26, já foram realizadas 56 Pronegócios em Brusque desde 1997, evidenciando a sua relevância para todo o setor.
Como se trata de um evento extremamente importante para a cadeia têxtil de Brusque e região, a Ampebr precisou se adaptar para realizar a Pronegócio, mesmo durante a pandemia da Covid-19.
“A nossa Pronegócio já era um evento consolidado. Então veio a pandemia e ficamos sem saber até onde poderíamos agir. Era tudo muito incerto”, diz a presidente da Ampebr, Sandra Neli Werner.
Não poderíamos ficar sem o evento porque seria extremamente danoso para as empresas e, consequentemente, para a economia da nossa região
A 53ª edição do evento que estava programada para acontecer em maio de 2020, na Sociedade Beneficente e Recreativa Santos Dumont, foi cancelada. A associação, entretanto, preocupada com a sustentabilidade das empresas, principalmente das micro e pequenas, que dependem dos negócios gerados durante a Pronegócio para se manterem ativas, foi em busca de alternativas para promover a rodada de confecção.
“Não poderíamos ficar sem o evento porque seria extremamente danoso para as empresas e, consequentemente, para a economia da região”, destaca Sandra.
Com isso em mente, a entidade começou a estudar formas para realizar o evento, dentro de todas as regras e cuidados que o momento exigia. Várias reuniões para discutir o assunto foram realizadas até chegar ao modelo da Pronegócio Web, alternativa encontrada para possibilitar as negociações entre clientes e fabricantes do segmento de confecção.
Encurtando distâncias com a internet
Assim como boa parte do mundo, a solução encontrada para continuar trabalhando ‘normalmente’ foi a internet. E, em pouco tempo, o evento que sempre foi presencial, foi realizado on-line.
Uma plataforma própria foi desenvolvida pela empresa DSIX Tecnologia. No sistema, os lojistas tiveram acesso a um showroom virtual, com fotos padronizadas de 10 mil looks disponibilizados para negociação, no qual cada empresa participante tinha 60 referências disponíveis.
Os clientes cadastrados para participar da Pronegócio Web tiveram acesso a esse sistema, com a visitação virtual do showroom. Com isso, foi possível avaliar todos os modelos disponíveis e fazer a negociação com os fabricantes, assim como acontece na forma presencial.
“O lojista agendava, e na hora marcada, estava on-line o fornecedor e o comprador. A negociação acontecia por vídeo. O fornecedor tinha a oportunidade de mostrar outras peças, de tirar dúvidas em relação ao material utilizado, aos prazos de entrega. Toda a venda era fechada on-line”, lembra a presidente da Ampebr.
Foram realizadas duas Pronegócios no formato web em 2020. Na edição de estreia do modelo, participaram 150 empresas fabricantes de Santa Catarina, e cerca de 600 lojistas de todo o país. Já na segunda edição foram 140 fabricantes e mais de 600 compradores.
Embora tenham contado com uma boa participação, as duas edições on-line da Pronegócio tiveram uma redução no número de negociações, o que já era esperado pela associação e pelos fabricantes. Ainda assim, o modelo é visto pela entidade como um case de sucesso e um exemplo de superação em meio a um momento tão crítico para as empresas quanto o da pandemia da Covid-19.
“Sabendo da responsabilidade, criamos e inovamos com a Pronegócio Web. A sensação é de dever cumprido. A Ampebr cumpriu seu papel como entidade”, avalia Ademir José Jorge, que presidia a Ampebr durante a realização das rodadas web.
Parceiro da Ampebr desde a primeira edição da Pronegócio, o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) teve parte importante na realização da rodada web. O gerente regional da Foz do Itajaí, Alcides Sgrott Filho, classifica a experiência como excelente.
De acordo com ele, o Sebrae deu apoio na parte de capacitação das micro e pequenas empresas participantes, já que muitas ainda não estavam familiarizadas com a realização de negócios pela internet.
“O Sebrae apoiou empresas para conseguirem ter estrutura e participar das rodadas on-line. A capacitação digital prestada foi fundamental porque fortaleceu muito o trabalho, não só durante as rodadas web, mas para entrarem de vez no mundo digital. A Pronegócio Web foi só o empurrão que precisavam”.
Formato “shopping” veio para ficar
Já em 2021, com a situação da pandemia mais controlada e algumas flexibilizações, a Ampebr retomou a Pronegócio de forma presencial. Porém, ainda adaptada, em um modelo diferente do que era realizado antes da Covid-19.
Era preciso seguir todas as medidas de segurança, manter o distanciamento e evitar aglomerações, por isso, surgiu a Pronegócio – Edição Shopping. Na nova edição, o formato das negociações foi adaptado com o objetivo de reduzir ao máximo a circulação dentro do local escolhido para o evento: o shopping River Mall.
A Pronegócio foi realizada em um espaço de 2 mil metros quadrados, com o tradicional showroom. Os boxes de negociação foram montados de forma organizada e com distanciamento, nos espaços das salas comerciais vagas do River Mall. Anteriormente, as araras com as peças circulavam o tempo todo dentro do espaço da Pronegócio. Os lojistas ficavam dentro de uma sala, esperando serem chamados pelos fornecedores para negociar.
No formato shopping, o modelo foi invertido. Agora, os fornecedores aguardam em seus espaços os lojistas para as negociações.
“É como se fosse um shopping mesmo. O lojista visita o showroom e aí agenda com o fornecedor, que estará o aguardando para a negociação. Desta forma, aconteceu uma redução de circulação de pessoas e aglomerações. Conseguimos distribuir de uma forma confortável. E com a mudança, verificamos novas maneiras de funcionar, que agradaram ambas as partes”, destaca a presidente da Ampebr.
Nas edições shopping, a entidade reduziu o número de fabricantes presentes e também o de compradores, para poder se adequar às regras sanitárias. A primeira edição presencial durante a pandemia reuniu 120 fabricantes e em torno de 500 lojistas. O segundo evento neste modelo teve números semelhantes.
O resultado das duas rodadas realizadas no novo layout surpreendeu a presidente da entidade. “Os números conseguiram chegar perto do que tínhamos nas Pronegócios antes da Covid-19. O número de negócios por fornecedor aumentou, porque diminuímos os fornecedores e mantivemos os compradores, então foi tudo muito positivo”.
O novo modelo, inclusive, deve se tornar permanente, já que agradou todos os participantes. Nesta última edição, realizada na Sociedade Santos Dumont, o formato se manteve.
“A onda vai muito longe”
De acordo com o Plano de Desenvolvimento Econômico de Brusque (Pedem), desenvolvido dentro do programa Cidade Empreendedora do Sebrae, 92,1% das empresas do município são microempresas e 6,9% são consideradas pequenas. Juntas, as micro e pequenas empresas são responsáveis por 60,1% dos empregos de Brusque.
Quando avaliadas as principais atividades econômicas de Brusque em volume de empresas, as de confecção de artigos do vestuário e acessórios estão em terceiro lugar, representando 10,1% do total. Já em relação à geração de empregos, o setor de confecção de artigos de vestuário e acessórios representa 12,1%, de acordo com o Pedem.
“Brusque é um município muito forte neste setor da moda, da confecção e da malharia. A cidade se destaca em produtividade e a maior parte das empresas são pequenas ou micro. Por isso, foi fundamental a adaptação da Pronegócio durante os meses mais críticos da pandemia, para poder dar um fôlego e manter essas empresas ativas”, ressalta o gerente regional do Sebrae, Alcides Sgrott Filho.
A presidente da Ampebr, Sandra Neli Werner, destaca a importância da Pronegócio para a economia da cidade, pois muitas empresas dependem das vendas na rodada para produzir.
“Neste período difícil, conseguimos manter a economia girando. Temos uma particularidade no setor de confecção que são muitos serviços terceirizados. E esse fornecedor que participa da rodada gira uma roda da economia muito maior do que parece, por isso a importância da Pronegócio. A onda vai muito longe, não para no comprador e no fornecedor. Conseguirmos realizar as rodadas durante a pandemia foi muito importante para todos”.
A onda vai muito longe, não para no comprador e no fornecedor. Conseguirmos realizar as rodadas durante a pandemia foi muito importante para todos
O vice-presidente da Federação das Associações de Micro e Pequenas Empresas e dos Empreendedores Individuais (Fampesc), Luiz Carlos Rosin, destaca que a Pronegócio tem sido um grande divisor de águas para as pequenas e médias empresas, não apenas de Brusque, mas de todo o setor têxtil do estado.
“Foi um momento de grande dificuldade e a alternativa que surgiu deu certo. O sistema de negócio mudou muito. Foi preciso sair do convencional para o on-line e as pequenas empresas foram se adaptando, buscaram conhecimento com o Sebrae, com a federação e conseguiram passar por esse período com a ajuda da Pronegócio”.