Cooperativas de crédito têm mais de 40 mil associados em Brusque
No primeiro semestre de 2015, o volume de ativos do cooperativismo cresceu 10% no Brasil
Mais de 40 mil pessoas fazem parte de cooperativas de crédito em Brusque. O número, expressivo para uma cidade de 122 mil habitantes, mostra o bom momento vivido pelo cooperativismo financeiro. De acordo com dados do Banco Central (BC), no primeiro semestre de 2015, o volume de ativos (soma dos bens) do Sistema Nacional de Crédito Cooperativo (SNCC) cresceu 10%, atingindo R$ 221 bilhões, em relação a dezembro de 2014. Enquanto isto, o Sistema Financeiro Nacional (SFN) – bancos convencionais – teve aumento de 4%.
Ainda segundo o BC, nos primeiros seis meses deste ano as cooperativas de crédito receberam R$ 108 bilhões em depósitos, incremento de 10% em relação ao fim do ano passado. Em contraste a isto, os bancos tradicionais mantiveram a margem de 1% de crescimento. Estes números por si só demonstram que o cooperativismo financeiro é a bola da vez, ainda mais neste momento em que os juros têm subido constantemente, o que encarece financiamentos, cheque especial e outros serviços financeiros. Com taxas e juros mais módicos, as cooperativas têm despertado o interesse dos brasileiros.
Em Brusque, operam três das maiores cooperativas do estado: a Viacredi, pertencente ao sistema Cecred, a Blucredi, do sistema Sicoob e a Sicredi. A primeira está presente em Brusque desde 2011 e conta com 14 mil cooperados na cidade, a segunda possui 6 mil. Já a Sicredi está no município desde 2008 e hoje conta com mais de 20 mil cooperados. Os responsáveis pelas três instituições financeiras projetam forte crescimento para o restante do ano na região.
A Viacredi é um exemplo do momento pelo qual passa o cooperativismo financeiro. O diretor-executivo da cooperativa, Vanildo Leoni, diz que a instituição financeira tem registrado crescimento na casa dos 30%. “Em Brusque, tem um crescimento superior [aos 30%] porque a nossa presença é mais recente”, afirma o executivo.
Ao todo, a Viacredi possui, aproximadamente, 340 mil associados em municípios do Médio Vale, sobretudo, em Blumenau, sua cidade-sede, Indaial e região. Leoni diz que Brusque já representa uma praça importante para a cooperativa. O município, aliás, já se apresentava promissor em 2011. Foi quando a Viacredi absorveu a estrutura da AcrediCoop, que também pertence ao sistema Cecred e mudou a sua atuação para a região de Joinville. “Claro que pesou nessa decisão o potencial de crescimento em Brusque”, diz.
A Blucredi faz parte do Sicoob, um sistema que congrega mais de 500 cooperativas em todo o Brasil e possui cerca de 2,8 milhões de cooperados e com isso é a sexta maior rede do sistema financeiro no Brasil, incluindo os bancos convencionais. Jean Batistela, superintendente regional da Blucredi, diz que o SNCC passa por “um momento de consolidação”. “A Blucredi vem crescendo também, com 6 mil cooperados e duas grandes agências em Brusque”, afirma. Mensalmente, a instituição movimenta R$ 500 milhões de seus cooperados, que estão espalhados pelos vales do Itajaí e do Itapocu e pelo Sul catarinense.
Já a Sicredi conta com mais de 3 milhões de associados, presente em 11 estados brasileiros com mais de 1,3 mil pontos de atendimento. Recentemente foi assinando um memorando que ampliará a presença do Sicredi para 20 estados brasileiros (expansão para a região Norte e Nordeste do Brasil). O gerente da unidade de atendimento de Brusque, Roberto Veneri, destaca que em 2014 foram distribuídos mais de R$ 1,1 bilhão de sobras (lucros) aos associados, ficando estes valores nas comunidades onde foram geradas. “Crescemos muito, de modo especial entre as empresas, por possuir produtos e serviços bem competitivos, e com preços adequados. Também tem se destacado no atendimento as pessoas físicas, haja visto que a cooperativa é de livre admissão e tem nos seus produtos um grande diferencial”, destaca.
Solidez gera confiança das pessoas
O principal motivo para o crescimento do cooperativismo é que a população têm tido mais acesso à informação sobre esta modalidade de instituição financeira, na opinião dos executivos das duas cooperativas. “O bom momento passa por mais regulamentação da atividade de cooperativas financeiras”, afirma Jean Batistela, superintendente da Blucredi Sicoob. Com regras mais claras estabelecidas pelo Banco Central, as pessoas passaram a ter menos medo de que em caso de falência elas ficariam a ver navios, sem o seu dinheiro.
O executivo da Blucredi diz que um exemplo de que o Banco Central leva a sério as cooperativas de crédito é que o presidente do banco, Alexandre Tombini, lançou o desafio para elas alcançarem 10 milhões de associados. “Temos 7,5 milhões atualmente, alcançar 10 milhões não é muito difícil”, diz Batistela.
As cooperativas são regulamentadas assim como os bancos, isto significa que elas devem ter dinheiro de reserva para pagar os correntistas em caso de falência. Também são obrigadas a fazer parte de um fundo garantidor para depósitos. Ou seja, caso uma instituição deste tipo feche, o fundo cobre o dinheiro depositado por todos, evitando prejuízos.
Mais proximidade é atrativo
Em termos de serviços, não existe distinção entre o que é oferecido por bancos e cooperativas. As diferenças, na prática, podem ser resumidas em dois pontos: mais proximidade entre a instituição e a pessoa e as taxas mais baixas. Não por acaso a palavra “cliente” não foi usada até o momento nesta matéria. No cooperativismo, não existe a relação banco-cliente. Os cooperados, são, em tese, donos da cooperativa, assim como os executivos. Na assembleia, que é soberana e decide o futuro da instituição, todos têm direito a um voto.
O diretor executivo da Viacredi, Vanildo Leoni, diz que as cooperativas têm uma “relação de mais fidelidade”. O segundo ponto, em tempos de crise e em um dos sistemas bancários mais caros do mundo, é o mais atrativo. “Os juros são menores porque as cooperativas trabalham com margens mais adequadas, pois não visam o lucro”, explica.
No caso das cooperativas, o objetivo, diz o executivo, é manter saudável sua situação financeira, e não o lucro. Com isso, as estruturas são mais enxutas do que a dos bancos e com melhor custo-benefício, afirma Leoni. Batistela, da Blucredi, afirma que no ano passado os cooperados da Blucredi deixaram de pagar R$ 7 milhões em taxas, se comparado com os bancos convencionais. “Isto dá uma média de R$ 130 por CPF ou CNPJ, não é muito, mas é um dinheiro que a pessoa pôde usar para comprar um sapato novo”, afirma.