Corredora completa prova levando sobrinho cadeirante e com hidrocefalia
Anna Luiza Cardoso guiou o afilhado durante os 5 km da Corrida Rústica da Polícia Militar
Quem acompanhou os primeiros anos de vida de Daniel Cardoso Filho dificilmente acreditaria que, aos 9 anos, ele cruzaria a linha de chegada de uma prova de corrida. Daniel nasceu prematuro, com 26 semanas de gestação, pouco mais de seis meses, e com hidrocefalia – acúmulo de líquido no crânio que ocasionou redução da capacidade motora e dificuldade na comunicação.
Mas com a ajuda de sua tia e madrinha, Anna Luiza Cardoso, o impensável se tornou realidade. A atleta disputou a 3ª edição da Corrida Rústica da Polícia Militar e, ao longo dos 5 km disputados, levou consigo um entusiasmado Daniel, de ponta a ponta. “Foi uma das coisas mais emocionantes da minha vida, poder proporcionar momentos de alegria ao meu sobrinho. Agora já estamos pensando em mais competições, onde eu puder irei levá-lo”, diz Anna.
Treinos e dia de prova
Essa foi a primeira vez que o garoto participou de uma competição acompanhado da madrinha. A dupla treinou antes da competição para ter uma dimensão das dificuldades que enfrentariam. “Com a hidrocefalia ele ficou com a cabeça amolecida, e meu medo era que isso atrapalhasse de alguma forma, mas ele mesmo conseguiu se segurar sozinho na cadeira e deu tudo certo”, diz.
“Foi uma das coisas mais emocionantes da minha vida, poder proporcionar momentos de alegria ao meu sobrinho. Agora já estamos pensando em mais competições, onde eu puder irei levá-lo”, Anna Luiza Cardoso
No dia da prova, uma chuva caiu e quase comprometeu os planos de Anna e Daniel. Mas o corajoso jovem aceitou as condições e completou o desafio com louvores. “Ele estava muito feliz. Mesmo tendo dificuldades para falar, dava para ver no sorriso e nas expressões dele que ele gostou muito de participar”, completa Anna.
“É a nossa semente de amor”
A hidrocefalia não foi o único dos obstáculos que os pais de Daniel, Daniel Cardoso e Ana Carolina Padoan Cardoso, tiveram que ultrapassar. Durante sua infância, ele passou por quase 30 cirurgias, além de ter sobrevivido a três meningites. Para a mãe, Daniel é um exemplo de alguém que luta pela vida. “A história dele é maravilhosa. Ele superou todos os problemas, e por onde passa leva muita alegria às pessoas. É a nossa semente de amor”.
“A história dele é maravilhosa. Ele superou todos os problemas, e por onde passa leva muita alegria às pessoas. É a nossa semente de amor”, Ana Carolina Padoan Cardoso, mãe de Daniel
Os pais de Daniel sempre tiveram atitudes inclusivas com seu filho. Ele os acompanha em caminhadas, passeios e frequenta a escola. Portanto, quando a madrinha Anna surgiu com a ideia de participar da corrida, não houve nenhuma objeção. “Tentamos apoiar nele em tudo que possa fazer, dentro dos limites. Quando vimos que estava chovendo, eu falei pra ele que todos estavam correndo na chuva, por isso ele também iria. Essa experiência foi bem legal, ele agora exibe a medalha que ganhou para os colegas da escola”, diz Ana Carolina.
Durante a prova, o apoio dos participantes e dos espectadores foi sentido na pele. A mãe de Daniel revelou que foi difícil, para quem acompanhou a trajetória até a medalha obtida pela dupla, conter as lágrimas. “Quando ele recebeu o prêmio, dava para ver as pessoas próximas muito emocionadas”, diz.
Hidrocefalia
A hidrocefalia é o acúmulo excessivo de água nas cavidades internas do crânio, que leva ao inchaço cerebral. Isso ocasiona um desenvolvimento anormal do sistema nervoso central, que pode obstruir o fluxo de fluido cerebrospinal – e isso é responsável pelo comprometimento da coordenação motora. É considerada uma condição rara.