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Conversas praianas: o sexagenário

Sol forte de verão é convite para uma boa conversa no deque da piscina do Condomínio Alvorada do Atlântico. Um grupo de mulheres, dessas que não gostam de falar de idade, porque estão cruzando o cabo dos 70 anos desta vida cheia de prazeres e de tristezas sem fim, está numa conversa animada. Elas falam […]

Sol forte de verão é convite para uma boa conversa no deque da piscina do Condomínio Alvorada do Atlântico. Um grupo de mulheres, dessas que não gostam de falar de idade, porque estão cruzando o cabo dos 70 anos desta vida cheia de prazeres e de tristezas sem fim, está numa conversa animada.

Elas falam sobre tudo, especialmente, sobre as coisas do lar. Falam dos homens, dos seus maridos, companheiros de longos anos e, também, do marido da outra. Afinal, curiosidade é nome feminino e é preciso estar bem informada sobre a vida alheia.

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A conversa dessa manhã segue entusiasmada, sem hora para terminar porque férias na praia de BCamboriú é tempo sem relógio, é ócio sem tamanho. Então, uma veranista de Chapecó, dessas de dois meses de temporada – depois dos 70, a vida é um feriado contínuo – perguntou para as amigas:

Quem é aquele velho careca, de sunga cavada, sentado na borda da piscina, com aquela enorme corrente de ouro no pescoço e uma grossa pulseira em cada braço? Tanto ouro é um perigo, se entrar n’água pode afundar. É um novo condômino? Nunca vi essa figura aqui no prédio.

Uma amiga, moradora permanente do condomínio, respondeu de pronto: você já deve ter visto essa figura, sim. É o morador do 25º andar. Você não o está reconhecendo porque ele não pintava de marrom o que restou dos cabelos.

Agora, chegou com esse visual de sarará. No ano passado, estava com outra mulher, bem mais velha, mais ou menos da idade dele. Não sei se era a primeira. Os filhos, já casados, também frequentaram a piscina algumas vezes.

Neste verão, o correntista de ouro, como apelidamos aqui no deque, apareceu com essa loira escandalosa, que está ao seu lado. Vive se exibindo para os homens aqui do condomínio.

Não tem 30 anos, usa um fio dental que não esconde nada e está causando um maremoto na piscina, que transborda de tanta gente tomando banho. Muitos homens do condomínio, que não apareciam por aqui, resolveram entrar na água. Já avisei pro meu marido não se meter a bobo, porque armo um barraco daqueles.

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Uma outra veranista disse que, no condomínio, só sabem que o sexagenário é vendedor de carros importados e reside em Curitiba, lugar de gente de nariz empinado, que passa sem olhar e sem cumprimentar as pessoas.

Agora, estou convencida de que essa gente de Curitiba pensa que tem o rei na barriga. Principalmente, depois dessa tal de Lava-Jato. Eles acham que vai livrar o Brasil do câncer da corrupção.

Meu marido foi conversar com ele. Queria apresentá-lo aos demais condôminos e ele fez questão de dizer que, por enquanto, preferia ficar sozinho para dar atenção à nova companheira. É assim, os homens tratam mal a primeira mulher.

Quando se apaixonam por uma mais nova, esquecem a promessa sagrada aos pés do altar, abandonam a casa e a família e ficam bobos, viram petecas nas mãos da boneca que só tem olhos para a conta bancária e o cartão de crédito do velho.