Conheça Marujo, futuro cão-guia que está em processo de socialização em Brusque

Família voluntária é a única na cidade que integra programa e relata dificuldades

Conheça Marujo, futuro cão-guia que está em processo de socialização em Brusque

Família voluntária é a única na cidade que integra programa e relata dificuldades

A companhia de um cão-guia traz grandes mudanças na qualidade de vida de uma pessoa com deficiência visual. Em Brusque, há o Braille, que acompanha Sidnei Pavesi há 7 anos e, agora, também o Marujo, cão que está em processo de socialização e deve ser treinado para a função no próximo ano.

O Labrador, definido como “uma bolinha de pelos de felicidade”, tem apenas oito meses e há quatro acompanha a família socializadora, formada pelos professores Patricia Vilar Vitor Salinas, de 31 anos, e Walmir Ruis Salinas Junior, 32, moradores do bairro Santa Rita.

Luiz Antonello/O Município

O processo é necessário para tornar o cão sociável e prepará-lo para o treinamento, feito no Centro de Formação de Treinadores e Instrutores de Cães-Guia e Inclusão, localizado no Instituto Federal Catarinense (IFC) Campus Camboriú.

“São três etapas. Nessa fase, temos que apresentar a diversidade de lugares, sons, situações, para ele se adaptar”, explica Patricia. “A ideia é dessensibilizar o cão para qualquer tipo de experiência que ele possa vir a ter, para ele não se assustar ou ficar muito interessado em alguma coisa nova, que faça ele sair da função de guiar. Por isso a ideia é levar ele para onde a gente estiver”, complementa Walmir.

O professor cita, por exemplo, a necessidade de levar o Marujo a locais do cotidiano e os que fazem parte da vida social, como uma boate. “Claro, é preciso respeitar a segurança de todos os sentidos do cão, se estiver som alto ele estará sofrendo. Quanto mais experiência ele tiver antes do período de trabalho, mais fácil será para ele guiar”, ressalta.

Programa de voluntário

Luiz Antonello/O Município

Patricia relata que a iniciativa de se tornarem voluntários aconteceu após o casal conhecer Sidnei e o Braille. Apesar do receio pela responsabilidade, em novembro de 2021 eles fizeram o cadastro no IFC de Camboriú.

Sidnei explica que Marujo é uma propriedade do governo federal. Ele é cedido à família para socializar durante cerca de 1 ano, depois retorna ao IFC para o treinamento e, em sequência, é adaptado para um cego.

O deficiente visual entra em um processo de comodato de cinco anos. Após esse período, caso tudo dê certo, o cão passa a ser definitivamente do usuário. “A qualquer momento o cão pode ser retirado pelo Instituto nesses cinco anos iniciais, se algo ocorrer de errado”, diz.

Sidney conta que, além do IFC, no estado também há a Escola de Cães Guias Helen Keller, entidade filantrópica que treina e entrega cães-guias de forma gratuita. “Os problemas são a falta de informação e o deficiente visual não ter condições para manter um cão-guia. A manutenção dele é responsabilidade do usuário”, explica.

Luiz Antonello/O Município

Já a família socializadora não tem gastos financeiros com o Marujo, o programa paga pela alimentação e cuidados. “Nós vamos uma vez por mês no IFC em Camboriú, para receber instruções e para eles verem como estão os cães. Cinco comandos básicos nós ensinamos para ele, como sentar, ou ficar, o lugar, o vem e o banheiro”, explica Patrícia.

“Sempre temos que nos colocar na posição de quem vai receber o cão depois, com esse bom senso a gente faz o treinamento”, continua Walmir.

Apesar do Marujo estar em socialização em Brusque, ainda não está definido para onde ele vai após o treinamento. Ou seja, o cão pode tanto acompanhar um deficiente visual na cidade, quanto em outro município do país.

Dificuldades no caminho

Luiz Antonello/O Município

Com a tarefa desafiadora, o casal esbarra na desinformação e no descumprimento da lei. O Marujo carrega uma carteirinha de identificação, como um cão-guia, que traz uma cópia do decreto federal nº 5904, que permite à família entrar com o cão em ambientes públicos ou privados e permanecer no local.

“Mesmo a gente apresentando ela para as pessoas, algumas dizem ‘aqui, ele não entra’. Já chegaram para perguntar para gente assim: ‘cadê o cego? Traz o cego aqui, aí você pode entrar’”, relata Patricia.

Num mesmo dia, o casal passou junto com o Marujo por três padarias grandes da cidade. Eles foram barrados nos três locais. “Além de fazer esse papel de socialização do cão, a gente faz a divulgação do projeto. Nessas padarias, a gente não chamou a polícia, não fizemos denúncias. Falamos ‘olha, o decreto é esse, vocês leiam e depois a gente retorna’. Em duas, retornamos e as pessoas autorizaram a entrada e admitiram estarem desinformadas. Na outra, que foi a mais problemática, a gente ainda não retornou”, continua.

A lei prevê multa aos estabelecimentos que proibirem a entrada do cão-guia ou em socialização. O valor mínimo da multa é de R$ 1 mil e máximo de R$ 30 mil. As penalidades, em caso de reincidência, são a interdição do estabelecimento pelo período de 30 dias e o pagamento de uma multa que pode chegar a R$ 50 mil.

Sidnei também relata dificuldades, mesmo após comprovar ser uma pessoa com deficiência. “Estou até traumatizado, evito pegar Uber. Solicito quando não tenho pressa de chegar, pois já vou preparado para arrumar briga. Na grande maioria não tem problema, mas, quando tem, vai pra polícia e tem boletim de ocorrência, se tiver uma reunião agendada penso se o estresse valerá a pena pelo deslocamento”, conta.

“É um movimento relativamente novo no Brasil. Esta é uma das grandes dificuldades que a gente tem. A população em geral não conhece e a parte difícil é conscientizar”, finaliza Walmir.

Luiz Antonello/O Município

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