Conversas Praianas: Eles estão de volta
Milhares de argentinos estão cruzando a fronteira para passar as férias de verão nas praias de Santa Catarina. E boa parte deles continua preferindo Balneário Camboriú. Claro que não são tantos quanto aqueles milhões dos anos 1980, quando a praia parecia deles, de los hermanos argentinos. De dezembro a março, chegavam para lotar hotéis, pensões, alugar, comprar apartamentos para fazer a alegria dos comerciantes e empresários da construção civil.
Depois, por anos castigada pelas desastrosas administrações peronistas, a Argentina entrou numa profunda crise econômica e política, que se agravou cada vez mais por uma espiral inflacionária sem controle. E os argentinos que já haviam sido os europeus ricos desta atrasada América Latina, quem diria, ficaram pobres e desapareceram do nosso litoral.
Agora, estão de volta. Na praia, nas ruas centrais, nas cafeterias, nos supermercados e comércio em geral de Balneário Camboriú, tenho escutado muita conversa em espanhol. Dizem que muitos são paraguaios. No entanto, o sotaque portenho continua majoritário. Afinal, argentino sempre que tem algum dinheiro no bolso, decide botar o pé na estrada, de preferência, rumo às águas mais quentes do mar brasileiro.
Tenho escutado dizer que, agora, a maioria deles vem de ônibus e com o mínimo de dólares possível. Aproveitam o câmbio favorável, alugam casas e apartamentos de baixo custo, vão ao supermercado, fazem as refeições em casa ou levam o rango para um piquenique embaixo de um guarda-sol, olhando as ondas do mar da Dubai brasileira. Assim, em restaurantes e lanchonetes poucos gringos entram para comer.
No último sábado, estava eu caminhando pela avenida Brasil. Vi uma cena que mostra bem a saga e a disposição do turista para vivenciar novas aventuras. Num ponto de ônibus, um numeroso grupo de argentinos ali estava à espera do transporte coletivo e gratuito oferecido pelo município. Provavelmente, estavam indo para um passeio no barco pirata, no teleférico ou numa praia distante.
Ônibus de graça não são muitos nem se sabe quando chegam. Por coincidência, naquele momento passou um deles, completamente lotado com turistas viajando em pé. É claro que não parou e a gritaria em espanhol foi grande, inclusive recheada com alguns palavrões. Até o final da minha caminhada, observei que outros grupos de turistas também esperavam por um ônibus lotado para levá-los aos seus destinos de prazer e ócio. Com certeza, esperaram por muito tempo ainda.
Afinal, turista sobe e desce escadas, ladeiras e montanhas; enfrenta frio, calor, sol e chuva; caminha o dia todo, sem hora para descansar ou permanece em filas intermináveis e ainda suporta muitos outros sacrifícios. Tudo isso, apenas para satisfazer o instinto de curiosidade que só pode ser uma herança genética dos tempos em que o ser humano vivia com a casa ou a caverna nas costas, em busca de alimento e da sua sobrevivência.