Conheça a aldeia indígena próxima a Brusque onde cerca de 20 famílias vivem há 15 anos
Aldeia Tava’í 2 fica na área rural de Canelinha
Aldeia Tava’í 2 fica na área rural de Canelinha
O jornal O Município visitou nesta segunda-feira, 17, a Aldeia Tava’í 2, localizada na área rural da cidade de Canelinha, no Vale do rio Tijucas. Constituída em 18 de maio 2007, sua origem começou com o deslocamento de algumas famílias indígenas da Aldeia Itaty, situada no Morro dos Cavalos, que fica à margem da rodovia BR-101, em Palhoça, na região metropolitana de Florianópolis.
O local possui tanto liderança política (Cacique Kuaray Papá, que significa Brilho do Sol) como espiritual (Tamoi e Kunhã Karai). No espaço da aldeia há uma escola indígena, a Casa de Reza, ampla reserva verde e riachos. A língua falada entre os indígenas é a Guarani.
‘Tava’ representa um templo, um lugar sagrado, o Templo de Pedra. O sufixo ‘í’ é dado quando se quer falar de algo com carinho, com amor.
Por meio de uma indenização do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT) e da Funai, por causa da desapropriação em vista da duplicação da rodovia, foi adquirida uma propriedade com 216 hectares, pertencente a uma antiga carvoaria.
A aldeia Tava’í foi fundada por André Benites Vilalba, o primeiro cacique, e hoje tem como líder seu filho Kuaray Papá. Atualmente a “Tekoa” é formada por aproximadamente 17 famílias (70 membros) com idades entre 5 a 50 anos de idade.
Segundo a mestre em Antropologia Social, Maria Inês Martins Ladeira, Tekoa significa ‘modo de ser, de estar, sistema, lei, cultura, norma, comportamento, costumes’. Tekoa seria, pois, o lugar onde existem as condições de se exercer o ‘modo de ser’ guarani.
De vida simples, as pessoas que vivem na aldeia não possuem a rotina guiada pelo relógio. O nascer e o pôr do sol é o que os norteia. Plantam o que comem e também vendem os artesanatos.
“Nosso estilo de vida incomoda a sociedade. Não há como nos forçar a viver como os outros. Nosso tempo, rotina, modo de trabalhar e de viver é muito diferente. Estamos sempre brigando por nossos direitos, acreditamos que isso é o mínimo já que perdemos muita coisa ao longo da história”, conta o Cacique.
No local há uma escola que possui uma prática de ensino um pouco diferente. Há o ensino padrão cedido pelo governo (realizado em outra escola) e também existe os ensinamentos culturais da aldeia (escola local).
“O indígena possui o direito se quer seguir estudando ou permanecer na aldeia, ninguém é obrigado a nada. Inclusive, precisamos de profissionais graduados aqui. Médicos, advogados, professores, enfermeiros, seria muito bom se tivéssemos mais indígenas nesses espaços. Sabemos que eles podem ir embora para trabalhar e estudar, mas o nosso coração gostaria que todos ficassem para que possamos ser cada vez mais uma comunidade forte e preparada para enfrentar as dificuldades de manter a cultura viva”, complementa Kuaray Papá.
Embora afastados do estilo de vida moderno, já é possível ver um processo de modernização no local. Por necessidade, as construções são, em sua maioria, de alvenaria. Para uma comunicação mais fácil com todas as famílias e registros das tarefas também há uso dos celulares.
“Querer manter a cultura viva é diferente de viver como um primitivo. As pessoas esperam chegar aqui e ver ocas, indígenas quase pelados e animais sendo caçados com flechas. É preciso entender que tivemos que nos adaptar para seguirmos vivos. A medicina é a prova disso. Temos um modo de cura espiritual, mas sabemos da importância dos profissionais graduados. Sempre vamos querer o bem da nossa comunidade e para isso precisamos evoluir”.
Caminhando pela aldeia é possível ver uma Casa de Reza, local onde são realizadas as cerimônias mais importantes da aldeia.
Para entrar no local é preciso dançar ao ritmo da música que está sendo tocada, levantar os braços e falar a palavra “Aguyjevete” para o Guerreiro (membro da aldeia) que está na porta. Esse gesto serve como forma de saudação e respeito antes de entrar no local sagrado.
No interior há muita espiritualidade, dança, canto e energia. Durante a visita foi possível prestigiar uma apresentação das crianças locais. A cerimônia foi realizada em tom de agradecimento pela visita. Embora não sejam permitidas gravações e fotografias no interior, o jornal O Município teve a permissão dada pelo Cacique para realizar os registros.
Questionado sobre os Guerreiros, o Cacique diz que somente homens podem chegar neste patamar. Aos 12 anos, o adolescente é chamado que resolver um desafio proposto pelo líder espiritual da aldeia.
“Geralmente leva até três dias para que o desafio seja concluído. Se o líder pede para um jovem caçar um animal, o resto da comunidade realiza orações e pede forças para que ele consiga realizar a tarefa. Quando retorna com o desafio cumprido, temos um novo Guerreiro na aldeia”, explica.
A visita aconteceu em parceria com alunos (2º e 3º ano) e professores do curso de Filosofia da Faculdade São Luiz. A atividade faz parte de um projeto de extensão praticado no curso.
Como parte da ação, todos trouxeram doações de alimentos e roupas. A prática serviu não só para ajudar a comunidade indígena, mas também agradecer pela recepção liderada pelo Cacique.
A visita foi supervisionada pelos professores Lara Emanuele da luz, Celso Kraemer e Eduardo Dalabeneta.