Costureira desde os 8 anos, moradora de Brusque relembra momentos marcantes que viveu na profissão
Apesar de ter começado cedo na profissão, Marilene Ferrari não tinha costura como sonho
Apesar de ter começado cedo na profissão, Marilene Ferrari não tinha costura como sonho
Mesmo sem saber se gostaria de trabalhar como costureira, Marilene Ferrari de Melo, de 63 anos, dedicou praticamente a vida toda à prática. Natural de Lages, a moradora do bairro Azambuja passou por vários lugares até chegar a Brusque. Ao jornal O Município, ela contou parte dos momentos marcantes de sua vida.
Proprietária de um ateliê, ela conta que o que a levou para a área da costura foram suas bonecas de criança. Com 8 anos, a jovem não queria roupas comuns para suas bonecas. “Já queria fazer as roupas das minhas bonecas de uma forma diferente, com corte, não com aqueles buraquinhos normais que as crianças fazem”.
Apesar do controle sobre a máquina, Marilene não via a costura como profissão. Ela relata que não sabia o que iria fazer da vida. Durante o processo, seguiu estudando e costurando. Em outro momento, ainda com 11 anos, morou em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, e lá estudou em um colégio de freiras, onde aprendeu até a fazer sapatos mocassim. Lá também aprendeu a bordar, cortar e ampliar desenhos, assim como a prática do tricô.
Ao sair do Rio Grande do Sul, passou parte da infância em Tubarão, no Sul do estado, nessa época aproveitava as férias de verão em Florianópolis, nos anos 70. A menina de apenas 12 anos ficava responsável por confeccionar as roupas da família para as comemorações do Carnaval.
Apesar de não ser tão fã do tricô como a irmã, devido à demora para produção das peças, perto dos 20 anos, Marilene conseguiu uma máquina para confeccionar peças com o material. A costureira já era casada e mãe do primeiro filho, nascido em 1983. Com o tricô, seguiu até 1985.
Depois de encerrar as produções em tricô, Marilene recebeu um convite do irmão e da cunhada para montarem uma confecção em Florianópolis. Porém, o empreendimento foi fechado um ano depois. Após isso, passou a morar em Brusque e engatou em outra confecção, que também não durou muito. Com 25, a costureira passou a morar sozinha.
Com o fracasso dos últimos empreendimentos, Marilene precisava de emprego, foi aí que decidiu ir até um representante de Itajaí e levou três shorts como forma de portfólio. “Eu tinha que decidir alguma coisa na minha vida. Ou alguma coisa dava certo pra mim ou eu teria que retornar para a casa dos meus pais em Florianópolis”, disse. Alguns dias depois, acordou com diversos pedidos debaixo da porta de sua casa.
De acordo com ela, as vendas ocorreram em um período onde a presença de argentinos na região era muito grande e que os viajantes adoravam o tipo de short com saqueira. “Mas era uma época em que não tinha mão de obra especializada”. A costureira ressalta que a alta demanda dos pedidos produziu um grande estresse em sua vida.
“Era época de Natal, eu fui até Itajaí e agradeci o trabalho dele, pois ele foi excepcional. Acredito que até hoje ele seja um representante. E aí parei”.
Aos 26 anos, Marilene chegou a ser convidada pelo Senai para dar aulas de costura industrial. “Eu dei aula no Águas Claras por quase um ano. Foi muito bom, foi um aprendizado muito bom de como aprender a dar aula, a ter o contato de ensinar. Eu me apaixonei por essa profissão. Aí eles me convidaram para dar aula fora de Brusque, mas eu tinha o Matheus muito pequeno e como era um período muito longo, eu desisti, não fui mais”, relata.
Em seguida, passou por outra facção. Nessa, dedicou anos de trabalho. Hoje, aos 63, trabalha de forma terceirizada, com a ajuda dos filhos, na confecção de capas de carro.
No ateliê, nos fundos de sua casa, Marilene costura ao lado da filha Mariana e de sua vizinha Magali Maurici. O filho Matheus não costura, mas fica responsável por embalar, revisar e contar os produtos.
A confecção das capas ocorre durante as manhãs, pois durante o resto do dia a costureira se dedica na produção de peças por encomenda e outros pedidos. Entre eles, a Gincana do Cônsul e vestimentas para a equipe de patinação artística de Brusque.
A mãe conta que a ajuda da filha chegou durante a pandemia da Covid-19, em 2020. Ela conta que a filha é muito caprichosa e que trabalharam juntas durante um ano. Após isso, Mariana deixou de auxiliar a mãe e começou a trabalhar fora. Agora, novamente, retornou ao trabalho com Marilene por conta da faculdade e outras despesas.
Questionada se sente a obrigação de passar o bastão da costura para a filha, da mesma forma como recebeu de sua mãe, Marilene diz que prefere que os filhos façam suas escolhas. “Não vejo uma obrigação de passar isso para eles, mas é muito bom saber de coisas, de costura, até para o dia a dia”.
Os produtos que Marilene mais gosta de produzir são peças infantis. Já sobre seu trabalho, menciona que deve permanecer com a rotina de facção por pouco tempo, a costureira gostaria de voltar a dar aulas de costura.
Para os mais novos na área, ela indica para que não fiquem restritos a apenas um tipo de equipamento, mas que se aprimorem e aprendam a dominar as máquinas básicas.
“Em primeiro lugar, tem que gostar do que faz. Não procurar a costura só como um método de ganhar dinheiro, mas ter prazer. O prazer de ver uma peça tua pronta é muito bom. Saber que tem gente que elogia o teu trabalho, compensa qualquer dinheiro”, finaliza.
Desenvolvedor de Guiné-Bissau, na África, conheceu Brusque após contato no LinkedIn: