Conheça história de pai que fez parto improvisado em meio à cheia de 1983, em Blumenau
Pai precisou realizar parto de Juliana com ferramentas da casa
A enchente de 1983, em Blumenau, ficou na memória de muitos. Porém, para o casal Tânia Regina e Pedro Paulo Simas um acontecimento importante deixa as lembranças ainda mais vivas: foram os primeiros dias da recém-nascida Juliana, hoje com 36 anos. Foi também a única vez que Simas se tornou parteiro – e da própria filha.
Apesar dos dias de chuvas incessantes, Tânia ficou alheia às notícias sobre a chegada da enchente, já que no porão de dois cômodos onde vivia com o marido não existia televisão. A água atingia a varanda quando ela entrou em trabalho de parto. Ilhados, não havia como sair da rua São João, no bairro Itoupava Norte, e ir até o hospital.
“Eu morava do outro lado da rua, mas a dona do porão, que era evangélica, disse para nós irmos morar lá, que Deus havia dito para ela que algo ia acontecer. Eu acreditei e me mudei. Na casa onde vivíamos antes a água chegou no telhado. No porão, não passou da varanda”, lembra Tânia.
O trabalho de parto
Em um misto de dores das contrações, preocupação com um possível alagamento, falta de estrutura e ansiedade com a chegada da primogênita, Tânia passou cerca de 12 horas em trabalho de parto. Com o auxílio do esposo e da dona da casa, que morava no andar de cima, tornou-se mãe às 7h45 do dia 9 de julho de 1983.
Durante o parto, Simas teve de improvisar: usou um barbante da caixa de ferramentas que estava sob a cama para amarrar o cordão umbilical. A tesoura, que ficou toda a noite dentro de uma panela com água quente, já estava fria quando precisou ser usada.
“Na hora eu não pensei em nada, é como se tivesse sido tomado por um espírito. Eu entrei em transe. Tanto que depois que ela nasceu eu fui para a janela e as pessoas que estavam na garagem perguntaram se era menino ou menina. Foi nessa hora que a ficha caiu”, lembra o pai.
Mesmo que de maneira improvisada, Juliana nasceu saudável. Foi registrada e levada a uma unidade de saúde dez dias depois por uma pequena embarcação dos bombeiros. Tânia teve dificuldades com a amamentação. Como não era possível sair do local, uma vizinha, que também tinha um bebê, alimentou Juliana.
“Na hora eu não pensei em nada, é como se tivesse sido tomado por um espírito. Eu entrei em transe. Tanto que depois que ela nasceu eu fui para a janela e as pessoas que estavam na garagem perguntaram se era menino ou menina. Foi nessa hora que a ficha caiu”, Pedro Paulo Simas, pai de Juliana.
“Ficamos vários dias à luz de velas. Sem água, eu usava a da chuva para dar banho nela. Teve uma hora no parto que ela trancou e não ia nem pra frente e nem pra trás. A dona da casa ajoelhou ao lado da cama e rezou. Com tudo o que aconteceu ela poderia ter tido algum problema, mas graças a Deus deu tudo certo”, diz Tânia.
Um ano depois do episódio o casal deixou o imóvel. Atualmente a família vive no bairro Ponta Aguda. Doze anos após a chegada de Juliana, Tânia engravidou de gêmeas.
“Minhas irmãs nasceram no hospital, foi cesárea. O meu nascimento eu conto para todo mundo que posso. Eu me sinto especial, tenho orgulho de ter sido em casa e com a ajuda do meu pai. É diferente….ormalmente as pessoas nascem no hospital, né?”, diverte-se Juliana.
Ela mora em uma casa no mesmo terreno que os pais e trabalha em um ambulatório de análises clínicas.
A enchente
A enchente de 1983 ainda é lembrada como uma das maiores tragédias climáticas brasileiras. Entre julho e agosto daquele ano, o rio Itajaí-Açu ficou, ao todo, 32 dias fora do seu leito normal.
A violência das águas e, principalmente, a duração da cheia impuseram enorme sofrimento à população de Blumenau e do estado. Clique aqui e veja 35 fotos que relembram a tragédia.