Conheça a filatelia, hábito de colecionar e pesquisar selos postais
Em Brusque, Clube Filatélico tem 81 anos e reúne 20 membros
Em Brusque, Clube Filatélico tem 81 anos e reúne 20 membros
Da troca de correspondências nasceu a filatelia, o hábito de colecionar, estudar e pesquisar selos postais. Na era dos aplicativos de mensagens, os tempos em que a principal comunicação era a carta parecem ser cada vez mais distantes, no entanto, por meio da filatelia, ainda há aqueles que mantém essa forma de comunicação viva e cada vez mais ativa.
Em Brusque, os colecionadores de selos postais fazem parte do Clube Filatélico Brusquense, que completou 81 anos de atividades nesta semana. O clube nasceu em 1935 por iniciativa de Ayres Gevaerd, José Boateux Piaza, Oscar Gustavo Krieger e Érico Jorge Krieger e, mesmo com o passar dos anos e a evolução da tecnologia, ainda permanece ativo, com membros cada vez mais apaixonados.
O economista Jorge Paulo Krieger Filho, 65 anos, é o presidente do clube brusquense e um dos membros mais antigos. Ele faz parte da entidade desde a década de 1960, quando ainda era adolescente e iniciou na filatelia pela influência da família, já que seus tios foram fundadores do clube.
“Coleciono selos desde os 10 anos. Eu ia no Correio com a minha família, comprava os selos e achava muito interessante. Vendo os meus tios, comecei a colecionar e continuo até hoje”, diz.
Hoje, o clube conta com 20 membros ativos que se reúnem mensalmente para trocar informações e analisar as coleções e selos uns dos outros. Na filatelia, dois instrumentos são fundamentais: a lupa e a pinça. Como são muito delicados, os colecionadores pegam os selos com uma pinça e, com a lupa, analisam todos os seus detalhes. Todo colecionar tem também o seu próprio álbum, onde guarda todos os selos. Há também aqueles que organizam os selos dentro de classificadores. “Tenho vários álbuns e classificadores, mas nunca contei quantos selos eu tenho. São milhares, impossível contar um por um”.
Coleções temáticas
Na filatelia, as coleções são divididas por temas. Desde selos sobre a flora até do Império do Brasil. Há selos dos mais variados estilos. Geralmente, os amantes da filatelia escolhem um tema e passam a explorá-lo. “Na filatelia só sabemos a data de início da coleção, porque a qualquer momento podem lançar um novo selo”, afirma.
Hoje, Krieger Filho se dedica à coleção de selos relacionados à maçonaria. “Além de um hobby, considero a filatelia uma janela aberta para o mundo, porque através dos selos eu começo a pesquisar sobre o tema e adquiro muito conhecimento. Pelo selo conheço detalhes da história”.
O brusquense Jorge Bianchini, 66 anos, é membro do Clube Filatélico e coleciona selos com a temática dos Jogos Olímpicos e também da Copa do Mundo. “Tenho selo dos primeiros Jogos Olímpicos da Era Moderna, de 1896, até os atuais, do Rio 2016. Também tenho selos da primeira Copa do Mundo, realizada em 1930, no Uruguai, até a inesquecível Copa do Mundo de 2014”, diz.
Já o aposentado Nilo Sérgio Krieger, 66 anos, coleciona selos com o tema aviação. Ele também entrou no clube na década de 1960, quando era adolescente, e já colecionou selos de vários temas. “Na juventude eu colecionava sobre astronáutica, então eu sabia tudo sobre a corrida espacial pela filatelia. Depois disso, passei para o tema aviação e coleciono até hoje”, conta.”É um passatempo de família, começou com meu pai, passou pra mim, eu passei para o meu filho e espero que chegue até meus netos”, completa.
O engenheiro têxtil Wallace Nóbrega Lopo, 52 anos, também é membro do clube brusquense. Ele começou a colecionar selos aos sete anos e, desde então, não parou mais. Hoje, ele se dedica à filatelia clássica, que é a coleção de selos sobre o Império do Brasil, desde o selo olho de boi, o primeiro selo emitido pelo Brasil, até o fim do Império. Lopo, inclusive, tem três selos Olho de Boi. Um ele comprou de um filatelista baiano, e os outros dois adquiriu em leilões. “Esse é um selo muito raro porque foi emitido muito pouco. Também tenho coleção dos primeiros selos do mundo. O meu grande interesse é adquirir conhecimento pelos selos”.
Correspondentes
Como não poderia deixar de ser, os filateistas brusquenses se correspondem com outros entusiastas por meio de cartas. Assim, conseguem garantir selos raros, que são emitidos em outros países. Krieger Filho, por exemplo, se corresponde com colecionadores da Hungria, África do Sul, Alemanha, Inglaterra e Estados Unidos. “Trocamos informações por carta. Eu mando selos do Brasil e eles mandam selos de lá, e assim vamos construindo essa relação. Além de aprender muito, fazemos novas amizades”.
O valor dos selos depende da sua raridade. Os mais antigos e históricos tem valores altos. Um exemplo é o selo Three-Skilling Yellow, que é o selo mais popular do mundo. Ele foi vendido em 2010 num leilão realizado em Genebra, na Suíça, por 1,82 milhões de euros, mais de R$ 4 milhões.
O Three-Skilling Yellow foi emitido em 1855 na Suécia e o seu aparecimento foi acidental. A cor normal do Three-Skilling era verde, enquanto o Eight-Skilling era amarelo, mas, graças à troca de placas de impressão, o selo Three-Skilling saiu com a cor trocada e foi o único exemplar impresso com a cor amarela.
Tradição
O Brasil tem tradição na filatelia. Foi o segundo país no mundo a emitir um selo postal, o chamado Olho de Boi, de 1843, atrás apenas do inglês Penny Black, de 1840.
Para manter a filatelia viva, os entusiastas acham importante derrubar o mito de que filatelia é coisa da terceira idade. A ideia do clube brusquense é levar a filatelia para as escolas, estimulando, assim, a entrada de jovens neste mundo. “Queremos fazer mais exposições, mostrar mesmo esse mundo que é tão interessante e proporciona tanto conhecimento para os jovens”, destaca Krieger Filho.