Conversas praianas – Lar doce lar
Sentadas ao redor da mesa, no deque da piscina de um edifício em Balneário Camboriú, mas que poderia ser de qualquer outra cidade praiana brasileira, mais de 9 mil quilômetros de sol, praia, areia, mar e ócio para os abonados ou a elite deste país de contradição social muito maior que nossa extensa faixa litorânea […]
Sentadas ao redor da mesa, no deque da piscina de um edifício em Balneário Camboriú, mas que poderia ser de qualquer outra cidade praiana brasileira, mais de 9 mil quilômetros de sol, praia, areia, mar e ócio para os abonados ou a elite deste país de contradição social muito maior que nossa extensa faixa litorânea , um grupo de mulheres conversa sobre coisas da vida doméstica, do recanto eufemisticamente chamado de Lar doce Lar. São mulheres da geração que quase não fala de política nem de futebol, muito menos da crise econômica, que parece passar longe das preocupações dessas senhoras da classe média alta e da elite brasileira.
Assim, o assunto preferido, nessa roda de conversa feminina, ainda fica conta da economia doméstica, dos filhos, dos netos, dos maridos atuais ou passados. Uma delas, sexagenária avó curitibana, envergando um biquíni floral, com visual de quarentona neste tempo de plásticas e silicone, dizia para as colegas que seu apartamento estava virado de pernas para o ar, banheiros e quartos entupidos de roupa jogada no chão, pia da cozinha cheia de pratos e talheres sujos, uma bagunça geral.
O motivo, suas duas filhas casadas, genros e três netos tinham chegado para passar as festas de fim de ano e iriam continuar por mais alguns dias. A rotina cotidiana do velho casal tinha sido completamente quebrada pelo agito sem disciplina nem horário da prole familiar. “Imaginem vocês, minhas filhas disseram que querem curtir as férias, sem compromisso nenhum com hora para levantar ou para comer. Nossos fusos horários não coincidem. Ao contrário, são completamente opostos. Nós nos levantamos antes das oito horas para o café da manhã e a caminhada na praia, antes do sol e do calor. Eles se levantam depois do meio dia, já sol a pino, quando eu e meu marido estamos nos preparando para o almoço”.
Revelando certa contrariedade com a quebra da ordem doméstica, mas resignada, toda mãe e avó sabem cultivar muito bem essa virtude chamada resignação, a sexagenária veranista descreve com detalhes a bagunça na cozinha, transformada em verdadeira praça de alimentação. Com tristeza, diz que “é uma confusão geral. Cafeteira e panelas sobre o fogão, xícaras e pratos sobre a mesa, em meio a pães, queijos, geléias, carnes, maionese e saladas.
A velha geração quer almoçar, mas a nova ainda está quebrando o jejum, com sucos, frutas, cereais, cafés e tostadas. Afinal, a juventude também não é de ferro e merece alimentar o corpo, antes de partir para aproveitar a metade do dia não desperdiçada pelo sono matinal da preguiça e da ociosidade.
Então, lembrei do ditado popular: “Família reunida, paz comprometida.”