Conheça algumas descobertas e estudos do geólogo Juarês José Aumond

Aumond participou da descoberta das cavernas de Botuverá há cerca de 40 anos

Conheça algumas descobertas e estudos do geólogo Juarês José Aumond

Aumond participou da descoberta das cavernas de Botuverá há cerca de 40 anos

Embora seja natural de Caxias do Sul, no Rio Grande do Sul, o geólogo Juarês José Aumond, de 69 anos, considera-se brusquense de coração. Morador do município há 46 anos, ele constituiu família por aqui e, na região, desenvolveu trabalhos reconhecidos internacionalmente.

Geólogo de formação, mestre em Geografia e doutor em Engenharia Civil, Aumond participou da descoberta das cavernas de Botuverá há cerca de 40 anos. Também se especializou em economia mineral e em recuperação e restauração de áreas degradadas e fez pesquisas em todo o país. Foi da selva amazônica ao Rio Grande do Sul.

Atualmente, é professor na Universidade Regional de Blumenau (Furb) e, nos últimos 25 anos, dedicou-se ao paleoclíma – estudo do clima há milhares e milhões de anos. Em conversa com a reportagem, Aumond falou sobre a carreira e sobre as descobertas que fez. Confira abaixo.

Mudanças climáticas

“Tenho feito muitas pesquisas na área do paleoclíma e estou orientando pesquisadores no mestrado e no doutorado da Furb de Engenharia Ambiental e de Desenvolvimento Regional sobre questões do impacto que as mudanças climáticas vão provocar na nossa região e no litoral, como a subida do nível do mar de no mínimo 56 centímetros e no máximo de um metro em função do aquecimento da água do mar e do degelo das calotas polares e do alto das Cordilheiras. Há previsões disso para 2025, 2050 e 2100. O aquecimento dilata a água e ela não cabe mais na caixa oceânica, avançando continente adentro. O nível do mar vai subir e isso vai afetar toda a nossa orla. Itapema, Balneário Camboriú, Navegantes, essa região toda deverá sofrer um impacto muito forte”.

Elevação do nível do mar

“Nos últimos dois milhões de anos, nós já tivemos 16 eras glaciares, que é o contrário do efeito estufa, e intercaladas com eras de efeito estufa, que são as interglaciares. As eras glaciares tem durabilidade média de 100 anos e as interglaciares tem média de 10 mil anos. E essa era interglacial que estamos vivendo já passou de 10 mil anos, então já devíamos estar entrando em uma era glacial. Só não estamos entrando graças aos gases de efeito estufa que estamos mandando para o espaço, como metano, óxido nitroso e C02. Isso está retardando a era glacial, que é muito mais perversa do ponto de pista da própria sobrevivência da espécie humana. Em uma nova era glacial, eu não sei quanto da espécie humana vai prevalecer. E o clima está doido. Está tudo descontrolado porque já devíamos ter entrado na era glacial. Por isso as flores estão florescendo em épocas diferentes, as aves estão nidificando em épocas estranhas. Está desorganizado”.

Sambaqui em Ilhota

“Nós descobrimos um sambaqui, que são acúmulos de conchas de alimentação indígena, em Ilhota, a 23 quilômetros do continente. Lá, os indígenas viviam e se alimentavam e foram acumulando mais de 15 metros de conchas. Eu orientei uma bióloga nessa pesquisa e mandei para os Estados Unidos para datarem a idade desse sambaqui. Tiramos duas amostras, uma da parte baixa e outra em cima e o resultado foi que o sambaqui é de 6 mil anos atrás. Isso significa que o nível do mar subiu três metros e meio e desceu três metros e meio, muito antes da revolução industrial, muito antes do europeu estar no Brasil e quando só havia as populações indígenas aqui na região. O mar invadiu toda aquela planície do Itajaí e inundou cidades como Ilhota e Gaspar. Isso mostra que nós já tínhamos fases mais quentes de efeito estufa, a ponto de fazer o mar subir pelo aquecimento da água e pelo degelo e invadir a planície do Itajaí. Ilhota era um sítio ecológico muito rico de conchas, então os indígenas se instalaram ali e passaram muitas gerações se alimentando de conchas”.

Primeira prova paleontológica

“Recentemente publicamos em uma revista internacional de paleontologia, uma das mais importantes descobertas que eu fiz em 1971 de um fóssil que foi considerado na época como a primeira prova paleontológica de que o Brasil se afastou da África. Era o que todos nós procurávamos na década de 60. Eu estava mapeando no Paraná a ferrovia do café e encontrei um fóssil de 235 milhões de anos atrás, que comprovou que o Brasil teria vindo da África. Esse fóssil tinha sido encontrado na África, na mesma formação geológica que eu encontrei no Brasil. Era um réptil eminentemente terrestre, muito mais antigo que os dinossauros. E tinha de ser um fóssil que não pudesse ter nadado de lá pra cá para que pudéssemos comprovar”.

Meteoritos

“Eu descrevi os dois únicos meteoritos descritos e identificados em Santa Catarina. Eles foram trazidos na universidade e eu assumi a análise. São dois tipos, um octaedrito e hectaedrito. É a mesma formação que tem no interior do globo terrestre a mais de 5 mil quilômetros de profundidade. Um deles caiu no sul do estado e o outro no município de Alfredo Wagner. Esse segundo um topógrafo viu cair do céu. Era do tamanho de uma bala de fuzil e abriu um rombo de 80 centímetros de profundidade na terra e decepou um galho de árvore tamanha a velocidade que ele caiu. Esses meteoritos permitem entender a continuação do globo terrestre”.

 

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