Construção civil segura investimentos em Brusque
Prefeitura registra queda de até 40% nos pedidos de alvarás para novas obras
O Instituto Brusquense de Planejamento (Ibplan) estima que, nos últimos 60 dias, houve diminuição de 30% a 40% no número de pedidos de autorização para novas obras no município, os quais são aprovados no órgão. Entidades ligadas à construção civil atribuem os números ao agravamento da retração na economia brasileira.
Juliano Montibeller, diretor-presidente do Ibplan, afirma que a queda de pedidos de novos alvarás está ligada, sobretudo, a imóveis comerciais e multifamiliares. Ele opina que há receio dos investidores em fazer novos negócios imobiliários.
“Não é que não existe o dinheiro para investir. As pessoas tem o recurso mas estão aguardando para ver como vai ficar a situação econômica do Brasil. Você não irá, por exemplo, investir na construção de novos galpões, se não há novas empresas abrindo”, avalia.
Montibeller acredita que novos programas de financiamento propostos pelo governo federal podem incentivar a construção civil, mas avalia que, em tempos de contenção de despesas, eles devam ser cada vez mais restritos e, portanto, inibidores de investimentos. “O maior problema hoje é a questão econômica. Como você vai fazer novos investimentos se existem outros parados?”.
Menos construções também significam menos arrecadação ao município. Informações preliminares obtidas junto à prefeitura dão conta de que o número de emissões de novas guias do Imposto Sobre Transmissão de Bens Imóveis (ITBI) também caiu nos últimos meses, passando de cerca de dez emissões diárias, número considerado normal, para três a cinco emissões diárias, número considerado abaixo da média.
Não por acaso, dados obtidos junto ao Portal da Transparência, atualizados até agosto, indicam o mesmo cenário: arrecadação de R$ 2,18 milhões em ITBI nos primeiros oito meses do ano, quando foram R$ 2,38 milhões no mesmo período, em 2014. O Município Dia a Dia solicitou à Fazenda municipal dados mais completos sobre o ITBI, mas foi informado de que o secretário da Fazenda, Zeno Heinig, não autorizou a divulgação dos números.
Mercado de imóveis em retração
A queda do número de novas construções em Brusque está ligada, diretamente, ao desaquecimento das atividades do setor imobiliário local. Horst Heinig, coordenador do Núcleo de Corretores e Imobiliárias da Associação Empresarial de Brusque (Acibr), confirma que a desaceleração da economia afeta o setor. “Isso aconteceu em todos os lados”, sentencia.
“Dizem que a Caixa Econômica prevê para o segundo semestre do ano que vem uma reabertura dos financiamentos. Mas Fomos pegos de surpresa, ela vinha dizendo que estava bom e a casa caiu de uma hora para outra”, afirma, referindo-se ao governo da presidente Dilma Rousseff.
Heinig diz que, em conversas com outros empresários do setor, constatou-se que o mercado de locações é o mais afetado. “Perguntando para um e para outro, todo mundo diz que baixou”.
Cesar Moresco, corretor de imóveis, é um dos que sente no dia a dia a desaceleração dos negócios causada pela retração na economia. Explica que, hoje, quem tem imóveis para alugar tem demorado mais do que é comum. Afirma que possui espaços já há quatro meses e que ainda não conseguiu alugar.
Moresco afirma que, atualmente, os índices do INPC (preço do consumidor) e do IGPM (preço do mercado), que regem os reajustes periódicos dos aluguéis, tem se mantido elevados nos últimos meses, acima do que os mais otimistas previam para a economia nacional, e que isso reduz a procura por aluguéis. “Não temos conseguido repassar na íntegra esse valor para o preço final. A saída é negociar”.
Ele prevê um cenário em que a queda no valor dos aluguéis se torne comum, e afirma que, hoje, os corretores buscam segurar os imóveis que já tem locatários, pois a saída deste significa que o espaço ficará um bom tempo desocupado.
Novos investimentos só em 2016
Ademir José Pereira, presidente do Sindicato da Construção Civil e do Mobiliário de Brusque, diz que, com a economia passando por momento de dificuldade, o governo federal trancou os financiamentos imobiliários e que “automaticamente isso gera uma queda de produção”.
“Se o governo fizer alguma abertura, em termos de financiamento, nós vamos voltar a crescer. Hoje não temos lançamentos de novos prédios, estamos apenas construindo aqueles prédios que foram projetados durante o ano passado. Existe ainda produção, embora as vendas também tenham caído, uma coisa puxa a outra”, afirma Pereira.
Apesar disso, ele acredita em recuperação em 2016: “o que está acontecendo hoje, já aconteceu em outros governos. Em nível nacional, houve uma redução dentro da construção civil de 8,4%. Acredito que essa situação não vai perdurar por muito tempo, acho que até o fim do ano voltamos a crescer”.