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Conheça os jovens que tornaram-se ministros da Eucaristia, função antes reservada aos mais velhos

Envolvimento da juventude no trabalho da Igreja Católica contribui para que mais pessoas busquem a fé

Cada vez mais os jovens se envolvem e participam das atividades das igrejas. Em Brusque, diversas paróquias e comunidades católicas contam com ministros da Eucaristia – função tipicamente exercida por fiéis de mais idade – que se iniciaram ainda cedo nessa responsabilidade.

Segundo o padre Magnos Caneppele, da Paróquia São Luís Gonzaga, no Centro, os jovens buscam cada vez mais a religiosidade. Por isso, ele ressalta que a igreja mudou sua forma de falar e atingir esse público.

“Eles têm uma sede muito grande de Deus e, muitas vezes, não sabem como chegar até a igreja, acham que ela está distante. Nos últimos anos, a igreja vem fazendo uma abertura muito grande, mudando a linguagem, utilizando as mídias sociais para chegar até esses jovens, e isso tem nos dado um resultado muito bonito. O jovem se sente em casa e consegue ter sua experiência na igreja”, afirma o pároco.

O padre pontua que há cada vez mais maneiras para que os jovens entrem na igreja, por meio dos movimentos, tanto das comunidades católicas quanto das evangélicas, que vão ao encontro dos jovens. Exemplos disso são os acampamentos, o Emaús, os grupos de jovens e também a Missa com Jovens.

“Em todos os momentos, o jovem vai ter um espaço na igreja, para que ele possa expressar sua fé. A renovação da igreja passa pelos jovens, e é um desejo da igreja que eles ocupem ainda mais esse espaço de protagonismo, que de fato venham para a igreja e ajudem a transformá-la em algo melhor”, diz.

Exemplo dentro de casa

Desde criança, Ana Paula de Souza, de 25 anos, frequentou com a família a comunidade Nossa Senhora Aparecida, no Steffen. Hoje, ela é ministra da Eucaristia na Comunidade São Francisco de Assis, no Cerâmica Reis. “A maior parte da minha vida na igreja foi no Steffen. Hoje, que temos a comunidade aqui, ainda frequentamos lá quando podemos”, diz.

Os integrantes do Ministério da Eucaristia são responsáveis por auxiliar o sacerdote nas celebrações, visitar os enfermos e levar mensalmente a comunhão para aqueles que não podem se deslocar até a igreja. Na comunidade São Francisco de Assis, atualmente, há oito ministros, incluindo Ana Paula e sua mãe.

A mãe de Ana Paula atua como ministra da Eucaristia, e foi isso que despertou nela a vontade de seguir também esse caminho. Antes de ser convidada para o Ministério, Ana Paula foi coroinha, participou da equipe de canto e auxiliou na liturgia. Quando seus pais fizeram o Cursilho – retiro de casais em que a esposa sai em retiro primeiro e, quando retorna, é a vez do marido -, ela passou a integrar o coral da Matriz.

Segundo Ana, a vida em comunidade requer bastante dedicação. Hoje, como ministra, ela auxilia nas celebrações, e também integra a Pastoral da Comunicação da comunidade no Cerâmica Reis, que ela e a família ajudaram a fundar, há cerca de oito anos. “É um encontro com Deus. Para os jovens, ver outros jovens atuando dentro da igreja é algo que chama, que convida para participar também, ir a retiros e participar de movimentos como o Emaús, os acampamentos e o Encontro de Jovens Unidos (EJU).”

Aos 25 anos, Ana Paula é uma das mais jovens ministras da Eucaristia das paróquias de Brusque. | Foto: Natália Huf

FAC plantou semente de fé

Matheus Poia, de 22 anos, é o ministro mais jovem da Paróquia São Luís Gonzaga. Desde dezembro do ano passado, ele assumiu a função de Ministro da Eucaristia, após ser convidado pelo padre Magnus Caneppele. Matheus conta que cresceu numa família católica e que “desde sempre” esteve na igreja.

“Eu lembro que, quando criança, com uns oito ou nove anos, comecei a servir na Matriz como coroinha. Fiquei mais ou menos um ano, aí saí e fui fazer a comunhão e a crisma. Mas só fui ‘me tocar’ mais da vida religiosa depois de fazer o acampamento Formação de Adolescentes Cristãos (FAC). Foi lá que tudo começou, que a semente foi plantada”, conta Matheus.

Segundo ele, antes do acampamento, estava perdido e, na formação cristã, foi encontrado e voltou a participar da comunidade, integrando o grupo de jovens e iniciando trabalhos assíduos na igreja. Após frequentar o FAC, foi chamado para trabalhar na edição seguinte e, em 2017, participou do Emaús. E foi lá que Matheus sentiu a vontade de seguir o Ministério se revelar.

Matheus decidiu ser ministro da Eucaristia para mostrar que os jovens podem ter responsabilidades dentro da igreja. | Foto: Reprodução

“Eu falei com o padre Magnos e, alguns meses depois, ele me chamou e me convidou para o Ministério da Eucaristia. Foi ali que começou o desafio, pois a gente começa a ver que é preciso se doar. Não é só ir à missa, é estar lá com a responsabilidade de entregar o corpo e o sangue de Jesus Cristo às pessoas. É muito legal, mostra que eu posso ser um jovem e também ter um trabalho que me dignifique dentro da igreja.”

Matheus acredita que a igreja quer que o jovem trabalhe e esteja presente na comunidade como um membro engajado em batalhar pelas paróquias. “Os outros ministros mais jovens e eu nos entendemos muito bem, somos amigos e nos ajudamos bastante. Eu quis assumir essa função também para provar que os jovens têm capacidade de exercer uma função na igreja e de se doar para ela. Às vezes, as pessoas sentem medo, acham que são muito jovens. Mas, quando dizemos ‘sim’, a igreja nos acolhe”, afirma.

Motivado pelas dificuldades

Esse acolhimento foi o que Alexandre Orlatei sentiu quando passou a frequentar as missas. Ele conta que, quando criança, ia à igreja e fez a catequese, mas era como se fosse uma obrigação: “A mãe matriculava, e tinha que ir. Depois da crisma eu parei de ir, mas minha avó, sempre muito católica, incentivava que eu fosse à igreja”. Há cerca de 5 anos, quando terminou um relacionamento e seu pai adoeceu, Alexandre decidiu buscar a religiosidade.

“Eu precisei de uma ajuda, de uma força. O mundo oferecia muitas possibilidades, sair, ir à festas. Mas eu decidi olhar por esse lado, eu acreditava em Deus, só estava um pouco distante. Aí, voltei a frequentar a igreja e participar das missas. Em toda missa que eu ia, parecia que o padre falava diretamente para mim, era até engraçado”, ri. “Mas foi em decorrência dessa dor, da perda que eu tive com o fim do meu namoro, que eu comecei a buscar e conhecer o amor de Deus.”

Aos 24 anos, Alexandre já atua há dois como ministro da Eucaristia na comunidade Nossa Senhora Aparecida, no bairro Steffen. Ele afirma que, desde que começou a se envolver mais no trabalho na comunidade, buscou atuar de maneira séria e dedicar-se da melhor maneira possível, participando do grupo de jovens. “Comecei a ser convidado para fazer leituras na missa, assumi a coordenação da Liturgia e sempre tentei ser muito ativo na comunidade, buscando o seguimento de Jesus.”

Alexandre retornou à igreja em busca de conforto, e atua como ministro há quase dois anos. | Foto: Arquivo Pessoal

“Eu fiz o Emaús, participei de retiros na própria comunidade e, depois de uns dois anos, veio o convite para ser ministro. Quando o Padre Adilson me chamou, fiquei até surpreso, especialmente pela minha idade, pois não tinha nenhum ministro jovem na comunidade.”

Segundo Alexandre, sua maior dúvida veio do senso comum de que jovens são “irresponsáveis” e precisam amadurecer antes de assumir funções de mais responsabilidade dentro da igreja.  Porém, após o convite e orientação do padre, decidiu aceitar para mostrar que é possível que a juventude atue com responsabilidade na comunidade.

“As pessoas acharam muito legal ter um ministro tão jovem, muitos me disseram que isso mostra que a juventude pode, sim, ter funções sérias na igreja. Isso também motiva outros jovens, que começam a acreditar mais que podem ocupar também esse espaço.” Alexandre conta que foi ordenado na Missa Jovem, na qual o padre falou muito sobre como a juventude pode e deve estar presente na igreja.

Para ele, essa presença é muito importante e necessária para a renovação das igrejas, para ajudar a dar visibilidade, ter novas ideias e para atrair outros jovens para a comunidade. “As pessoas se aproximam de onde elas se sentem acolhidas, de onde encontram seus semelhantes. Se a igreja não tiver jovens, os jovens não sentem vontade de ir, começam a acreditar que é coisa dos mais velhos. A juventude, atuando nas mais diversas áreas da igreja, é essencial para atrair mais jovens para a comunidade”, pontua.