Conversas Praianas – Avó bananeira
Nos dias movimentados da temporada, é comum ver passar a Banana Boat, aquele barco inflável, comprido como a fruta que lhe dá o nome. Rebocada por uma lancha voadeira, num vaivém constante, a banana amarela singra as águas da praia central de Balneário Camboriú até a Ilha das Cabras. Na sua garupa, leva uma dezena […]
Nos dias movimentados da temporada, é comum ver passar a Banana Boat, aquele barco inflável, comprido como a fruta que lhe dá o nome. Rebocada por uma lancha voadeira, num vaivém constante, a banana amarela singra as águas da praia central de Balneário Camboriú até a Ilha das Cabras. Na sua garupa, leva uma dezena de jovens banhistas montados que nem peão em rodeio, para viver a aventura praiana de uma fugaz viagem de minutos de emoção e adrenalina.
Na maior alegria de gritos e risos que só a juventude conhece, trançam as pernas, seguram a alça de corda como se fosse a rédea de um cavalo chucro e rasgam o mar ao meio, no desafio de enfrentar os corcoveios das ondas encrespadas e não cair daquele tubo de ar para lazer turístico.
Pois a banana de montaria era o assunto das septuagenárias da tribo A Vida é Bela do Alvorada do Atlântico. Com o quórum aumentado por meia dúzia delas vindas de Curitiba e do Oeste catarinense no feriadão de Páscoa, estavam ouvindo a chapecoense Maria Antônia contar sobre o incidente ocorrido na véspera com uma condômina que tinha feito um passeio na Banana Boat, instalada num canto da praia, junto ao píer do Pontal Norte.
— Vocês devem conhecer aquela mulher do vigésimo andar. Eu a conheço bem porque morou em Chapecó, até vir para cá. Ela deu de presente um passeio na banana para os netos. Três deles ainda não tinham a idade e era preciso a companhia de um parente. Pois não é que resolveu ir com os netos? Imaginem, ela diz que tem 75 anos, mas sei muito bem que já está batendo nos 80.
— Mal a banana começou a corcovear e a avó aventureira caiu no mar. Ficou assustada, gritando por socorro e que não sabia nadar. O piloto voltou para levá-la de volta. Mas, ela é teimosa que nem mula empacada, braba que nem jararaca. O jeito foi continuar. Mas não adiantou. A lança acelerou e ela caiu novamente no mar. Disseram-me que dessa vez, mesmo com colete salva vidas, afundava e vinha à tona, gritando desesperada.
— Dois netos mais velhos pularam n’água para ajudar a avó, obesa de quase cem quilos, se não é que esconde o verdadeiro peso como faz com a idade. A coisa ficou feia. O piloto e os netos queriam levá-la de volta. Mas, furiosa, aos berros que se ouvia na praia, insistia em continuar o passeio. Dizia que tinha pago e era um direito seu exigir o passeio de banana.
— Olha, o estrafego só terminou quando chegaram dois bombeiros e mandaram todo mundo de volta à praia. Ainda ameaçaram de interditar o negócio do pobre dono da banana, por levar criança e idosa num passeio de risco para a vida. Não satisfeita, a avó bananeira, como a estão chamando aqui no prédio, está dizendo que vai processar o dono da banana por danos morais.
— Sempre digo pro meu marido, neste prédio, nunca faltam notícias.