João José Leal

Promotor de Justiça, professor aposentado e membro da Academia Catarinense de Letras - [email protected]

Conversas Praianas – Sexagenárias Zap-Zap

João José Leal

Promotor de Justiça, professor aposentado e membro da Academia Catarinense de Letras - [email protected]

Conversas Praianas – Sexagenárias Zap-Zap

João José Leal

Na mesa de uma cafeteria de Balneário Camboriú, a conversa está animada. Afinal, veranista em férias, curtindo a paisagem marinha, o sol e a praia não tem porque se queixar da vida. Residentes em cidades diferentes, essas mulheres só se encontram no verão e nos feriadões, sustentando uma amizade ocasional. Quase não falam de política, assunto que entra na pauta da atual geração de mulheres, que quer igualdade políticoeconômica e deixa, quando muito compartilha, os afazeres da economia doméstica para os maridos.

Essas mulheres da classe média alta, sexagenárias, já chegaram à terceira idade. Fazem parte daquela geração feminina, criada e educada para o casamento, para cuidar dos filhos e das coisas do lar. Por isso, ainda se dedicam à família, especialmente, aos netos, atuando como uma espécie de mãe açucarada, não apenas na voz, mas também nas mãos cheias de guloseimas para atender aos interesses e desejos infantis.

No entanto, neste novo tempo de tessitura digital, de vida pautada pela cibernética, de domínio total das nossas ações e pensamentos pela rede infinita chamada internet, essas avós da geração do Lar Doce Lar não escaparam ao chamado irresistível do Face e do Whatsapp. De telefone na mão, essas sexagenárias ainda conversam sobre as coisas da vida doméstica. Mas, também, sobre a interminável onda de mensagens verdadeiras ou falsas, a infinitude de fotos e vídeos que circulam no mundo virtual da telinha mágica desse esperto aparelho móvel.

Nascimentos e batizados, festas aniversários e de casamento, fotos de viagens e da família, doenças e mais a morte de amigos e parentes, tudo isso e muito mais, elas tomam conhecimento por essa rede infinita de comunicação virtual. Essas mulheres, que viveram grande parte de suas vidas para servir ao marido e aos filhos, confinadas ao espaço do lar, das coisas da vida doméstica, agora, vivem de telefone nas mãos, conectadas ao Face e Zap-Zap e já não olham mais para as colunas sociais dos jornais impressos.

Democraticamente, essa fantástica rede de comunicação social abriu espaço para que todos, inclusive essas mulheres-avós mostrem seus corpos em poses e trejeitos ensaiados, suas roupas de festa e seus rostos-botox na telinha mágica da vida virtualizada. Afinal, quem consegue, hoje, viver fora dessa bolha cibernética que envolve a todos humanos, que pensam ou imaginam existir?

Penso que, se o filósofo Descartes vivesse nesse novo tempo virtual, certamente, mudaria sua secular frase para dizer: “Penso, logo estou conectado”.

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