Conheça crianças de Brusque que decidiram doar os cabelos para pacientes com câncer
Ato altruísta pode ser incentivado pelos pais, mas, muitas vezes, a ideia vem do próprio jovem
Ato altruísta pode ser incentivado pelos pais, mas, muitas vezes, a ideia vem do próprio jovem
Certo dia, a estudante Kaiane Hilleshein Mafra, 13 anos, chegou em casa, no bairro Limoeiro, e falou para a mãe que gostaria de cortar o cabelo e doar. A aposentada Dilma Hilleshein, 53, logo acreditou, pois a filha sempre foi decidida.
“Quando ela quer, ela faz. E eu fiquei muito feliz em ela querer fazer outra pessoa feliz. A Kaiane fica muito emocionada com as crianças com câncer e decidiu por ela mesma, eu apoiei”, comenta a mãe. Três meses depois, Kaiane cortou o cabelo e doou para a Rede Feminina de Combate ao Câncer de Brusque.
Para a jovem, o ato foi apenas uma decisão, pois do mesmo jeito que poderia cortar os fios e não fazer nada, também poderia ajudar uma causa. “Eu deixei o cabelo crescer, aí comecei a ver o pessoal doando e quis fazer também. Deu certo”, diz.
Nesta primeira vez, Kaiane ressalta que foram cortados e doados 29 centímetro de cabelo. Ela pretende doar novamente. “Vou deixar crescer o mesmo tanto para doar de volta. É mais gratificante do que simplesmente cortar, pois tem muita gente que precisa”, completa.
Este também foi o caso da estudante Isabelli de Oliveira, de 9 anos, moradora do bairro Dom Joaquim. De acordo com a mãe, a vendedora Letícia Amorim Pavesi, 30, a filha sempre teve cabelo comprido, que crescia muito rápido após cortar. Então, Letícia teve a ideia de doar em outubro. “Por que não? Era cortado e ia para o lixo”, questiona a mãe.
Letícia recorda que, ao longo do tempo, precisou conversar com a filha, pois era muito apegada ao cabelo. “Até que ela aceitou. Ela nunca tinha cortado tão curto. Aí, ficou empolgada em ajudar”, recorda.
O resultado de fazer algo bom deixou a menina feliz, ela também recebeu o apoio de conhecidos e familiares, que elogiaram o cabelo curto. “Mas teve gente que perguntou sobre vender, por que iríamos vender se podemos ajudar quem precisa?”, indaga.
Para ela, o ato de doar também é necessário em várias outras situações, como roupas e brinquedos. “A gente vive em um mundo tão difícil, tão violento, de gente sem coração. As pessoas só pensam no dinheiro, como vender o cabelo, não tem tanto o olhar para o outro. Então, no que puder ensinar os filhos para ajudar o próximo, eu vou”, completa Letícia.
Quando se é criança, muitas decisões passam pela validação de adultos, que às vezes não tomam a melhor decisão. Especialista na área de psicopedagogia, Sônia Maria Machado acredita que é dever dos pais ajudarem as crianças a desenvolverem um senso de caridade, sem esperar algo em troca.
“Pode ser em pequenos gestos, ser solidário com a dor do outro. Estudos comprovam que pessoas que praticam a doação são mais felizes. Ou seja, generosidade e felicidades estão interligadas”, comenta.
Sônia explica que esse comportamento deve ocorrer de forma natural, sem que os pais forcem as crianças a serem solidárias. Entretanto, que expliquem sobre as necessidades, como a existência de outras crianças que lutam contra o câncer.
Sônia ressalta que as atitudes dos pais e o ambiente impactam nas ações da criança. “Penso que as crianças que tomam a decisão por si, de doar os cabelos, é um gesto de muita coragem e determinação, é memorável, que provavelmente é um reflexo do comportamento familiar”, completa.
Em setembro do último ano, reportagem do O Município contou a história de Enzo Lima Antunes, de 6 anos, que decidiu, em novembro de 2018, deixar os cabelos crescerem para poder doar. Segundo a mãe, a inspetora de qualidade Marilene Lima, 27, ele teve a ideia após um amigo da creche ser diagnosticado com leucemia e começar a fazer quimioterapia.
Após um pouco mais de um ano, o jovem morador do bairro Azambuja cortou os cabelos e doou, em dezembro. “Foi um momento maravilhoso. Os olhos do meu filho brilhavam de tanta alegria. Eu fiquei parada um tempão pensando: meu Deus obrigada senhor por ter me enviado esse anjo para minha vida”, conta a mãe.
Marilene ressalta que Enzo estava ansioso para fazer a doação dos fios. “Esses dois últimos meses para ele foi uma eternidade. Para eu, que sou mãe, não tenho nem como explicar. É um exemplo de vida para mim e toda família”, comenta.
O ato pode parecer pequeno, mas para família traz a sensação de orgulho, pois cada ato de amor transforma o mundo. “Ainda há tempo de mudarmos o mundo através das nossas crianças, cada gesto de amor, vai fazendo a diferença”, finaliza.