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Conversas Praianas – O Primeiro Casamento de Maria Fernanda

No grupo de conversas de fim de tarde, as mulheres do Alvorada do Atlântico estavam escutando a história do primeiro casamento da chapecoense Maria Fernanda. — Foi um fracasso, um terrível inferno. Eu era muito nova e inexperiente. Noivei já com o primeiro namorado e acabei ficando grávida. O jeito foi casar. Namorada ou noiva […]

No grupo de conversas de fim de tarde, as mulheres do Alvorada do Atlântico estavam escutando a história do primeiro casamento da chapecoense Maria Fernanda.

— Foi um fracasso, um terrível inferno. Eu era muito nova e inexperiente. Noivei já com o primeiro namorado e acabei ficando grávida. O jeito foi casar. Namorada ou noiva despetalada ficava marcada como moça “malfalada, malvista”. Era uma desonra que precisava ser resolvida pelo casamento. Se o desbravador da virgem fugisse do dever de reparar aos pés do altar o mal causado, corria o risco de ser morto pelo pai da donzela deflorada.

— No cemitério da cidade, havia até algumas sepulturas de ex-futuros genros, que pagaram com suas jovens vidas o preço do prazer e da ousadia de terem rompido as peias dos costumes e da moral. Tudo porque a mulher era criada e educada para se casar virgem, ter filhos e ser uma boa esposa, submissa e fiel ao marido. Assim era na minha época.

— Quanto ao meu noivo, não foi preciso pedir nem obrigar, muito menos apontar uma arma. O malandro se confessava apaixonado e doido para se casar comigo. E eu, uma jovem cheia de sonhos e ilusão, também achava que o casamento seria uma maravilha. Só depois de três meses é que fui conhecer o verdadeiro cafajeste com quem tinha me casado. A gravidez começou a aparecer, a barriga a crescer e o devasso só voltava para casa tarde da noite, sempre com a mesma história de que trabalhava até aquela hora.

— O safado era advogado e tinha uma conversa que até me convencia. Hoje, nem sei se, realmente, acreditava naquela ladainha de mentiras diárias. Mas, grávida e sem emprego para ganhar a vida, fui tolerando e me acostumando com aquela vida de humilhação e enganação. No fundo, o que me prendia mesmo era a ideia de que estava para ser mãe. Quando nasceu o nosso primeiro filho, o devasso só chegou depois que a criança já estava no berçário. Tinha esperança que a criança mudasse o comportamento do pai. Mas, não há milagre que mude a cabeça de um depravado.

— Veio nosso segundo filho e a coisa só foi piorando. Então, falei com meus pais, meus irmãos e resolvi me separar. Felizmente, o divórcio foi amigável. O cafajeste há muito tempo tinha uma amante. A pensão foi uma miséria. Ele enganou até o juiz do processo. Enfrentei dificuldades de todo o tamanho para sustentar as crianças. Só não passei fome porque comecei a trabalhar e meus pais me ajudaram bastante.

— Diz o ditado que Deus fecha uma janela e abre uma porta. Três anos depois, conheci meu segundo marido, um comerciante bem de vida. Pra minha sorte, era o avesso do primeiro. Foi bom demais e, até a sua morte, sempre me tratou como uma rainha. Desde que o conheci, passei a ser gente. Até me considero rica, pois tenho condições de viver um tempo em Chapecó e outro aqui na praia.