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Conversas Praianas: a vida é uma beleza

Nestes últimos dias de primavera, pandemia dando trégua para os brasileiros festejarem Natal e final de ano, tarde encalorada parecendo verão brabo, a piscina do condomínio Alvorada do Atlântico está movimentada. Numa mesa, as veranistas de Chapecó estão numa conversa animada. Mesmo com o calor forte, a cuia de chimarrão não pode faltar. Afinal, para […]

Nestes últimos dias de primavera, pandemia dando trégua para os brasileiros festejarem Natal e final de ano, tarde encalorada parecendo verão brabo, a piscina do condomínio Alvorada do Atlântico está movimentada. Numa mesa, as veranistas de Chapecó estão numa conversa animada. Mesmo com o calor forte, a cuia de chimarrão não pode faltar. Afinal, para essa gente oriunda das terras gaúchas, roda de conversa sem chimarrão é procissão sem santo no andor, é churrasco sem sal, Grenal sem gol e sem briga.

Maria Aparecida é nova na turma. De pais ricos, casada com um médico dono de uma grande clínica na Capital do Oeste, nunca precisou trabalhar. Gosta de festa, de roupas de butique, de jantar em bons restaurantes e de viajar para o exterior, prazer agora proibido pela maldita covid. Para ela, ao menos é o que tem dito com frequência, a vida é uma beleza, um passeio em meio a uma paisagem sempre colorida.

Algumas amigas já a conheciam em Chapecó, mas, todas estão curiosas sobre o modo de vida da nova companheira de veraneio e chimarrão. Afinal, no grupo não se pede passaporte. Mas, sempre é bom saber quem está na roda chupando a ponteira da bomba para sorver a erva amarga. Então, disse ela:

— Não sei se vocês acordam cedo. Eu só me levanto depois do meio-dia. E sempre de mau humor, de cara amarrada, irritada comigo mesma. Já quando solteira, minha mãe sempre reclamava. Mas, meu pai falava para deixar os filhos dormir o quanto quisessem. Dizia que bastava ele acordar cedo todos os dias. Quando casei, meu marido sabia disso e nunca se importou com minha preguiça, o meu “dolce far niente”. Para ele, médico tem que fazer um bom patrimônio enquanto é jovem e pode trabalhar duro.

— Quando novo, saía cedo para a clínica, a primeira especializada da cidade. A gente só se via ao meio-dia. Quando ele voltava para o almoço, eu estava na minha primeira refeição do dia. Nossos fusos horários nunca coincidiram. Nem agora, quando os dois filhos estão administrando a clínica. Meu marido vai lá todas as tardes. De manhã, não perdeu a mania de acordar cedo. Levanta, toma o seu café, assiste à TV, vai ao mercado e, passa o resto do tempo em frente ao computador.

— Sempre tivemos duas empregadas domésticas e elas faziam tudo. Eu só começava a tomar conhecimento do que se passava na casa, depois do meio-dia, quando os filhos pequenos estavam voltando da escola. Então, eles almoçavam com o pai e eu tomava o meu café. Nunca fiz questão de almoçar. De tarde, faço um lanche.

— Olha, para mim, a principal refeição é a da noite. Sempre que meu marido pode me acompanhar, saímos para jantar fora. Mas, com marido ou sem marido, adoro restaurante. Não dispenso uma boa janta até tarde da noite. Oh! E já fiquem sabendo, prá não perder o costume, vou jantar esta noite na Casa da Garoupa. Não é pelo peixe, que não gosto muito. Mas, pela conversa, até que o garçom comece a virar as cadeiras sobre as mesas.