Conversas mais doces
Docinhos e geleias, com pão quentinho e café, une gerações
O costume de tomar um bom café com doces e geleias, com amigos e vizinhos, não tem época. É um símbolo da integração da comunidade por meio da comida em qualquer idade.
Morgana Schaefer, moradora do Centro, é conhecida pelos docinhos que faz – uma tradição que ela herdou de família, como a sua marca denuncia: Oma Anna. A guabirubense juntou o interesse pela cozinha com o amor pela vó e começou a fazer os doces em 2015.
“São as mesmas receitas que eu comia quando ia à casa da minha oma quando era criança”, conta. Os doces da avó já eram bastante conhecidos na cidade, por isso a neta aproveitou para divulgar, inicialmente, entre pessoas mais próximas.
O de cuca de mel acho que ninguém tem por aqui. Se eu liberar, todo mundo vai fazer. Essa receita vai ficar bem guardadinha
O sucesso foi quase imediato. Hoje, Morgana recebe encomendas e já planeja se dedicar mais à atividade. Ela trabalha parte do dia no escritório de despachante de seu pai. A guabirubense diz que os doces seguem à risca as receitas da oma.
“Ela tinha dois livros de receitas, eu fiquei com um. Ela era cozinheira, trabalhou em casa de família de Brusque. Alguma coisa ela acabou trazendo dessas famílias, acho que é o caso da cuca de mel”, lembra.
Ela faz vários tipos de doces, mas a “joia da coroa” é a cuca de mel. O nome, à primeira vista, é estranho, mas o sabor conquista qualquer um, conta Morgana. A receita é muito popular na Áustria e na Alemanha.
“O de cuca de mel acho que ninguém tem por aqui. É um doce alemão-austríaco, bem tradicional, mas nunca vi por aqui. Se eu liberar, todo mundo vai fazer. Essa receita vai ficar bem guardadinha”, diz.
Doce sabor
Esmeralda Maria Kormann, moradora do Aymoré, é uma das guabirubenses que mantém viva essa tradição. Ela aprendeu a fazer geleia aos 16 anos, com a vó Alvina Boos, e com a mãe Iracema Boos foi se aperfeiçoando.
Se não tiver algumas com casca não é geleia. É para dar um gostinho especial
Hoje, faz semanalmente diversos sabores, principalmente de banana, tangerina, laranja, figo, pêssego, abacaxi, xinxim e carambola.
Esmeralda conta que aproveita as frutas da época, que tem em casa, para fazer a geleia. Em média, por ano, Esmeralda faz mais de 300 vidros de compota de geleia. Há dois segredos essenciais para uma boa geleia: o descanso de um dia para o outro das frutas e o tempo de cozimento.
A preparação exige cuidado e perícia. No caso da tangerina, é preciso descascar a fruta à noite, tirar a semente, cortar em pedaços e colocar num recipiente com água e deixar por aproximadamente cinco horas. Além disso, Esmeralda diz que a cada 12 tangerinas é preciso colocar duas com casca. “Se não tiver algumas com casca não é geleia. É para dar um gostinho especial”.
Vera Kistner, também moradora do Aymoré, faz geleia há mais de 20 anos para o consumo próprio ou para presentear os amigos. Algumas vezes ela acaba vendendo para vizinhos e para eventos.
São vários os sabores do doce que Vera produz: laranja, tangerina, abacaxi, jabuticaba, ameixa, pêra, banana, amora. “Faço praticamente toda a semana. Quando tem fruta eu aproveito”. Em média, são preparados cerca de 15 vidros por mês.
A moradora de Guabiruba conta que aprendeu a receita com sua patroa e se especializou em novas técnicas por meio do curso disponibilizado pela Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri). “A geleia é uma das receitas que eu mais gosto de fazer e quando se faz com amor as coisas dão certo”.
Assim como Esmeralda, Vera afirma que o segredo para que o doce fique saboroso é deixar de um dia para o outro num recipiente com água. “Pra não amargar, essa é a receita”.