Conheça a história do padre Adilson José Colombi, um dos mais longevos de Brusque
Natural de Botuverá, a padre Adilson mantém sua conexão com a terra e quer seguir servindo à comunidade mesmo já com o avanço de sua idade
Natural de Botuverá, a padre Adilson mantém sua conexão com a terra e quer seguir servindo à comunidade mesmo já com o avanço de sua idade
Nascido no afastado bairro do Ribeirão Porto Franco, em Botuverá, o padre Adilson José Colombi ganhou o Brasil e o mundo em sua longa trajetória com a Igreja Católica. Atualmente com 81 anos, ele vive uma rotina bem mais pacata do que a de décadas atrás, mas continua se entregando como pode para servir ao seu propósito.
O Ribeirão Porto Franco é uma região agrícola e de montanhas, e o padre Adilson conta que “nasceu como colono” e trabalhou desde pequeno na agricultura com seus pais João e Tereza e seus 11 irmãos – destes, seis já faleceram. “Esse contato com a natureza eu ainda tenho como referência na minha vida”. Até hoje, ele tem orgulho de manter essas raízes.
Padre Adilson nasceu em 1942, pouco após um surto de poliomielite que matou várias crianças, inclusive um de seus irmãos, que morreu com três meses de vida. “Escapei dessa”, diz.
Ele começou seus estudos aos 6 anos e meio de idade, uma exceção na época. O pequeno Adilson acompanhava o irmão mais velho na ida à escola e, até o quarto ano, frequentou a Escola Reunida Carlos Maffezzoli.
Já nesta época ele percebeu que ser padre poderia ser um caminho para sua vida. Ele conta que não teve um fato específico que tenha sido marcante para que ele tomasse essa decisão, mas que o seu estilo de vida e da família construiu a trajetória.
“Meu irmão mais velho também foi para o seminário, aqui em Azambuja, mas acabou não seguindo depois de alguns anos. Um outro irmão meu também chegou a ir para o seminário em Corupá. Embora eu não me lembre deles no seminário, isso me influenciou”, destaca.
Ao lado do salão da Igreja Matriz de Botuverá, ficava a escola. Na época, ela tinha apenas duas salas e era de madeira. Basicamente, foi lá que ele aprendeu português, já que no pátio era proibido falar o bergamasco, língua que ele e a família falavam em casa. Após a aula, ele e outros colegas iam para a igreja participar das missas como coroinhas.
“Vivia nesse ambiente de igreja, participava na missa quase todos os dias depois da aula. Em casa a gente sempre rezou pelas vocações, pelo papa, pelo bispo, pelo pároco… Teve um momento em que alguém levantou isso e a gente decidiu tentar. Eu fui para o seminário e nunca me arrependi. Só me deu chances de ser de fato o que eu sempre quis ser”.
Após quatro anos na escola em Botuverá, ele passou um em casa antes de ir para o seminário da cidade de Rio Negrinho, no Planalto Norte, em 1955. Ele ficou lá por um ano – que ele destaca ter sido bem frio – e depois se transferiu para Corupá, onde ficou até 1962 estudando.
Em 28 de setembro daquele ano ele recebeu sua batina em uma solenidade especial. Depois disso, o grupo dele foi para Jaraguá do Sul, no bairro Rio Cerro, no Noviciado Nossa Senhora de Fátima.
“Nosso mestre foi o Venerável Padre Aloisio Boeing. Começamos em 11 e terminamos em seis. Esses seis vieram para Brusque, para fazer o curso seminarístico de Filosofia aqui onde hoje é o Convento Sagrado Coração de Jesus”.
Padre Adilson e outros dois colegas, Dionisio Tessila e o atual arcebispo emérito metropolitano de São Salvador da Bahia, Dom Murilo Krieger, foram para Taubaté (SP) estudar Teologia, entre 1965 e 1969. Eles receberam o diaconato lá e, depois, os padres Adilson e Murilo voltaram para Brusque para serem ordenados antes de os três retornarem para uma nova paróquia em Taubaté.
Ele ainda passou pelo Santuário São Judas Tadeu, em Jabaquara, São Paulo, antes de ser transferido para a Paróquia Divino Espírito Santo, em Varginha (MG), onde ficou sete anos “justinhos”, entre 1972 e 1978.
Durante todas essas andanças pelo país, a maioria dos deslocamentos era feito de ônibus. Em São Paulo, algumas vezes, padre Adilson também pegou o bonde, “que de vez em quando encrencava”. Após esta passagem por Minas Gerais, ele foi para o bairro do Méier, no Rio de Janeiro, no Sagrado Coração de Jesus, antes de ir estudar na Itália por pedido de seu superior provincial. Desta vez, a viagem foi de avião.
“Ele pediu para que eu fosse fazer meus estudos de Filosofia em Roma. Fui em 1978, me matriculei, já arranhava o italiano. Falava bergamasco desde pequeno. Fiquei dois anos e meio entre Roma e Paris, e concluí minha tese de Doutorado em janeiro de 1981, na Pontifícia Universidade Gregoriana, que existe há séculos”, conta.
Da Europa, ele retornou a Brusque e passou a conciliar seu trabalho como padre com as aulas ministradas na antiga Febe, atual Unifebe, e, dois anos depois, começou a trabalhar na Furb, em Blumenau, além de ter também uma trajetória na Faculdade São Luiz. Ele começou lecionando História da Filosofia Moderna, mas trabalhou também com História da Filosofia Contemporânea e Teodiceia, principalmente, e alternando outras. “Lecionava o que a faculdade necessitava dentro do curso de Filosofia”.
Na sua missão como padre, ficou algumas semanas no convento quando retornou da Europa e voltou um tempo depois para ser reitor, mas, na grande maioria do tempo, desde então, dedicou-se à Paróquia São Luís Gonzaga, que completou 150 anos recentemente.
“Nesse tempo todo, agora olhando para a história de 150 anos da paróquia, passei mais de 40, dois anos como estudante e desde 1981 estou aqui. Nesse tempo, acompanhamos a formação das comunidades que hoje fazem parte da nossa paróquia. Naquele tempo, a paróquia era muito maior, incluía as igrejas do Dom Joaquim, Santa Terezinha, Águas Claras, por exemplo. Vi como as comunidades ao longo do tempo foram se remodelando”.
Padre Adilson acompanhou, além da expansão da Igreja Católica em Brusque, uma mudança na prática da religiosidade em si, que esteve lado a lado com as transformações na sociedade.
“Hoje temos muito mais a participação dos leigos, por exemplo. Antigamente, era mais difícil ter acesso ao conhecimento. O telefone funcionava de maneira arcaica, era caríssimo. Hoje, todos têm acesso. Isto causou uma mudança na maneira de ser das pessoas, de se comunicar. Tudo isso teve uma influência na vida sociocultural e também na religiosa”.
Consequentemente, ele conviveu também, ao longo das décadas, com a evolução da paisagem e da sociedade brusquense. “A cidade tem um rosto bem diferente. Conhecemos uma cidade quase semirrural, com muitas coisas ainda de um tempo antigo, com mais contato da natureza. Pouco a pouco, foi crescendo, principalmente por causa da indústria. Foi se diversificando. Além disso, a própria cidade se tornou bem mais conhecida no Brasil e até no mundo. É uma presença, por vários motivos, na realidade sociocultural brasileira”.
Desde a década de 1980, padre Adilson publica uma coluna no jornal O Município, que já foi chamada “A Palavra da Igreja” e tinha inclusive um formato diferente inicialmente.
A coluna começou com avisos, coisas da paróquia, informes sobre a Campanha da Fraternidade, mas, pouco a pouco, ele foi colocando um conteúdo diferente, com sua personalidade. Hoje trata de assuntos de filosofia, sociologia, cultura, religião, temas até de psicologia, históricos, etc. “Alguns gostavam quando eu falava de política, mas nisso eu não mexo mais”, reforça.
Um ávido leitor desde jovem, no começo, ele tinha certa dificuldade em escrever e invejava os colegas que tinham facilidade, mas foi aperfeiçoando. “Sempre fui uma pessoa que metia o nariz nos livros. Qualquer tempo que eu tinha. Se não tinha nada para ler, lia até propaganda de jornal e revista. Esse sempre foi o meu lazer”.
Padre Adilson mora há 30 anos no mesmo quarto e, por muito tempo, teve uma rotina intensa. Acordava cedo para dar aula, voltava para o almoço, atendia o povo na paróquia. Três vezes por semana, à noite, ia dar aula na Unifebe. Terça e quarta-feira, na Furb. Já os fins de semana eram típicos de padre: no sábado, tinha vários cursos, palestras para os leigos, participação em retiros, e as celebrações nos dois dias em várias comunidades.
Hoje, já com uma idade mais avançada, trabalha apenas na paróquia dentro de suas condições. “Até dois anos atrás eu sempre mexia na nossa horta, mas não posso mais por causa da coluna e outros motivos de saúde. Porém, sempre trabalhei na terra, nunca larguei. Também ajudei a manter as árvores no terreno. Já sou quase da quarta idade, minha saúde não está muito legal, então tenho que me cuidar”, ressalta.
Além disso, ainda celebra missas na Matriz e nas comunidades quando necessário e segue fazendo serviços da paróquia nos seus dias de atendimento. “Na quinta à tarde, por exemplo, atendo casais de segunda união que vem buscar uma regularização para fazer o processo de declaração de nulidade. A gente escuta, orienta e encaminha para o tribunal eclesiástico examinar se aquele casamento que não deu certo foi válido”, conta. “Enquanto eu puder de fato fazer alguma coisa e não ser estorvo para os outros, vou ficar aqui”.
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