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Conversas praianas: supermercado e butiques

É tempo de veraneio. No deque da piscina do imponente edifício Alvorada do Atlântico, 32 andares de ferro, cimento e vidro, formam-se grupos para descontraídas e alegres conversas de temporada. Um desses grupos é de mulheres vindas de cidades do Oeste catarinense, gente com pouco tempo para ficar. Pertencem a essa tribo de veranistas, aves […]

É tempo de veraneio. No deque da piscina do imponente edifício Alvorada do Atlântico, 32 andares de ferro, cimento e vidro, formam-se grupos para descontraídas e alegres conversas de temporada. Um desses grupos é de mulheres vindas de cidades do Oeste catarinense, gente com pouco tempo para ficar. Pertencem a essa tribo de veranistas, aves de arribação de alegre chegada e silenciosa partida e a ordem é curtir ao máximo as férias de verão, a ociosidade do curto período de veraneio.

A conversa vai animada e uma delas, chapecoense, da terra do Índio Condá, já sessentona, avó quase beirando os 70, perguntou para as outras:

– Os maridos de vocês também vão ao mercado fazer compras?

Nem esperou a resposta e já foi dizendo:

– O meu, desde que casamos, não me deixa ir a mercado. No início, nem havia supermercado em Chapecó. Eram aquelas vendas e bodegas, onde se vendia de tudo, até cachaça em copo. Ele dizia que, em lugar de bêbado de balcão, mulher não botava os pés. Na verdade, o que ele tinha era ciúmes de mim. Era nova, bonita e os homens não tiravam os olhos de cima mim, nas poucas vezes em que eu saía de casa. Vieram os filhos, a velhice chegou e, agora, tenho minha liberdade. Agora, nem meu marido olha pra mim.

– Então, agora, tu vás ao supermercado? Perguntou uma das amigas, veranista de Xanxerê.

– Nada disso. De tanto ir à venda, no começo, meu marido acabou se acostumando. Diz que não sei fazer compras em supermercado. Para ele, as frutas que eu compro nunca são boas. Ou estão verdes ou podres. As verduras, não sei escolher as mais frescas. As conservas, os enlatados e embutidos, diz ele, que eu esqueço de olhar o prazo de validade. É uma rotina, um autêntico ritual do alimento. Todo dia, meu marido sai do consultório, passa no Celeiro, que considera o melhor supermercado da cidade e chega em casa com as sacolas cheias.

– Para dizer a verdade, nunca me preocupei mais com o abastecimento da casa. Afinal, sobramos só nos dois e, agora, não vale a pena discutir sobre laranjas, tomates e presuntos. Então, aproveito minha liberdade conseguida à custa de longa espera, muita resignação e cabelos brancos, tinturados num acaju para disfarçar o visual. Vejo o limite do meu cartão de crédito e saio às compras, nas lojas de grife e butiques de Chapecó. E, agora, no veraneio, visito todas as butiques de Balneário Camboriú.