Conheça 10 fatos sobre a vida de Cônsul Carlos Renaux, que completaria 160 anos de nascimento
Um dos mais influentes moradores de Brusque na história nasceu em 11 de março de 1862
Um dos mais influentes moradores de Brusque na história nasceu em 11 de março de 1862
Karl Christian, conhecido como Cônsul Carlos Renaux, nasceu na cidade de Lörrach, no Grão Ducado de Baden, sul da atual Alemanha. Nesta sexta-feira, 11, completam 160 anos do nascimento de um dos moradores mais influentes na história de Brusque.
Com informações baseadas no arquivo do jornal O Município, com pesquisas de Paulo Kons e Rosemari Glatz, confira 10 curiosidades da vida do Cônsul.
Carlos Renaux chegou ao Brasil em 1882 e buscou emprego no Rio de Janeiro. Mesmo com carta de recomendação, ele não conseguiu uma colocação que lhe agradasse. Então, decidiu seguir para Santa Catarina. Em Blumenau, ele começou a trabalhar como caixeiro de Theodor Lueders, no bairro conhecido atualmente como Salto Weissbach.
Após alguns anos, ele foi trabalhar para Luiz Altenburg, em Gaspar, onde conheceu sua primeira esposa. Renaux e a família se mudaram para o recém-criado município de São Luiz Gonzaga (hoje, Brusque) tempo depois para assumir o cargo de gerente de uma filial da Asseburg & Willerding, empresa de comércio de exportação de produtos coloniais, em Itajaí. No ano seguinte, ele acabou adquirindo a filial que estava gerenciando.
Em 1890, nomeado pelo governo estadual, presidiu o Conselho Municipal. Foi escolhido para o cargo de superintendente (o equivalente ao atual prefeito) em várias gestões. Renaux era republicano e a derrubada do Regime Monárquico, em 15 de novembro de 1889, constituiu-se em fator determinante para a sua entrada bem-sucedida na política.
Carlos Renaux foi o primeiro administrador do município de Brusque. Além da criação da Renaux, ele foi responsável pela construção do Hospital Arquidiocesano Cônsul Carlos Renaux (ex-Santa Casa de Misericórdia), Maternidade Cônsul Carlos Renaux, Santuário de Azambuja e a reforma da Igreja Luterana no Centro.
Além disso, ele é homenageado pelo Clube Atlético Carlos Renaux, a avenida central de Brusque e o estádio Cônsul Carlos Renaux, do Clube Esportivo Paysandu. Além de dezenas de outras organizações, uma das principais instituições de ensino de Brusque também lhe presta homenagem: o Colégio Cônsul. Ele também é homenageado com o nome de uma rua em Itajaí, no bairro Cabeçudas.
“Brusque, Berço da Fiação Catarinense” foi o slogan do primeiro Centenário de Brusque, elaborado pelo padre e cientista Raulino Reitz.
O pioneirismo de Brusque foi graças à Fábrica de Tecidos Carlos Renaux, que foi a primeira empresa a instalar uma fiação em Santa Catarina. A empresa foi fundada em março de 1892 por Renaux, juntamente com o agricultor e comerciante Augusto Klappoth e Paul Hoepcke, também comerciante.
A Renaux cresceu rapidamente e se tornou uma das fábricas mais importantes do estado. Para os brusquenses, era um orgulho ter um familiar trabalhando na empresa.
Carlos Renaux se envolveu na política desde seus primeiros anos em Brusque. Em 1889, a derrubada do regime monárquico o impulsionou para este caminho, já que ele era republicano.
Ele atuou diretamente para a instituição da república no Brasil. Renaux contribuiu para constituir o Partido Republicano e foi eleito deputado estadual, participando da redação da primeira Constituição do Estado de Santa Catarina, em 1891.
Ele foi um dos chefes republicanos da cidade na Revolução Federalista, que durou de fevereiro de 1893 até agosto de 1895.
O confronto colocou de lados opostos os defensores de um poder maior ao presidente da república e os federalistas, que apoiavam a descentralização, com mais protagonismo dos estados. A guerra civil foi marcada por muitas atrocidades cometidas contra civis e militares.
Durante a Revolução Federalista, Renaux chegou a ser preso pelas tropas do general federalista Gumercindo Saraiva e submetido ao Conselho de Guerra, que o condenou à morte por fuzilamento. Ele, porém, foi salvo por um ferrenho adversário político, Elesbão Pinto da Luz, que interferiu para anular a decisão.
Após quase três décadas no Brasil, Carlos Renaux voltou à Europa no fim dos anos 1910 para tratar uma doença de sua esposa, Hanna, que acabou morrendo em Arnhem, nos Países Baixos, em 1919. Lá, ele acabou se casando com a sua governanta.
Ainda na Europa, ele ganhou o título de cônsul da presidência do Brasil e, em 1922, se mudou para Baden-Baden, na Alemanha. A mudança para seu país-natal veio após o aumento dos impostos nos Países Baixos. Além disso, o clima alemão era melhor para sua saúde.
De acordo com pesquisa de Rosemari Glatz, em 1932, Renaux decidiu voltar definitivamente para o Brasil. Quando ainda morava em Baden-Baden, contratou o engenheiro alemão Eugen Rombach para projetar sua residência em Brusque.
Neste meio-tempo, porém, ele visitou o país diversas vezes. Em 1931, por exemplo, em viagem ao Brasil, o cônsul recebeu, na casa do seu filho Otto, o ministro austríaco Andreas Thaler, que procurava local adequado para assentar as famílias que, em 1933, viriam a fundar a cidade de Treze Tílias.
Renaux teve três esposas durante sua vida. O primeiro casamento foi com Selma Wagner, em 1884. Ela era filha de Pedro Wagner, que participou da fundação da primeira colônia alemã de Santa Catarina e do primeiro assentamento ocorrido em Gaspar, em 1835. Selma acabou falecendo 18 anos depois.
Nove meses após a morte de Selma, Renaux casou-se com a atriz Johanna Maria von Schönenbeck, conhecida pelos brusquenses como Hanna. Em 1917, eles se mudaram para a cidade de Arnhem, nos Países Baixos, para tratar a doença de Hanna, que acabou falecendo no último dia do ano de 1919.
O último casamento de Renaux foi em 1920, em Arnhem, com sua governanta Maria Luiza Auguste Lienhaerts, conhecida como Goucky. A residência deles em Brusque foi denominada Villa Goucky em homenagem à neerlandesa. A última esposa do cônsul morreu em 1937.
Carlos Renaux foi o primeiro morador do Vale do Itajaí a ter uma geladeira e um ar condicionado importados. Entre 1919 e 1932, ele morou na Europa e, quando voltou, dando continuidade à sua trajetória de pioneirismo, criou a Sociedade Cultural e Beneficente Cônsul Carlos Renaux.
A partir desta fundação, veio o dinheiro para que Rodolfo Stutzer montasse a oficina na rua Tiradentes, onde foi produzida a primeira geladeira brasileira, a Consul, em homenagem a Carlos Renaux.
Ele e Guilherme Holderegger fabricavam anzóis, fios elétricos, peças para bicicletas e consertavam de tudo um pouco. Um dia, foram desafiados: uma geladeira importada que funcionava à base de querosene chegou à oficina precisando de conserto.
Os dois desmontaram todo o refrigerador, estudaram as peças e, a partir disso, fabricaram a primeira geladeira nacional. A oficina virou fábrica em 1950, em Joinville, e deu origem à Indústria de Refrigeração Consul. Nos dados corporativos da empresa, constam como fundadores Carlos Renaux, Guilherme Holderegger, Rudolfo Stutzer e Wittich Freitag.
O primeiro refrigerador brasileiro a ser comercializado foi chamado de Consul Júnior, e funcionava a querosene e com resistência elétrica. O logo da Consul na época se assemelhava a caligrafia do Carlos Renaux
Em sua pesquisa para o livro “Política, Poder e Fortuna: Nuances da vida do Cônsul Carlos Renaux”, lançado nesta quinta, 10, Rosemari Glatz constatou que Renaux aparecia em várias fotos usando uma trombeta e, em outras, uma bengala. Mais para o final da vida, era comum que ele utilizasse as duas juntas.
Renaux nasceu com um problema auditivo e, por isso, não pode servir ao exército alemão. Ao longo da vida, a deficiência se agravou e, quando mais velho, precisou fazer o uso de uma trombeta específica para ser utilizada no ouvido, e com isso, escutar um pouco melhor.
Esse equipamento era o mais eficaz para auxiliar a audição até o início do século XX, permitindo que a pessoa direcionasse o ouvido para sons desejados e, ao mesmo tempo, protegendo de sons de fundo. Renaux utilizou o dispositivo até sua morte.
A bengala, por outro lado, era um adereço utilizado por Renaux como símbolo de status e charme para a burguesia da época. Muito vaidoso, ele possuía várias bengalas de madeira esculpida e materiais nobres, utilizando a que mais ornasse com seu traje dependendo da ocasião.
No início da década de 1900, os dirigíveis eram considerados uma das tecnologias de ponta do mundo, mas, até meados da década de 1930, apenas Alemanha e Brasil tinham a infraestrutura necessária para as viagens, quando voos comerciais começaram a ser realizados entre os países.
Em parceria com a Companhia Zeppelin, da Alemanha, o então presidente Getúlio Vargas construiu o Aeroporto Bartolomeu de Gusmão em Santa Cruz, no Rio de Janeiro, considerado o maior do mundo naquele momento.
Em 1932, o Cônsul Carlos Renaux, que tinha dinheiro suficiente para realizar uma viagem de alto custo na época, atravessou o Atlântico no trajeto Frankfurt – Recife – Rio de Janeiro a bordo do Graf Zeppelin. O voo em que Renaux estava foi noticiado em jornais da época e também foi registrado em vídeo, utilizado no documentário “Flying Down To Rio 1932” produzido pela British Pathé.
Renaux morreu no dia 28 de janeiro de 1945, em sua casa. Os relatos são que Brusque parou por causa da morte dele, a pessoa mais ilustre da cidade na época. Prefeito da época, Rodolfo Gerlach decretou luto oficial e feriado municipal pelo falecimento.
Ele foi sepultado no cemitério luterano, ao lado da primeira esposa, no dia 29. Grandes autoridades do estado, o interventor federal Nereu Ramos e o arcebispo metropolitano Dom Joaquim Domingues de Oliveira se deslocaram até Brusque para a ocasião.
O pastor Lindolfo Weingaertner foi trazido de Ibirama pela família de Renaux para o sepultamento, já que Brusque não contava com nenhum pastor luterano.
Mais de 10 mil pessoas acompanharam o velório e sepultamento de Renaux, espalhadas desde a Igreja Luterana até a ponte Coronel Vidal Ramos Júnior, onde é agora a ponte estaiada.
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