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Confira como é feito o combate aos incêndios no Parque Nacional da Serra do Itajaí

Primeiros focos de incêndio surgiram há quase um mês

Proteger o Parque Nacional. Esse é o sentimento que permeia a equipe que trabalha há quase um mês no monitoramento e combate ao incêndio que consome o interior do Parque Nacional da Serra do Itajaí. Até agora, já foram consumidos uma área comparada a 65 campos de Futebol.

Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade/Divulgação

O primeiro alerta ocorreu no dia 6 de maio, quando, pelo monitoramento de rotina por satélite, técnicos do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) detectaram três focos de calor no interior da Unidade de Conservação Federal.

Imediatamente, uma equipe formada pelos servidores do parque, Corpo de Bombeiros Militar e voluntários da Associação de Ecoturismo, Preservação e Aventura do Vale do Itajaí (Assepavi) entrou na mata e confirmou que se tratava de um incêndio de grandes proporções. A Coordenação de Prevenção e Combate a Incêndios do ICMBio, em Brasília, foi acionada e equipes se mobilizaram em direção a Botuverá para planejar a atuação.

O território do Parna da Serra do Itajaí está sobreposto a nove municípios catarinenses. Desses, somente dois foram afetados pelo fogo: Guabiruba e Botuverá. A base operacional para combate do Incêndio está montada no município de Botuverá em função do acesso aos focos ser facilitado, no entanto, a maior parte da área queimada está dentro do território de Guabiruba, numa região de topo de morro entre o limite dos municípios indo até o vale em volta da bacia hidrográfica do Rio Cristalina.

Na tarde desta terça-feira, 2, aconteceu uma reunião entre técnicos do ICMBio, Corpo de Bombeiros Militar, Defesa Civil estadual, Assepavi, Reserva Estadual Canela Preta e prefeituras de Guabiruba e Botuverá para discutir o apoio necessário à operação de combate. Da Prefeitura de Guabiruba, estiveram presentes o prefeito Matias Kohler e o secretário de Turismo Andrei Müller.

Dados reais

Depois de identificados os primeiros focos, Corpo de Bombeiros e parte da equipe fizeram um sobrevoo de helicóptero na região. Já no dia, o impacto das imagens foi grande pelo tamanho da área que ardia em chamas e que era possível visualizar da aeronave. No entanto, devido ao mau tempo, o voo teve que ser finalizado antes do previsto.

A cada 15 dias, o satélite que monitora o parque captura imagens espaciais do local. Na última terça foi possível acessar a imagem mais recente e, ao comparar com o que havia sido observado do helicóptero, as equipes perceberam que o impacto ambiental causado e a área queimada têm mais que o dobro do tamanho que se imaginava.

O fogo começou em uma costa da cadeia do morro do Canelão, onde a vegetação predominante é samambaia. Devido às suas características naturais aliadas à seca histórica que atua sobre a região, o poder de combustão foi potencializado, o que fez com que o fogo se alastrasse montanha abaixo. “Percebemos que do foco inicial, ele foi se espalhando em forma de dedos pela floresta descendo a encosta. Provavelmente já atingiu a margem do Rio Cristalina”, conta o presidente da Assepavi Ivo Leo Schmitz.

Trabalho

Desde o início do incêndio, várias equipes vêm se juntando ao trabalho de combate ao fogo. No momento, as instituições presentes são: Parna da Serra do Itajaí (SC), Núcleo de Gestão Integrada do ICMBio Antonina – Guaraqueçaba (PR), PARNA São Joaquim (SC), PARNA Serra dos Órgãos (RJ), Assepavi, Corpo de Bombeiros Militar de Santa Catarina, Reserva Biológica Estadual Canela Preta e municípios de Guabiruba e Botuverá.

O trabalho não se resume a somente tentar apagar o fogo, mas envolve toda uma logística gigantesca com pessoas, equipamentos e mantimentos, tudo com segurança. As dificuldades são inúmeras. O acesso aos focos é dificílimo. Além do terreno íngreme, não há trilhas abertas na direção do fogo. As picadas estão sendo abertas a facão, com o mínimo de impacto. Da entrada do parque até o acampamento é cerca de uma hora e meia de caminhada morro acima. Dessa base até os pontos de combate vai mais uma hora, tudo em um trajeto irregular e perigoso.

Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade/Divulgação

Esse é o esforço que os voluntários precisam fazer para levar água, comida, baterias e equipamentos até os brigadistas do ICMBIo, que estão no combate direto. Para isso, a Assepavi está fazendo um cadastramento de voluntários. “Porém, salientamos que não pode ser qualquer voluntário. Essa pessoa tem que ter preparo físico e experiência em montanhismo. Ela vai caminhar na mata fechada carregando peso. Não podemos colocar pessoas em risco”, esclarece o presidente da associação Ivo Leonardo Schmitz.

De acordo com o analista ambiental do ICMBio Cesar Augusto Chirosa Horie, que veio do Paraná especialmente para trabalhar no combate, o incêndio no Serra do Itajaí tem várias particularidades que dificultam tudo. A floresta se sustenta sob uma espessa camada de serapilheira. Com a estiagem, essa camada está inflamável. Queimada a serapilheira, a sustentação das árvores desaparece fazendo com que elas tombem. “As picadas que abrimos estão novamente fechadas, agora pelas árvores que caíram com o fogo”, relatou durante a reunião.

Vários cursos d’água já secaram pela estiagem ou pelo fogo. O helicóptero Arcanjo, do Corpo de Bombeiros, tem feito o transporte de galões de água até o local, porém, o tempo precisa se manter estável para que os sobrevoos aconteçam. Além disso, a aeronave é chamada para atender outras ocorrências e nem sempre está disponível para o parque. Muitas dessas ocorrências são de outros incêndios. De acordo com o Corpo de Bombeiros de Santa Catarina, entre janeiro e maio deste ano a corporação atendeu a mais de 3,3 mil chamados para apagar fogo em vegetação.

Chuvas e perdas ambientais

Leandro Aranha, analista ambiental do ICMBio, durante a reunião ressaltou que a chuva que vem caindo sobre a região nos últimos dias não muda em nada o cenário de destruição no coração do Serra do Itajaí. “Pouco choveu sobre a área do incêndio e, neste momento, uma chuva torrencial pode representar ainda mais risco. Com o solo desprotegido, uma chuva mais forte faria com que toda aquela terra descesse podendo inclusive extinguir cursos d’água da bacia hidrográfica do Cristalina”, ressalta.

Conforme a bióloga e engenheira ambiental Fabiana Dallacorte, as perdas ambientais com o incêndio são incalculáveis. “Estamos falando de uma área nunca estudada onde sabemos que existem espécies endêmicas. Muito provavelmente perdemos animais e plantas que sequer chegamos a conhecer”, lamenta.

Cadastramento dos voluntários

As pessoas que desejem atuar como voluntários no apoio às equipes que combatem o incêndio no Parque Nacional da Serra do Itajaí podem procurar pela Assepavi através do site www.assepavi.com.br, e das redes sociais www.facebook.com/assepavi ou www.instagram.com/assepavi_aventura.