Conheça a história de ex-moradores de rua que encontraram oportunidades na região
Thiago Rosário e David Lourenço se estabeleceram, respectivamente, em Brusque e Guabiruba
Buscando oportunidades de trabalho, muitas pessoas chegam a Brusque e região e, às vezes, não conseguem se estabelecer. Sem dinheiro para retornar à cidade de origem, acabam ficando e passam a viver em situação de rua no município.
Em Brusque, o albergue para moradores de rua funciona das 19h às 7h, servindo janta e café da manhã para as pessoas que não têm onde passar a noite. Tanto Thiago quanto David, antes de conseguirem um lugar para morar, passaram um tempo no abrigo do município.
As histórias dos dois se entrelaçam: ambos são naturais do Paraná e chegaram a região quase que por acaso. Com grandes sonhos, Thiago e David se estabeleceram, respectivamente, em Brusque e Guabiruba, e conseguiram sair da situação de rua.
Correndo atrás de um sonho
Com o sonho de ser cantor, Thiago Rosário chegou a Brusque quando estava prestes a desistir. Aos 22 anos, ele achava que não conseguiria seguir com esse desejo que tinha desde a adolescência. Natural de Guarapuava, no Paraná, ele desembarcou na cidade no final do ano passado.
Vendedor de tapetes, Thiago costumava comprar mercadorias em Brusque para revender em sua cidade natal. Porém, em outubro de 2017, perdeu todo o seu dinheiro na viagem e, ao chegar à cidade, não tinha como comprar os tapetes nem como voltar para casa.
Então, ele acabou ficando: no início, dormia na rodoviária, até que ficou sabendo do abrigo para moradores de rua. Lá, ficou por cerca de dois meses, e foi onde pegou um violão e fez sucesso entre os colegas do albergue. “Todo mundo gostou quando comecei a tocar. Um funcionário do albergue me apresentou para o dono da loja de instrumentos V.kings, Mimi Reis, que me deu um violão de presente”, conta.
Thiago passou a tocar e cantar na rua, e assim, ganhar algum dinheiro. A partir daí, começou a receber convites para se apresentar em bares e restaurantes, e também no palquinho da Fundação Cultural, na Praça da Cidadania. Depois de quatro meses no albergue, conseguiu juntar dinheiro suficiente para alugar uma quitinete no bairro Azambuja.
“Me adaptei bem à cidade”, diz, “e as pessoas me ajudaram muito, abraçaram meu sonho de cantar. Recebi muitas doações de roupas, tive todo o auxílio da cidade.” Porém, ele lembra que, no albergue, às vezes o clima era pesado, com conflitos entre os abrigados.
No Paraná, ele morava com a família, e começou a vender tapetes aos 16 anos. Foi também servente de pedreiro e entregador de panfletos. Mas não queria desistir de seu sonho de cantar. Além de composições próprias, ele é fã da dupla Cristian e Ralf.
“Comecei a me encantar por música na adolescência. Quando vim para Santa Catarina, estava quase aceitando que era hora de desistir e arranjar outros trabalhos. Mas foi aqui que tive oportunidade.” O primeiro CD de Thiago será lançado no início de junho, e ele já tem shows marcados para divulgação.
Em Brusque, ele conheceu também o parceiro no violão, Paulo Pecois. Nos primeiros meses morando na região, ele conta que foi cortar o cabelo e, em conversas com a cabeleireira, foi apresentado ao músico. Começaram a tocar juntos e iniciaram a parceira, apresentando-se em conjunto.
Com o dinheiro das vendas e também o que vem conseguindo pela música, Thiago conseguiu se estabelecer em Brusque, e agora trabalha na divulgação de seu CD. “Eu já tinha gravações feitas lá no Paraná, e uma música minha tem mais de 40 mil visualizações no Facebook”, conta como orgulho. Em Brusque, ele diz ter tido sorte: “Muitas pessoas abraçaram meu sonho e abriram um espaço para mim.”
Em busca de oportunidade
Natural do Paraná, David Lourenço saiu de Londrina para vir até a região de Brusque. Com o dinheiro do fundo de garantia do emprego que deixara em Curitiba, ele veio para a região e se estabeleceu, há cerca de três meses, em Guabiruba.
Quando chegou a Brusque, David ficou seis meses no albergue para moradores de rua do município. Ficou sabendo do local por um colega no abrigo de Itajaí, onde também se alojou por um tempo antes de vir até a cidade. Já no município, fez alguns serviços temporários em eventos, como a Fenajeep e a Fenarreco.
Enquanto se virava com trabalhos pontuais e eventuais vendas de produtos na sinaleira, David não deixou de correr atrás de oportunidades. Ainda no Paraná, fez um curso de elétrica, e gostaria de se especializar mais para poder entrar no mercado de trabalho.
“Quero fazer algo que complemente isso, um curso de eletrônica, de física”, diz, pois acredita que, com mais conhecimento técnico, poderá ter uma profissão. Em Brusque, fez um curso de informática e prestou diversos concursos públicos em municípios da região, sendo aprovado em Guabiruba, para a vaga de servente em uma escola da rede municipal.
Com emprego garantido, David mudou-se para perto do local de trabalho e alugou uma quitinete. Trabalhou por três meses na escola, mas, por diversas razões, acabou não se adaptando bem. “Eu me arrisquei pedindo a conta. Dá um aperto no coração, não sei se fico ou se vou embora, e é um desconforto sair e ter que procurar outro emprego.”
Enquanto ainda trabalhava na escola, foi chamado para uma vaga em Brusque, mas, como já estava estabelecido em Guabiruba, decidiu não assumir. Infelizmente, acabou perdendo o prazo e não conseguirá preencher a vaga. “Fiz o concurso do Samae também, chamaram só uma pessoa, eu fiquei em terceiro”, conta.
Os planos de David são de ir em breve para Minas Gerais, onde irá tentar trabalhar na colheita de café. Se vai dar certo, ele ainda não tem certeza: “Não sei meu futuro, disso só Deus sabe. O que eu queria mesmo era ir pra outro país, talvez Canadá, um lugar mais tranquilo. No Brasil é muita muvuca. E, pra quem se esforça, sempre tem alguma coisa.”
Nos tempos de rua, ele conta que não tinha onde dormir e, às vezes, faltava dinheiro para comer. Passou por albergues em várias cidades e viu muitos problemas, dependência química, brigas. Sem dinheiro para o ônibus, às vezes andava a pé de uma cidade até a outra: a maior caminhada que fez foi de Joinville até Guaramirim. “Não é tão longe assim, acho que dá uns 40 quilômetros. Foram umas oito ou nove horas andando.”
Desde 2016, quando saiu de Londrina, no Paraná, ele passou por muitas cidades. Curitiba, Maringá, Florianópolis, Itajaí, Joinville, Jaraguá do Sul, Brusque, Guabiruba e, logo mais, alguma cidade do interior de Minas Gerais. Depois, sabe-se lá o que o futuro reserva: como ele mesmo diz, “do futuro, só Deus sabe”.