Conversas Praianas: Pirotecnia da Ilusão
Apesar de toda a propaganda oficial turbinada até por uma canção sertaneja, a verdade é que não desceu tanta gente, tanto turista em Balneário Camboriú para a virada do ano, nem para o veraneio que está acontecendo. Esperava-se muito mais. Os comentários boca a boca, essa espécie de ibope popular, garantem que menos gente deixou […]
Apesar de toda a propaganda oficial turbinada até por uma canção sertaneja, a verdade é que não desceu tanta gente, tanto turista em Balneário Camboriú para a virada do ano, nem para o veraneio que está acontecendo. Esperava-se muito mais. Os comentários boca a boca, essa espécie de ibope popular, garantem que menos gente deixou suas cidades para veranear na Dubai brasileira. E isso deu pra ver pelo número de turistas na praia.
Ainda bem, porque não se repetiu aquele atropelo infernal, aquela confusão geral nem o caos do ano anterior, quando milhares de veranistas ficaram horas e horas sem poder se movimentar nem sair dos seus carros, parados nas ruas e avenidas entulhadas de veículos. De qualquer forma, não se pode negar que muita gente chegou para ocupar os milhares de apartamentos, movimentar bares e restaurantes e entulhar as ruas de automóvel.
Nessa última virada do ano, terminado o costumeiro show pirotécnico, felizmente as pessoas puderam se movimentar e os carros circularam sem aquele engarrafamento de cinco a seis horas da primeira madrugada de 2024. Não foram poucos os que começaram o ano passado atravancados numa via pública, uns cochilando, outros esbravejando no interior de um veículo.
Seguindo a rotina praiana, na última noite de 2024, muitos turistas repetiram a romaria rumo à praia que, depois do alargamento, tem muita areia e nem tanto veranista. Tomada por uma onda sensitiva de emoções e curiosidade coletiva, a multidão ali estava para assistir ao show pirotécnico e curtir alguns minutos de sonho, ilusão e fantasia.
Do alto, de tantos celulares ligados para filmar os ares incandescentes acima das ondas do mar, a praia mais parecia um pedaço do céu pontilhado de milhares de estrelas, brilhando nas mãos invisíveis de veranistas perdidos no meio escuridão.
A festa de luzes e centelhas multicoloridas cadenciadas pelos estrondos dos rojões, não custou barato. Afinal, alimentar luminosas ilusões custa caro. Foram quatro milhões de reais queimados em quinze minutos. As autoridades sabem muito bem que o povo gosta de festa, de pão e circo. Assim, acreditam eles que qualquer despesa se justifica, desde que para beneficiar uma multidão extasiada, inebriada, tomada pela emoção e pelo êxtase contagiante, diante da maravilha de um quadro pictórico desenhado a luzes, faíscas e cores de todos os matizes nos céus da badalada praia catarinense.
É assim. Virou moda queimar fogos na passagem de ano para iluminar os céus de muitas cidades brasileiras com um foguetório de luzes coloridas e faíscas cintilantes, ao som do ribombar de possantes rojões. Virou até competição entre prefeitos, a fim de ostentar o prêmio do mais grandioso show de queima de fogos da ilusão do país do futebol, do carnaval, corrupção e, agora, também da pirotecnia da ilusão.