Corte no bolsa-atleta faz professor encerrar projeto de atletismo em Brusque
Após 13 anos dedicados ao atletismo em Brusque, professor João Nunes anuncia saída por falta de recursos
Tricampeão dos Jogos Abertos de Santa Catarina (Jasc) como técnico da equipe feminina de atletismo, centenas de conquistas Brasil afora e inúmeros atletas revelados. Esse é o currículo do professor João Nunes. No celular, ligações de dirigentes de outros municípios interessados em seu trabalho, mas todos recebendo a negativa do instrutor que acreditou que, por mais um ano, seu projeto teria recursos suficientes para ser mantido em Brusque. Ledo engano: o valor de bolsa-atleta que a Fundação Municipal de Esportes (FME) ofereceu para seus competidores é quase quatro vezes menor do que um salário mínimo.
Com isso, somado ao fim do patrocínio master ainda em 2016, Nunes não encontrou outra alternativa e definiu sua saída de Brusque. Agora, a Associação dos Pais e Amigos do Atletismo de Brusque (Apaab) será desativada e os atletas que ainda integram o elenco não sabem o que será do futuro da modalidade dentro do município.
Recomeço
Ainda triste e saudosista, Nunes agora tentará recomeçar em Penha, cidade onde mora. O técnico de 60 anos já trabalha para montar uma pequena estrutura em bairro humilde da cidade litorânea. “Hoje estou aqui numa das escolas mais pobres de Penha, vendo uma forma de fazer uma caixinha para saltos, um espaço para as corridas. Eu prefiro começar tudo de novo do que continuar em Brusque”, diz. Nunes também está trabalhando com crianças especiais em Penha.
Depois de 13 anos dedicados ao esporte dentro de Brusque, Nunes desabafa contra a atual administração e o modo como o esporte é visto. “Me sinto humilhado. Demorou muito para que tivéssemos uma resposta da FME, e quando veio foi uma proposta muito abaixo do esperado. Disseram para eu dar R$ 100, R$ 200 para minhas atletas, e isso é indigno para uma menina que compete e defende o município”, diz.
Segundo Nunes, o recurso oferecido pela FME é de R$ 2,5 mil mensais para ser dividido entre dez atletas, sem apoio em outros gastos, como viagens ou pagamento de professor, e divididos em apenas oito meses. “Nós esperávamos que, pela nossa história e dedicação ao município, contássemos com pelo menos R$ 6 mil. Estão cometendo um grande erro”, diz.
Depois de atravessar diferentes gestões do esporte municipal, Nunes se diz grato pelo trabalho de alguns superintendentes, mas não todos. “Tem gente que eu sou grato e tem gente que não sou. Quero elogiar os ex-superintendentes Marcelo Cavichiolo, Alessandro Simas e Delmar Tondolo, somente”, completa.
A reportagem tentou contato com a FME, mas não obteve sucesso.
As conquistas
Os anos de 2013, 2014 e 2015 reservaram surpresas excelentes para a Apaab. Depois de muito bater na trave nos Jasc, sempre na luta pelas primeiras posições, finalmente o município conquistou, sob o comando de Nunes, o sonhado título do atletismo feminino.
Aí foram três anos da conquista de maneira consecutiva, sendo Brusque o atual campeão da modalidade. Em 2015 o sabor foi mais especial, porque além das atletas contratadas de fora do município, o elenco conseguiu acumular pontos com pratas da casa.
Mais importante do que os Jasc foi o trabalho da Apaab com a base. Em praticamente todos os anos a associação, defendendo o município, trouxe medalhas com atletas de Brusque e região. “Além disso fomos responsáveis pela formação de muitas pessoas que hoje estão inseridas no mercado de trabalho, na Marinha, no Exército. Sempre recebo mensagens de pessoas agradecendo pelo que proporcionamos”, completa o técnico.