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Conheça histórias de quem foi atingido pela catástrofe de 2008 em Brusque

Muitas pessoas perderam todos os bens na tragédia; alguns ainda não recuperaram

A catástrofe ambiental de 2008 não escolheu a quem atingir em Brusque. Gente de todos os bairros perdeu casa, móveis, eletrodomésticos. Famílias que aqui moravam há pouco tempo e as que já habitavam o mesmo lugar há décadas. Onde o morro caiu e a água chegou, houve destruição.

Nesta reportagem, O Município traz diferentes histórias de quem perdeu quase tudo na cheia e conseguiu reconstruir a vida. Em comum entre os entrevistados, a lembrança vívida daquele 22 de novembro, e a sensação de que não haviam sido suficientemente alertados sobre o perigo.

Móveis não pagos levados pela água

A passadeira Rose Batista Correa pensou que a água que descia do Planalto não chegaria à casa onde morava, próximo à Sodepan, no Limoeiro, com o marido e dois filhos, à época com 3 e 10 anos. Tomou um susto quando viu o aguaceiro tomar conta da residência debaixo para cima, entrando pelo ralo do banheiro.

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“Conseguimos tirar algumas coisas, como geladeira, mas o que era eletrodoméstico perdi tudo, perdi móveis que nem tinha pago”, conta Rose. Ela tentou argumentar com a loja a fim de ter a dívida perdoada, sem sucesso. Os equipamentos não tinham seguro contra catástrofes naturais.

Rose Batista Correa estava com dois filhos pequenos quando a casa foi atingida pela água | Arquivo Pessoal

Rose conta que viu muita gente se mudando nas redondezas, mas eles não tinham veículo e decidiram aguardar. Só conseguiu salvar roupas e documentos, jogando-os na parte de cima de uma beliche.

A família passou 15 dias fora de casa, com a água até as janelas. Ganhou algumas cestas básicas da prefeitura e recomeçou a vida. Hoje, mora em um apartamento no

Cedrinho, do Minha Casa Minha Vida, onde não há risco de enchente. Na memória, no entanto, 2008 ainda está presente.

Uma criança no meio da enchente

A fotógrafa Luciane Cassere tinha 12 anos quando a casa onde morava, no Santa Rita, foi atingida pela enchente. Lembra de cada detalhe daquele dia, quando estava na companhia dos pais. Eles tinham acabado de chegar em Brusque, vindos do Rio Grande do Sul, e não conheciam a questão das cheias na região de Brusque.

“Lembro perfeitamente que à noite fui acordada pela minha família e a cozinha estava toda debaixo d’água, o rancho que tinha feito naquela tarde todo boiando”, conta Luciane.

Ela diz que naquela tarde choveu muito e a água chegou perto da porta da frente, mas a família pensou que “não ia dar nada”.

Luciane Cassere era criança quando a tragédia atingiu sua casa | Arquivo Pessoal

Como a casa era de madeira, a água entrava por baixo. O pai dela saiu correndo para desligar a energia, antevendo o iminente risco de um choque elétrico. A família juntou as coisas que estavam mais à mão e subiu para a casa do vizinho, no segundo andar de um sobrado. Toda a cozinha foi perdida, assim como outros móveis.

“A gente ficou com um pouco de trauma e na primeira oportunidade saímos da casa, a gente foi morar em um apartamento pelo medo de acontecer de novo e realmente aconteceu, mas aí estávamos seguros”.

Luciane recorda com tristeza os dias da tragédia. “A situação na rua onde eu morava era bem triste. Era muito entulho, como se tivesse uma guerra.  Muita gente não conseguiu salvar nada porque já acordou debaixo d’água”.

Da perda total à viagem a Arábia

Ananda Tayná ganhou uma viagem a Arábia Saudita após a família perder tudo na catástrofe | Arquivo Pessoal

Ananda Tayna de Oliveira estudava no colégio Santa Terezinha quando sua família perdeu tudo na cheia de novembro de 2008. Sua mãe, Luizene Oliveira, conta que a família morava em uma casa alugada, há cerca de dois anos.

A água entrou na casa de forma tão avassaladora que estourou o vidro da porta da frente. Os pertences começaram a boiar e saíram porta afora, perdendo-se a dezenas de metros de distância.

Após a perda, as coisas começaram a mudar. A diretora da escola queria saber histórias dos alunos atingidos pela tragédia, e sensibilizou-se quando a menina, aos 13 anos, contou-lhe que a família perdeu tudo.  

Ela foi então selecionada entre dez estudantes catarinenses que fariam uma viagem até a Arábia Saudita, em viagem oficial do ex-presidente Lula, já que o governo árabe se prontificou a oferecer ajuda ao estado.

A viagem foi realizada em maio de 2009, e a estudante ficou uma semana lá. A família, nesta altura, já havia iniciado a retomada da vida normal.

“A gente foi trabalhando, e assim devagarinho e sempre, a casa já aumentamos dentro das possibilidades fomos comprando as coisas”, afirma a mãe de Ananda.

Terreno embargado há dez anos

O casal Acioni e Rafael Ricken mostra fotos da sua casa destruída por um desmoronamento | Marcelo Reis

No bairro Águas Claras, a casa de Rafael Augusto Ricken e Acioni Nazário Ricken foi totalmente soterrada, em prestações. O morro que ladeava o imóvel caiu em três parcelas, a primeira delas às 14h do dia 22 de novembro.

“O tempo estava chuvoso já fazia tempo, começaram a falar que o morro ia cair, a gente foi lá em cima e realmente o morro tinha rachado, tinha aberto, caiu a primeira parte, derrubou lavanderia, dois quartos e cozinha, à noite caiu outra parte do morro e na semana seguinte caiu a terceira vez”, explica Acioni, hoje aposentada.

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O casal foi para a casa do filho, posteriormente alugou um novo imóvel, pago pela Defesa Civil por seis meses. Mas o sonho de retornar ao lar nunca foi alcançado.

O terreno onde ficava a casa deles está embargado pela prefeitura desde a tragédia. Eles não conseguem liberação para construir, apesar de ter que pagar os impostos sobre a propriedade. O casal economizou e comprou outra casa, no mesmo bairro, mas não abandona o sonho de retomar o que é seu.

Vídeo: morador relata como queda de morro destruiu sua casa

Segundo eles contam, receberam à época a promessa de ganhar uma casa do poder público, até hoje nunca cumprida. Rafael foi até a Defesa Civil, que emitiu laudo e definiu obras de mitigação de desastres a serem feitas. Ele as executou, mas uma nova gestão do órgão entendeu que eram necessários outros serviços.

O casal não quer perder os recursos investidos nas primeiras obras, e também acredita que as intervenções pedidas pelo governo irão inviabilizar o terreno, ocupando quase a metade da área. Portanto, têm poucas esperanças de algum dia retomar aquilo que a natureza levou.