Conheça o ex-capitão do Carlos Renaux que encerrou carreira e agora atua no Campeonato Amador de Brusque
Thiago Cristian fala sobre a aposentadoria precoce e as passagens pelo futebol catarinense
Após 13 anos atuando profissionalmente por 13 clubes, o polivalente Thiago Cristian, de 31 anos, se aposentou do futebol em janeiro de 2019, e hoje é jogador da Cia do Esporte, que disputa o Campeonato Municipal de Futebol Amador de Brusque. Em Santa Catarina, teve passagens por Concórdia, Brusque e Metropolitano, antes de chegar ao Carlos Renaux, seu último time como profissional. Em uma carreira marcada por luta e pelos castigos das lesões, o cansaço chegou rápido, e Brusque foi o porto seguro do atleta, natural de Guarulhos (SP), para dar sequência à vida.
Seu último jogo como profissional foi no Carlos Renaux, no segundo jogo da semifinal da Série C do Campeonato Catarinense, contra o Atlético Itajaí, no Roberto Santos Garcia, em Camboriú. Os adversários abriram o placar aos 35 do primeiro tempo com Bruno Andrade. O empate veio só aos 43 do segundo tempo, com Fabinho.
Nos 30 minutos da prorrogação, lesionado, Thiago Cristian apenas fez número no ataque, se sacrificando para o Vovô não ficar com um jogador a menos. O empate em 1 a 1 persistiu na prorrogação e eliminou a equipe, pois o Atlético Itajaí tinha melhor campanha. Era o fim do sonho do acesso e o fim da carreira para o primeiro capitão do Carlos Renaux no retorno ao futebol profissional.
Sem raízes
O palmeirense Thiago Cristian Alves de Melo nasceu em Guarulhos, na região metropolitana de São Paulo, em 9 de agosto de 1987. O futebol lhe foi apresentado ainda cedo, e teve a chance de ver seu pai jogar competições amadoras. O sonho de ser jogador começou na Associação Desportiva Guarulhos.
Em sua carreira, o lateral-esquerdo, ponta esquerda e volante passou, em média, por um clube a cada ano: Campinas (SP), São José (SP), América-SP, Concórdia, Brusque, Metropolitano, Volta Redonda (RJ), Rio Claro (SP), América-RN, Guarani (SP), Vitória da Conquista (BA), Maringá (PR) e Carlos Renaux.
O jogador-viajante passou pelos 13 anos enfrentando lesões e dificuldades que são obstáculos na maioria dos jogadores profissionais no Brasil. Boa parte das equipes por onde passou são pequenas e com orçamento reduzido, oferecendo condições abaixo das ideais e, muitas vezes, pagando salários atrasados.
Brusque e Santa Catarina
Thiago Cristian chega a Santa Catarina em 2011, para atuar pelo Concórdia, que disputaria o Campeonato Catarinense. Saindo do América de Rio Preto (SP), ele faz boas atuações pelo Galo d’Oeste e se destaca na equipe que acabou rebaixada. “Foi uma passagem muito boa, fui bem regular e joguei quase todos os jogos daquele Catarinense”, explica.
O bom desempenho chamou a atenção do Brusque, que contratou o atleta para a disputa da Copa Santa Catarina e da Série D. “Não tive muita oportunidade no Brusque. É um clube que merece todo o respeito, mas ainda precisa mudar muito para crescer no futebol brasileiro como pretende.”
Em 2012, Thiago chega ao Metropolitano, onde permanece até 2013, e faz boa campanha no Campeonato Catarinense. Lesões graves no joelho esquerdo e no lado direito do quadril fizeram com que ele precisasse passar por cirurgias, comprometendo a boa fase que vivia em Blumenau. Já era sua segunda cirurgia nos joelhos, após uma lesão em 2005, ainda no início da carreira. Na mesma época turbulenta, entre 2011 e 2012, ele conheceu sua esposa, que é brusquense.
Em 2016, após rodar por Volta Redonda, Rio Claro, América-RN, Guarani, Vitória da Conquista e novamente pelo Rio Claro, Thiago Cristian ainda retorna a Brusque para disputar o Campeonato Municipal de Futebol Amador pelo Carlos Renaux.
Maracanã
Thiago Cristian se recorda com nostalgia de 15 de outubro de 2014, quando atuava pelo América-RN. “Aquela passagem foi o auge. Jogar contra o Flamengo no Maracanã, na frente de 48 mil torcedores, com meu pai assistindo, foi um sonho de criança realizado”, afirma.
O América disputava as quartas-de-final da Copa do Brasil, e foi eliminado com duas derrotas por 1 a 0. Nas fases anteriores, já havia passado por Atlético Paranaense, Fluminense, Náutico e Boavista (RJ).
O ano de 2014 foi especial, com o hoje brusquense vivendo uma boa fase no Rio Claro, jogando o Campeonato Paulista no primeiro semestre. No segundo, pelo América-RN, disputou Série B do Campeonato Brasileiro e Copa do Brasil. Houve ainda tempo de ser campeão potiguar com o América-RN, chegando na reta final do estadual.
O fim
No segundo semestre de 2018, Thiago Cristian retorna ao Carlos Renaux, desta vez para a disputa da Série C do Campeonato Catarinense. Como capitão do time, atua na lateral esquerda e como volante. Disputou todas as oito partidas. Foram três vitórias, quatro empates e uma derrota. A chegada ao clube foi facilitada pelo diretor de futebol Juliano Batista, amigo do jogador.
“Foi uma experiência muito positiva. O [Carlos] Renaux me abriu as portas e fiquei muito feliz com a oportunidade. Tive propostas de outros clubes, mas acabei ficando em Brusque, próximo da família. Infelizmente não conseguimos o acesso, mas o Renaux ganhou um admirador e torcedor”, comenta.
O contrato era válido apenas para a Série C, já que o Carlos Renaux só deve voltar a campo para a próxima edição do campeonato, no segundo semestre de 2019. Após quase quatro meses sem encontrar clube depois da passagem pelo Renaux, Thiago Cristian pensou em parar. “Eu, com um filho de cinco anos e desempregado em casa é muito difícil. Não estava planejando minha aposentadoria, mas pensei muito durante aqueles meses e acabei tomando a decisão em janeiro de 2019.”
A aposentadoria precoce, aos 31 anos, também foi embasada pelas desilusões com os bastidores do futebol e com os sacrifícios dos últimos 13 anos. “O futebol tem muita sujeira, também. É de dar nojo, os esquemas envolvendo presidentes, empresários, treinadores, manipulações de resultados, que existem, sim. Negociatas por fora forçando escalação de jogadores, por exemplo. No mundo todo tem, no Brasil não é diferente. Jogadores são só cifras”, reclama.
“Eu me dediquei ao extremo por 13 anos. Fiquei longe da minha família por muito tempo, perdi muitos momentos importantes, tanto bons quanto ruins, da minha família. Não tive tempo para minha família. Parar foi a decisão mais difícil da minha vida, porque nunca fiz outra coisa que não fosse jogar futebol. Estou mentalmente muito desgastado e preciso focar na família, em Brusque e fora”, completa.
Novos caminhos
O futebol continua, mas como passatempo. Thiago Cristian é o principal nome da Cia do Esporte, equipe que disputa o Campeonato Municipal de Futebol Amador de Brusque e manda seus jogos no CT Rolf Erbe, do Brusque, no bairro Bateas. O técnico é um velho conhecido, o amigo Juliano Batista.
Em 24 de março, o ex-jogador profissional marcou três gols na goleada por 5 a 2 sobre o Rio Branco. Foram seus primeiros gols na competição. Nunca havia marcado três vezes em uma mesma partida.
Terra firme
Depois que deixou o pequeno Campinas, Thiago Cristian jamais criou raízes em um clube. Não ficou por dois anos em uma mesma equipe. No entanto, foi em Brusque que o hoje ex-jogador profissional teve a chance de construir uma família e um porto seguro. Atualmente cursa educação física e trabalha em uma loja de autopeças.
Havia a opção de retornar a Guarulhos, mas Brusque foi uma opção muito melhor, para Thiago Cristian. A infância no Bairro dos Pimentas, em Guarulhos, foi simples, mas cercada de potenciais más influências. A escolha foi de criar seu filho em uma realidade diferente, longe da cidade natal.
“Minha ligação com Brusque cresceu depois de eu ter conhecido minha esposa, em 2012. Desde então, comecei a vir muito para cá. Foi no momento em que ela engravidou que decidi que ficaria em Brusque. Tenho muito orgulho de ter nascido em Guarulhos, no bairro dos Pimentas, mas Brusque é uma cidade muito boa e acolhedora e preferi ficar aqui.”