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Conheça Emílio Niebuhr, médico que realizou mais de 5 mil partos em Brusque

Profissional ficou conhecido como a “cegonha” de muitas famílias brusquenses

Médico dedicado, Emílio Luís Niebuhr atuou por quase cinco décadas em Brusque. Com mais de 5 mil partos realizados, ele foi a “cegonha” de muitas famílias. Para além do seu trabalho nos consultórios, Emílio, que hoje tem 83 anos, sempre foi muito ligado à sua família, à igreja e ao esporte, com colaborações importantes para a sociedade brusquense. Ele é o médico do município com registro no Conselho Regional de Medicina de Santa Catarina (CRM-SC) há mais tempo.

Emílio é de família brusquense, mas foi para o Rio de Janeiro estudar Medicina. Sua família se dava muito bem com Carlos Moritz, um dos médicos mais conhecidos da história do município. Seus pais sempre achavam que iria seguir a profissão para trabalhar com Moritz. Ele acabou seguindo esse caminho e, em 1962, se formou na antiga Universidade do Brasil.

“Ele tem muito orgulho de ter estudado lá, na Praia Vermelha. Meu primo, que é da idade dos meus filhos, teve aula no mesmo lugar que o meu pai estudou. A mãe dele e toda a família ficaram emocionadas, porque meu pai é referência para todos”, conta Eugênia Regina Schloesser Niebuhr Loos, a Geninha, filha de Emílio.

Emílio tem muito orgulho de ter estudado na antiga Universidade do Brasil, no Rio de Janeiro | Foto: Bruno da Silva/O Município

Por três anos, Emílio ainda trabalhou no Rio de Janeiro antes de retornar para Brusque por causa da morte de seu pai. Em seu tempo na Cidade Maravilhosa, ele acabou saindo na capa do jornal de uma forma inesperada.

“Meu pai foi atender um marginal uma vez, que era um dos piores do Rio de Janeiro. Ele estava como atendente da emergência do hospital. Então, quando entrou a maca, ele estava do lado. Saiu na capa do jornal. Só depois que ele descobriu quem era o paciente”, ri Geninha.

Retorno para Brusque

Na época, era comum que os primogênitos tocassem os negócios da família e, mesmo sem nenhuma experiência no assunto, Emílio teve que voltar para Brusque e assumir os engenhos de arroz após a morte do pai.

Emílio, porém, continuou exercendo a profissão que era apaixonado. De volta à sua terra natal, ele começou a trabalhar no Serviço à Assistência Médica Domiciliar de Urgência (Samdu) de Itajaí. “Depois, abriu uma vaga do doutor Francisco Dall’Igna, que estava envolvido em política, e ele pode se transferir para cá. No Rio de Janeiro, ele já trabalhava no Hospital de Clínicas e Pronto Socorro”, lembra a esposa de Emílio, Elisa Regina Schloesser Niebuhr.

Emílio voltou para Brusque em 1965, após a morte do pai | Foto: Arquivo pessoal

Foi no retorno a Brusque que Emílio conheceu Elisa. “Quando eu soube que ele existia, as coisas normais da época aconteceram”, ela conta. As famílias se conheciam, mas como ele morava no Rio de Janeiro, ela só tinha amizade com a irmã mais nova dele, a Maria Eugênia, e com o irmão Otto Joel. “Mas fomos nos conhecendo e aquilo foi evoluindo”.

“A mami teve uma amiga que bancou o cupido na época, a tia Maria. A minha avó achava que era ela que estava interessada no meu pai, de tanto que eles conversavam. Mas estava era fazendo esquema. Naquela época já tinha”, acrescenta Geninha.

Mais de 5 mil partos realizados

Emílio trabalhou no Hospital Azambuja, na maternidade de Brusque, além do Samdu, onde realizava atendimento domiciliar. Ele é cirurgião geral, mas, como Brusque não tinha muitas especialidades, tinha que fazer de tudo no início de sua carreira. Ele fez também ginecologia e obstetrícia e foi cegonha de muita gente. De acordo com Geninha, pelos cálculos feitos, ele realizou mais de 5 mil partos.

“Uma pessoa que era paciente do meu marido deu um dos títulos mais carinhosos que poderia dar. Me disse que ele tinha sido cegonha dos três filhos. Achei muito bonito. Quantas vezes ele não foi cegonha”, lembra Elisa, com carinho.

Geninha e Elisa descrevem Emílio como um médico que tinha muito cuidado com seus pacientes. Como ele tratava a mesma pessoa por anos, procuravam ele por todos os motivos. Elas escutavam muito as pessoas contarem que não sabiam quem procurar se não fosse ele.

“Quando nascia neném, ele tinha que fazer um esforço para lembrar o sexo do bebê. Quando era alguma conhecida, as pessoas queriam saber, perguntavam, mas a preocupação dele era a mãe. Às vezes, a criança nascia e ele não sabia. Só entregava para a enfermeira. Ele tinha que terminar o parto e essa era a prioridade dele”.

Mesmo consagrado e respeitado, Emílio sempre procurou se atualizar das tecnologias e métodos mais modernos para seguir realizando seu trabalho com maestria. Em 1970, ele e a esposa chegaram a morar num campus de universidade, em Richmond, nos Estados Unidos, onde ele fez uma especialização.

Ele e o doutor Ismar Morelli, o Mazinho, que já é falecido, trouxeram a primeira máquina de laparoscopia de Brusque. Na época, foram até Porto Alegre fazer um curso e levaram a máquina ao Azambuja. Eles foram os primeiros que operavam com esse equipamento na cidade.

“Na faculdade, as coisas eram mais manuais. O papi sempre foi um médico muito humano, de escutar o paciente, se envolvia com as famílias, mas olhava muito para a frente, sempre interessado em tecnologia. Participava de muitos congressos e capacitações. Quando ele começou, não era tão comum. Ele conta que, na aula dele, os professores tinham que desenhar o corpo humano, não tinham livros”.

Envolvimento com a sociedade

Além da dedicação à medicina, Emílio também é muito ligado à comunidade brusquense. Ele nunca teve cargos eletivos políticos, mas foi secretário de Saúde do ex-prefeito Hylário Zen. “Tiveram muitas coisas que meu pai participou, causas que ele defendeu, sobretudo do lado mais humano. Tinha três coisas que eram pilares da vida dele: a família, o trabalho e a igreja”.

Emílio é muito associativista, foi do conselho e também presidente do clube Bandeirante durante a construção da piscina nova, e presidente da Associação Atlética Banco do Brasil (AABB) de Brusque, que ajudou a fundar “Ele não perdia reuniões”. Ele também sempre gostou de esportes e, enquanto pode, fez parte do time de veteranos de vôlei do Band.

Esposa de Emílio, Elisa destaca ligação do marido com a família, a igreja e também o esporte | Foto: Bruno da Silva/O Município

Ele e a esposa, por muito tempo, também se engajaram na Apae, instituição onde o outro filho do casal, Arthur Otto Niebuhr, frequentou. Emílio inclusive fez parte da diretoria e do conselho. “Onde podia participar, ele estava. Ele gostava mesmo”, conta Elisa.

Ligação com a família

Mesmo sendo um médico com a demanda que Emílio tinha, nunca faltava a um aniversário de um filho e de um neto. “O doutor Emílio sempre estava lá. Durante toda a minha vida e do meu irmão e também dos meus filhos. Toda vez que ia ser cantado parabéns, ele aparecia milagrosamente. Ele tinha surpresas, era muito bacana”, conta Geninha.

Ela lembra de muitos momentos felizes com o pai. Durante muito tempo, eles moravam de frente um para o outro no Jardim Maluche, antes de se mudarem por questões de segurança.

Emílio gostava muito de passar um tempo no jardim de sua antiga casa | Foto: Arquivo pessoal

Geninha trabalhou com o pai no seu consultório entre os 11 e 15 anos, mas decidiu seguir outra profissão. Emilio, porém, influenciou muito a neta Victória, que é psicóloga.

“Ele não incentivava tanto que eu seguisse essa carreira, achava uma profissão muito desgastante. Depois, cheguei a conclusão que não gostava tanto assim. Com a minha filha foi o contrário. Ele dizia “se eu fosse você, faria Medicina, porque, em qualquer emprego você recebe uma vez por mês. Eu ganho dinheiro todo dia no consultório”. Mas ela tinha certeza que queria Psicologia. O avô para ela é tudo”.

Emílio tem Parkinson em uma fase bem adiantada e está acamado há alguns anos. “Ele acompanhou os meus dois partos e os da minha mãe também. A primeira cirurgia que eu fiz sem ele estar acompanhando, há uns três anos, eu estranhei demais que ele não estava na sala. Foi difícil”.

Mesmo com os problemas de saúde, mantém a sua personalidade agradável que sempre demonstrou, conta Geninha. “Ele é um fofo, sempre teve um gênio maravilhoso. Ele sempre foi um homem de opinião forte, mas não de grosseria. Tem gente que muda a personalidade quando fica doente, se irrita com a sua situação, mas meu pai mantém o gênio bom. Quem cuida dele, adora trabalhar com ele. É muito fácil de lidar”.

Emílio sempre foi espirituoso e sagaz, com piadas e tiradas que divertiram e são lembradas pela família. Para além disso, ele é uma inspiração e modelo de conduta para os mais novos.

“Não conheci um homem mais justo e mais correto. Todo mundo tem defeitos e qualidades, mas ele é o mais íntegro que já conheci. Todos os ensinamentos da minha vida aprendi em casa com meus pais”.

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