Consumo de antidepressivos não basta para amenizar a depressão
Especialistas orientam que medicamentos devem ser usados associados a outras formas de tratamento
Grande parte das pessoas que tiram a própria vida, o fazem movidas por um transtorno mental. Entre os transtornos, o mais comum é a depressão.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), o Brasil é o país com maior prevalência de depressão da América Latina. São mais de 11 milhões de brasileiros que sofrem com a doença.
O psicólogo Fillipe Martineghi diz que é importante diferenciar a depressão de uma tristeza comum. De acordo com ele, geralmente a tristeza comum vem acompanhada de algum fator específico, uma perda, por exemplo. “Neste caso, ficar uma semana triste, desanimado, isso não é um problema porque teve um processo que desencadeou isso”.
Já a depressão ocorre quando a pessoa apresenta, pelo menos, duas semanas com humor deprimido e sem vontade de fazer suas atividades do dia a dia, sem um motivo aparente específico. “Junto com esses sintomas tem alterações de peso, dificuldade para dormir ou excesso de sono, apatia, entre outros sintomas”.
O aumento no número de casos de depressão, consequentemente, gerou um aumento no consumo de antidepressivos. Levantamento de uma empresa norte-americana de auditoria e pesquisa de mercado farmacêutico mostra que entre julho de 2017 a junho de 2018 a venda de antidepressivos no país foi de quase 71 milhões de comprimidos. Entre 2013 e 2014, este número era de 47 milhões de comprimidos.
O psiquiatra Felipe Gesser Cardoso afirma que a questão medicamentosa está atrelada a forma com que as pessoas tratam os transtornos mentais: apenas como uma alteração neuroquímica que pode ser resolvida com a medicação.
“Infelizmente não é assim. As medicações fazem parte de um tratamento e esse tratamento não é só medicamentoso. Tem outras particularidades, outras orientações para que consigamos a efetividade e o equilíbrio nessas pessoas”.
O médico diz que o tratamento da depressão está associado a prática de atividades físicas e mudança nos hábitos alimentares, e não apenas na ingestão de antidepressivos.
O psicólogo Fillipe Martineghi explica que a depressão leve, muitas vezes é possível tratar apenas com psicoterapia, por exemplo. Já a moderada a grave necessita de medicação e outros tratamentos associados.
“A medicação vai cumprir a questão de equilibrar o que está em déficit na parte química, só que o que causou a depressão pode ser fatores psicológicos, como por exemplo, alguma situação difícil que a pessoa passou e não conseguiu lidar. Às vezes, a pessoa precisa desenvolver resiliência, habilidades de comunicação, saber impor limites e isso a medicação não faz”, diz.
“Por isso é importante tratar a parte química e a psicológica para depois que a parte medicamentosa for retirada aos poucos, a pessoa esteja firme para continuar e, principalmente, prevenir recaídas”, completa o psicólogo.
Os especialistas também alertam para a necessidade de a pessoa seguir o tratamento repassado pelo médico de forma correta e nunca parar ou iniciar um medicamento sem autorização.
“Não podemos ver a medicação como algo negativo. O que é negativo é a falta da manutenção das orientações dados pelos médicos e psiquiatras. Quem deve iniciar ou parar o tratamento é o profissional. Sem isso, não teremos a efetividade esperada”, orienta o psiquiatra Felipe Cardoso.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), até 2020 a depressão será a doença mais incapacitante em todo mundo. “Vai gerar afastamentos, e isso impacta na economia e no funcionamento da sociedade como um todo, por isso é muito importante prevenirmos e tratarmos a depressão de forma correta, mas ainda temos muita resistência. A campanha Setembro Amarelo é uma forma de chamarmos a atenção para esse problema que impacta todos nós”, finaliza Martineghi.