Conheça a história de Érico Zendron, dono do maior acervo de fotos antigas de Brusque
Fotógrafo começou a fazer fotos no fim da década de 1940 e hoje conta com mais de 60 mil imagens da cidade e região
Parte da história de Brusque está guardada, de forma cuidadosa, no notebook de seu Érico Zendron, 93 anos. São mais de 60 mil fotos, de vários momentos da cidade, digitalizadas e separadas por pastas dentro do computador. Verdadeiras relíquias.
Seu Érico Zendron é famoso pelas fotos antigas de Brusque e região há muito tempo. Sua história com a fotografia começou quando ainda era adolescente e está ligada diretamente a outra paixão: o futebol.
Lá em 1943, aos 16 anos, ele começou a comprar revistas sobre futebol. A capa das revistas já era colorida e chamava a atenção do jovem Érico. “Eu vendo aquilo ali, gostava muito. As fotos eram bacanas e comecei a me interessar”, conta.
Em 1945, Érico começou a jogar futebol e a fotografia já estava presente dentro de campo. “Eu pedia pro Waldemar Scharf [fotógrafo] tirar foto do time para ter de recordação, porque eu gostava muito, achava bacana ter as fotos”.
Érico ficou próximo de Waldemar e Theobaldo Scharf, primeiros fotógrafos de Brusque, e com eles, aprendeu a fotografar. Foi nesta mesma época que tirou as primeiras fotografias com a câmera emprestada de Waldemar. E não parou mais.
Além de jogar, Érico fazia fotos dos times durante os jogos e depois vendia as fotos reveladas para os jogadores, fazendo, assim, um dinheiro extra.
“Eu gostava de bater as fotos. Tirava de um time, tirava de outro e depois vendia. Pedia a máquina do seu Waldemar e aí comecei, porque ninguém tinha câmera”.
Cotidiano pelas lentes de Érico Zendron
Logo, a fotografia ganhou espaço na vida de Érico Zendron e ele levou suas fotos para além dos campos. O jovem começou a fotografar os grupos de amigos durante os passeios e piqueniques que eram comuns na época. Também gostava muito de fotografar o centro de Brusque, principalmente a praça central. O resultado dessas fotos, tiradas a partir do fim da década de 40, hoje enchem os olhos de pessoas de várias idades, que viajam ao passado através do olhar de Érico.
“Eu fui um dos primeiros fotógrafos de Brusque a bater fotos nas ruas. Antigamente era tudo estúdio. Se uma família quisesse bater, tinha que ir até o estúdio. Então eu era muito procurado e fazia batizado, casamento. Foi uma vida toda assim”.
As famosas fotos da cidade, que retratam uma Brusque totalmente diferente da que hoje conhecemos, eram feitas com muita frequência pelo jovem fotógrafo.
“Tenho a rua principal de Brusque toda fotografada. Se eu tinha um filme de 12 fotos, a última que sobrava eu sempre batia da praça, em direção ao palacete do Renaux ou para a ponte. Hoje elas contam a história de Brusque”.
Em meio a mais de 60 mil fotos, durante a entrevista a O Município, Érico acabou encontrando uma muito especial: a primeira que tirou com sua câmera. A foto retrata a jovem Lily Aichinger, que posou para o fotógrafo no centro da cidade.
“Ela era uma moça muito bonita. Eu gostava muito de fazer fotos das pessoas”, diz.
Érico trabalhava com o pai, vendendo calçados na Casa Zendron. Nas horas vagas, fazia um dinheiro extra com a fotografia. O jovem acompanhava os grupos de amigos em piqueniques e fazia várias fotos. Depois, revelava e vendia. “Eu gostava de fazer as fotos da turma reunida, porque aí uma mesma foto era vendida para mais pessoas. A turma gostava das fotos. Eu mostrava para a turma e vendia. Os negativos eu guardava. Aí eu botava o custo do filme, da revelação e ficava com o lucro”, recorda.
Ele tem até hoje guardadas anotações sobre a venda das fotos, contendo nomes dos compradores, data, quantidade de fotos e valores.
Érico destaca que foram com as fotos do futebol que ele mais ganhou dinheiro. Mesmo após parar de jogar, ele não abandonou os gramados. Acompanhava as equipes fazendo fotos para depois vender.
De 1950 até 1960, ele tinha todas as fotos dos jogos guardadas em álbuns, com fotos dos dois times, e alguns lances. Mas na grande enchente de 1961, ele perdeu tudo. “Fui notar só depois. Quando fui limpar o estrago, encontrei os álbuns. Na hora não lamentei, mas hoje lamento muito”.
Carreira no futebol
Antes da fotografia, seu Érico jogou futebol por alguns anos. Iniciou em 1945, no Independente, equipe que surgiu após a fusão dos dois times da cidade.
Depois, em 1948, atuou como ponta-esquerda pelo Clube Atlético Carlos Renaux e, no ano seguinte, foi para o Paysandu.
O ex-jogador lembra da grande rivalidade entre Carlos Renaux e Paysandu, que afetava até a loja de seu pai. “Quando eu estava no Carlos Renaux, quem era do Paysandu não entrava na loja. Depois que mudei para o Paysandu, quem torcia pro Carlos Renaux deixou de frequentar a loja. Era muita rivalidade”, conta.
Em 1950, ele se mudou para Novo Hamburgo, no Rio Grande do Sul, onde atuou por sete meses no time da cidade. Ele não se adaptou e, por isso, decidiu retornar para Brusque.
“A saudade bateu e eu voltei. Era pra eu jogar novamente no Carlos Renaux, mas meu pai disse que não. Por que agora que eu não jogava em nenhum time da cidade, a coisa estava boa na loja e tanto os torcedores do Carlos Renaux quanto do Paysandu estavam comprando lá”, lembra.
Maior acervo pessoal de Brusque
Seu Érico Zendron é dono do maior acervo pessoal de fotos de Brusque. Grande parte das fotografias são de sua autoria. Já as fotos anteriores a 1948 foram feitas por Waldemar e Theobaldo Scharf.
“Quando eles foram embora de Brusque, jogaram fora as fotos que tinham. Mas eu peguei algumas fotos da cidade e de famílias e guardei. Me arrependo porque poderia ter pegado mais”.
E foi assim que o grande acervo começou. Aos poucos, foi acrescentando as fotos de sua autoria, até chegar a mais de 60 mil imagens. Dono de uma memória invejável, seu Érico sabe exatamente quais fotos são de sua autoria e quais foram tiradas por Waldemar ou Theobaldo.
Inicialmente, o acervo era composto somente pelas fotos reveladas. Há alguns anos, quando se mudou para o apartamento onde vive atualmente, começou a digitalizar as imagens.
“Eu passei tudo por scanner para o computador, e as fotos que eu tinha só no negativo, o meu filho me deu uma máquina que conseguia passar tudo para o positivo. Estão todas no computador”.
Todo o processo de digitalização do acervo levou cerca de três anos. “Eu fazia aos poucos, era bastante demorado. Hoje tenho tudo no computador”, destaca.
O computador, inclusive, está sempre perto de seu Érico. O fotógrafo recebe muitos pedidos de fotos de amigos e conhecidos, e passa os dias olhando as milhares de imagens. Ele também gosta de publicar as fotos nas redes sociais.
“Para procurar as fotos e jogar na minha página, na página de fotos antigas eu consigo me virar bem”, diz. “Eu sempre gostei de guardar tudo. Hoje você bate uma foto, olha e não dá nada. Daqui uns anos você vai ver aquela mesma foto e aí vai dar valor para aquele momento”, completa.
Além de cuidar do seu acervo, seu Érico também se dedica a gravar pequenos vídeos com seu celular, sobre suas memórias. “Quando fico sozinho aqui, posiciono a câmera do celular e começo a gravar. Vou puxando pela memória um tema e falo sobre. Tenho vários vídeos de 10, 15 minutos gravados. É a minha forma de passar tempo”.
Aos 93 anos, seu Érico viveu de perto as várias mudanças de Brusque. A paisagem que tanto fotografou no passado já não existe mais, permanece apenas em suas fotos.
Da janela de seu apartamento, entretanto, com o celular, ele segue registrando uma nova Brusque. A Brusque que, daqui a alguns anos, também será passado, deixará saudades e poderá ser revivida através de suas fotos.