Conheça história de Helga Kamp, fundadora da primeira escola de idiomas de Brusque

Escritora lança segundo livro de crônicas neste mês de março

Conheça história de Helga Kamp, fundadora da primeira escola de idiomas de Brusque

Escritora lança segundo livro de crônicas neste mês de março

Diversas escolas de idiomas se instalaram em Brusque ao longo das últimas décadas. A primeira, contudo, foi iniciativa da brusquense Marga Helga Erbe Kamp, conhecida como Helga Kamp, hoje com 90 anos de idade.

Dona Helga pode ter sido a primeira professora de inglês da cidade, pois já oferecia aulas particulares na década de 1950. Mas foi somente em setembro de 1969 que estabeleceu uma escola voltada exclusivamente a esse propósito: a franquia do Instituto de Idiomas Yázigi, com sede na capital paulista.

Antes de se dedicar ao ensino de línguas, Helga já tinha na bagagem muitas viagens e histórias. Hoje, aposentada e moradora do bairro Jardim Maluche, Helga se dedica à escrita, aos estudos, além de trabalhos de tradução de obras estrangeira.

Nesta quinta-feira, 24 de março, Helga também lança o segundo livro de crônicas, intitulado ‘Crônicas de Micki – De meu Jardim de Memórias’, que traz 41 novos textos sobre causos e encontros memoráveis.

A publicação dá sequência ao ‘Micki – Passagens e Paisagens de minha Vida’, que carrega o apelido carinhoso de infância e traz outros relatos históricos, lançado em 2012. “Olha, eu me sinto realizada, mas até certo ponto, pois ainda tenho outros projetos”, diz, em meio a uma risada.

Primeiros anos de Micki

Helga nasceu em Blumenau em 13 de março de 1932. Ela explica que a escolha pela cidade próxima foi pela falta de um atendimento especializado em Brusque, onde havia apenas parteiras particulares.

Helga comenta sobre traduções e destaca a obra ‘Venho de Além da Montanha Kaf’, autobiografia de Murat Yagan, traduzida junto com Ernst – Foto: Luiz Antonello/O Município

“Mas acabei nascendo sem assistência, pois era um dia de festa na maternidade e estavam inaugurando uma nova ala. Em homenagem à diaconisa alemã que dirigia a clínica, o som da banda de trombones abafou o som da campainha que clamava por socorro. Deve ter sido uma situação bastante traumatizante para minha mãe, que acabou me trazendo ao mundo totalmente desassistida”, conta.

Apesar do sufoco, Helga veio ao mundo e já carregava um nome de peso. O pai dela era o alemão Heinrich Richard Bruno Erbe, conhecido como Heinz Erbe, que trabalhou como diretor técnico da Buettner S/A. A mãe de Helga era Irmgard von Buettner, conhecida como Wally, nascida em Brusque.

A avó materna Albertine Burow foi uma forte apoiadora e sócia comanditária do irmão mais velho de Helga, Edgar von Buettner, no desenvolvimento de uma indústria de rendas e bordados. O empreendimento foi oficializado como E.v.Buettner e Cia, precursor da Buettner.

Sobre a família, Helga ressalta que deve muito à enérgica mãe que, após o falecimento prematuro do pai, muito a apoiou. Além de sempre incentivá-la a prosseguir na busca por mais conhecimento.

“Minha mãe cedo me incentivou a me dedicar ao estudo de línguas estrangeiras – inglês e francês – e, na música, ao canto lírico. Seu refrão era ‘você consegue’, ‘você pode’.”

Ainda na infância, aos 7 anos, Helga viajou à Alemanha com os pais, onde foram surpreendidos pela eclosão da Segunda Guerra Mundial em 1939. Ela e a mãe, como brasileiras, puderam retornar ao Brasil. Mas o pai, que era alemão, foi impedido de voltar.

“Ele não conseguia passagem, pois havia poucos voo, superlotados com famílias que fugiam da Alemanha em guerra. Por via marítima ele nem ousava voltar. Minha mãe e eu, do convés do transatlântico Oceania, vimos diversos passageiros alemães, residentes no Brasil ou Argentina, sendo presos e retirados de bordo”, relata. Heinz Erbe conseguiu voltar ao Brasil apenas em dezembro de 1947.

Aprender e ensinar um novo idioma

Luiz Antonello/O Município

Helga iniciou os seus estudos de línguas na Cultura Inglesa e na Aliança Francesa, em Curitiba. Em maio de 1952, em viagem aos Estados Unidos com a mãe, ela começou um curso de verão na Cornell University, no estado de Nova Iorque.

Porém, em 23 de julho, Heinz morreu subitamente após sofrer um ataque cardíaco durante uma reunião da diretoria da empresa. Com o falecimento do pai, mãe e filha voltaram ao Brasil. No final do mesmo ano, Helga conseguiu o diploma de inglês pela Cambridge University e, anos mais tarde, o da Southern Illinois University.

Em São Paulo, trabalhou em uma agência de turismo e estudou canto lírico, que a aproximou da língua italiana. Também, começou a dar aulas particulares de inglês em Brusque e em Blumenau.

Helga retorna à Alemanha

Na sala de casa, pintura de Helga chama a atenção, além do antigo piano, espelho e prateleira de livros – Foto: Luiz Antonello/O Município

Em 1958, Helga voltou à Europa com a mãe. As duas compraram um carro usado, visitaram vários países e fixaram residência em Munique, na Alemanha, onde alugaram um apartamento.

Neste tempo, Helga trabalhava como intérprete das línguas inglesa, francesa e italiana para a Polícia de Estrangeiros do Estado. Lembra-se de casos de cidadãos da Líbia e Abissínia, que ocupava os territórios da atual Etiópia e Eritreia, que requeriam asilo político na Alemanha; casos de soldados americanos, estacionados na Alemanha, e casos de jovens estudantes italianas, acusadas de pequenos furtos.

Na sala de casa, pintura de Helga chama a atenção, além do antigo piano, espelho e prateleira de livros – Foto: Helga Kamp/Arquivo pessoal

Além disso, o trabalho de intérprete resultou em vivências marcantes. Uma delas foi em março de 1960, nos preparativos do Congresso Eucarístico Internacional.

“Fui oferecer meu trabalho e o arcebispo da Baviera nos recebeu. Éramos duas candidatas sendo entrevistadas. Fiquei impressionadíssima pela suntuosidade daquele ambiente e daquele traje fantástico da autoridade eclesiástica”, recorda.

A outra candidata, chamada Silvia de Toledo Sommerlath, era estudante da escola de intérpretes de Munique. Hoje, ela é a rainha consorte da Suécia.

A oportunidade de trabalho foi declinada por Helga, pois o evento seria em julho e ela retornaria ao Brasil no mesmo período. “Mas, pelo menos conheci a Silvia”, completa.

Encontro no restaurante naturalista

A mãe de Helga retornou ao Brasil antes da filha, em abril de 1959. Em junho, ela conheceu o jovem alemão Ernst Otto Kamp, nascido no Chile, em um restaurante naturalista de Munique.

Helga perguntou para ele se a cadeira estava vazia e o homem gesticulou que ela poderia se sentar. “Demorou, antes que ele fizesse a pergunta normal em uma situação como essa. Finalmente me perguntou de onde eu era. Esse encontro significou a grande mudança em minha vida”, recorda.

Ela e Ernst continuaram a se encontrar. Em janeiro de 1960, eles se casaram e, em junho, Helga retornou ao Brasil junto do companheiro.

Helga e Ernst em comemoração das Bodas de Diamante, em 16 de janeiro de 2020 – Foto: Helga Kamp/Arquivo pessoal

Na mesma década vieram os filhos. Em 1961, nasceu Anja; em 1963, o Haro; em 1965, o Roy; e, em 1967, o Ronald. Hoje, são oito netos, seis mulheres e dois homens.

Ernst faleceu aos 96 anos em setembro de 2021. “O objetivo em comum era a evolução e eu vejo muito amor. Foi muito precioso, 61 anos de parceria. Um privilégio muito grande ter esse companheiro de vida”, completa.

Primeira escola de línguas

Escola de idiomas foi primeiramente situada no antigo Casarão Buettner – Foto: Helga Kamp/Arquivo pessoal

Em 1969, a mãe de Helga sugeriu que ela aceitasse a turma de inglês de um professor de Itajaí, que não poderia mais vir a Brusque lecionar. “Eram cinco senhoras da sociedade aprendendo inglês, pois gostavam de viajar”, conta.

Helga recusou a proposta, pois o quarto filho ainda era muito pequeno. Porém, Wally a convenceu a aceitar. Ela prometeu cuidar dos quatro netos, enquanto Helga lecionava. “Minha suspeita é de que o maior objetivo dela era em me apoiar para que eu conseguisse me tornar financeiramente independente do marido”, aponta.

O professor era franqueado da Yázigi e Helga teve que ir a São Paulo para se inteirar da proposta comercial, além de provar a competência na língua que pretendia ensinar.

Com a aprovação, a escola foi inaugurada na já demolida casa dos avós. A estrutura ficava na avenida Cônsul Carlos Renaux, número 120. Após a demolição, em 1985, a escola foi transferida para a antiga residência de Arno e Ally Odette von Buettner Ristow, na rua Rodrigues Alves.

Com demolição da estrutura anterior, a escola passou a situar em residência vizinha ao Grupo Escolar Feliciano Pires – Foto: Helga Kamp/Arquivo pessoal

Wally faleceu em 8 de julho de 1981, aos 89 anos. Segundo Helga, a mãe foi uma figura marcante e proporcionou memórias valiosas para as novas gerações da família.

Em 1997, aos 65 anos, Helga percebeu que estava na hora de se retirar para se dedicar a outros interesses. Então, a escola foi vendida a um jovem professor gaúcho. Ela detalha que eram tempos financeiramente desencorajadores pelo surgimento de outras escolas de línguas concorrentes em Brusque, que ofereciam cursos a preços mais baixos. O jovem professor desistiu, fechando o estabelecimento pouco tempo depois.

Nova era de Micki

Luiz Antonello/O Município

Ao longo dos anos seguintes, Helga dedicou-se ao canto lírico, leituras e viagens. Em parceria com o marido, ela trabalhou como tradutora técnica para empresas. A pedido de um grupo de estudos sobre Sufismo, o casal traduziu várias obras de Murat Yagan.

Para os próximos anos, Helga tem planos de descrever a biografia de Ernst. Também, um outro livro, intitulado “A Saga da Família von Buettner no Brasil”, já está na revisão e deve ser lançado em breve. São registros que brusquense ainda espera ver transformados em livros, entre outros projetos na gaveta.

“Eu tive uma vida muito interessante, devéras privilegiada! Aqui uma sugestão a todo jovem: desenvolva a sua autoestima. Para amar os outros é preciso primeiro poder amar a si mesmo. Todos os grandes mestres do passado já nos mostraram o caminho para a felicidade”, reflete.

“Descubra dentro da profundidade de seu Ser a sua paixão, o seu objetivo maior, a sua verdadeira missão para que possa fazer a diferença, contribuir para o ambiente, para o mundo em que foi inserido”, completa.

Luiz Antonello/O Município

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